O Retrato de Dorian Hussein

Tpm

por Tania Menai

Quem mora no Ocidente e anda com uma camerazinha digital a tiracolo não tem noção do que é viver num lugar onde nada é retratado. Pior ainda é circular por uma cidade onde a única imagem são os portraits comissionados pelo próprio ditador, estilo “eu me amo, não posso mais viver sem mim”. Estamos falando dos bigodes de Saddam, ele mesmo, o Hussein.

Até o dia de sua queda, em abril de 2003, só dava ele nos murais e bustos da cidade. Mas em pouquíssimos dias tudo isso virou história. E a única pessoa que registrou esse fato foi o fotojornalista holandês Toen Voeten, que vive em Bruxelas. Ele chegou em Bagdá no dia 13 de abril de 2003. Rodou a cidade em três dias clicando as últimas imagens que restaram de Saddam. Muitas já tinham sido rasgadas, apedrejadas, semidestruídas. Hoje, elas evaporaram. As fotos, intituladas Saddam Mania, estão expostas na galeria Think Tank 3, numa esquina bucólica do West Village, até o dia 25 de novembro, e custam de 10 a 900 dólares.

“Estas são as únicas imagens que restaram. Só o Toen fez isso”, diz a curadora Sharoz Makarechi, que contou mais de 100 convidados na festa de abertura da exposição, na última quarta-feira. “A maior parte das pessoas era estrangeira. Pensando bem, faz sentido”, complementa. Com diploma em antropologia cultural, Toen é cidadão das piores cidades do mundo. Além de manter uma ONG em Serra Leoa, colabora para as revistas Newsweek, Vanity Fair, National Geographic e The New York, e também para a Cruz Vermelha, Human Rights Watch, Nações Unidas e Médicos Sem Fronteiras.

Em tempo: fronteira não é com ele.
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