O primeiro amor a gente nunca esquece

por Elka Andrello

A Gra disse bem baixinho, “good bye, sweetheart”


Fui deixada sozinha vestida de noiva no altar aos 2 anos de idade.

Chorei, chorei, chorei … e nunca me esqueci do Felipe, o meu primeiro amor. Era festa junina na escolinha e eu era a noivinha: vestido branco, véu, grinalda, batom vermelho e botinha ortopédica branca. O Felipe deu a “desculpa” de estar doente, com amigdalite e muita febre. E eu passei os primeiros anos da minha vida com febre, dor de garganta e tomando benzetacil na bunda. Carma, coinscidência, somatização ou coisa de criança?  Sei lá… Até hoje tenho pavor de vestido de noiva, tenho dor de garganta e às vezes ainda tomo na bunda (com o perdão da palavra).

As primeiras pessoas que eu e a Graziela conhecemos quando mudamos para o Nepal há quase um ano foram o James e a Ingrid.  O James tem a mesma idade que a Graziela, é filho da Ingrid, que é suíca, e do Lakpa, que é tibetano. Um fofo! Foi paixão à primeira vista. Os dois nunca mais se desgrudaram. Andam de mãos dadas, se abraçam e falam te adoro um para o outro. Durante esse tempo, todas as quartas feiras a Graziela foi brincar na casa do James e ele vinha até a nossa casa aos sábados.

Eles sempre foram tão fofos juntos, que o namoro deles virou comentário entre minhas amigas. Em um almoço, a Gra teve a cara de pau de virar para mim e a minha amiga Alex e chochar: “eu tenho namorado, vocês nãaaaooo”. Eu e a Alex chegamos a usar os pequenos como exemplo de namoro ideal. Sério!!! A gente até parecia aquelas tias velhas que não tem vida e falam da vida dos outros sem parar.

O James foi embora.

De uma hora para a outra ele precisou ir embora para a Suíça. Fomos até a casa dele para dizer tchau. Eles brincaram como sempre, e na hora de  ir embora se abraçaram. A Gra disse bem baixinho, “good bye, sweetheart”. Eu que sou dura na queda, tive que disfarçar os olhos marejados. Foi bem triste ver um amor tão puro acabar assim.

A Graziela está inconsolável. Todos os dias, assim que acorda, ela segura um desenho do príncipe da cinderela e canta o que até parece ser um fado: “Jameeeesss, meu coração está quebrado (tradução literal para broken heart), voltaaaaaaa meu amooorrrr. Sem você não vou mais ser feliz para sempreeeeeee”. E chora lágrimas de adulto. Lágrimas grossas, sofridas, que vem do fundo da alma. Eu tento explicar que tudo bem ela estar triste, mas que ela não vai se sentir assim para sempre. Outra pessoa especial vai aparecer na vida dela. Lógico que ela não quer nem saber, está com o James e não abre. Difícil falar sobre a impermanência com uma menininha.

A Graziela só tem 4 aninhos. Espero que muitos James apareçam na vida dela. E quando chegar a hora, que ele fique. E ela o deixe ficar.

 

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