Quem quer estar exposto na mídia dentro de um caixão?
Aqui estou defronte ao meu iMac, no dia em que o mundo (ou os sortudos que têm acesso à tecnologia e, mais sortudos ainda, acesso à Apple) chora a morte de Steve Jobs. Meu iPod Touch, meu iPod Shuffle, meu iMac e eu estamos todos devastados. A notícia veio ontem em meio a uma palestra a que eu assistia sobre jornalismo, em Manhattan, deixando todos quase sem palavras. Nessas horas, eu penso em como os americanos lidam com a mídia quando uma figura pública como Jobs se despede da vida. Desculpe a comparação, que sempre é inevitável, mas a mídia brasileira poderia aprender com eles.
Por mais brasileira que eu seja, nunca me conformei com câmeras de TV, fotógrafos, “fãs” (que na maioria das vezes são curiosos sem muito o que fazer) que se aglomeram em enterros de pessoas conhecidas, registrando cada olheira da família. Some a isso foto do caixão com o corpo à mostra. Não há coisa mais mórbida e, na minha opinião, desrespeitosa. Quem quer um fotógrafo de revista de fofoca ou lentes de uma emissora no enterro de um parente? Não há nada mais íntimo e sagrado do que um enterro.
Trata-se de um momento que deve ser reservado somente à família e aos amigos intimíssimos. Trata-se do momento de “closure”, como dizem os americanos; quando algo é concluído, selado. No caso, a vida de uma pessoa.
Jeans e camiseta
Steve Jobs faleceu. Tive a sorte de vê-lo ao vivo em Nova York em um evento em que ele lançava o casamento entre o iPod e o tênis Nike. Um cara de calça jeans e camiseta certamente não gostava de bafafá. O lance dele era inventar, saber que seus inventos mudariam a vida de milhares de pessoas. Dito isto, os jornais americanos não divulgaram detalhes sórdidos sobre a morte. Respeitaram o comunicado da família, não disseram onde o mestre será sepultado. Apenas celebraram sua vida, relembrando sua trajetória profissional, pedindo para leitores enviarem suas impressões sobre suas invenções, entrevistando especialistas. As fotos e as imagens do dia mostram as homenagens a Steve feitas nas lojas da Apple no mundo todo – nada de caixão, nada de viúva devastada, nada de multidão aglomerada em cemitério. Tudo foi feito com a nobreza do respeito a uma família de luto. Por que no Brasil não pode ser assim também? Vale a reflexão.
Tania Menai é jornalista, mora em Manhattan há 15 anos e é autora do livro Nova York do Oiapoque ao Chuí, do blog Só em Nova York, no site da Tpm e também do site.