O "cafona gostoso" de Mahmundi

por Carol Ito

Cantora lança o álbum ”Para dias ruins” e mostra em playlist suas influências para o disco, que vão de George Harrison a Norah Jones

Para dias ruins, terceiro trabalho da carreira de Mahmundi, 32, acaba de ser lançado com a proposta de ser uma pausa, um respiro em meio ao caos, com músicas que falam de amor e positividade. Baladas, reggae e afrobeat dão o tom do novo trabalho da cantora, que ficou conhecida por resgatar uma sonoridade oitentista em seu álbum anterior. “Toquei com um teclado velho, gosto dessas canções com refrão que repetem seis vezes, que são mais longas do que as de hoje. Acho esse cafona gostoso”, diz, sobre o novo trabalho.

Para dias ruins é seu primeiro trabalho lançado por uma grande gravadora (Universal), experiência que tem sido positiva, conta. “É uma nova era das gravadoras, com menos controle. Eu tô muito feliz por ter feito a produção do meu disco com o Lux Ferreira. Acho que se eu entrasse em uma gravadora nos anos 80 ou 90 teria um repertório feito por alguém, não teria a mesma liberdade.”

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Os “dias ruins” do título do álbum têm a ver com as reviravoltas da própria vida e com o cenário brasileiro. De volta ao Rio de Janeiro há um ano, depois de morar por quase dois em São Paulo, ela teve que encarar o clima tenso da cidade. “Na volta eu já estava com mais grana, morando na Zona Sul, mas ainda sou parada por blitz com policial apontando fuzil no meu rosto. Tive que aprender a lidar com dias ruins”, conta. “A morte da Marielle foi super difícil pra mim, tem  eleições este ano... E, ao mesmo tempo em que a gente pensa sobre algo, já está falando na internet, sem muito tempo pra refletir”, completa.

Com a projeção na carreira chegaram mais cobranças, internas e externas, e é isso que ela busca exorcizar em seu novo trabalho. “Essa coisa de ser mulher te faz carregar muita pilha, tem que ser guerreira sempre, é super cansativo, não é saudável pra gente. De repente, você pensa ‘nossa, que ótimo, tô trabalhando o dia inteiro’. Não queria isso pra mim, tem sido bom viver com mais calma."

Correria

Mahmundi saiu, literalmente, dos bastidores da música para subir ao palco. Ela trabalhou por sete anos como técnica de som no Circo Voador, no Rio, e pediu demissão em 2010. “Lembro que tava rolando um show da Pitty e eu tava montando o palco pra galera. Pensei: 'Se eu continuar montando palco para as pessoas, não vou estar nele um dia. Aí pedi demissão. Não sabia nada de nada, não tinha nem computador”, relembra.

Aos trancos e barrancos, fazendo sua própria divulgação pelo Myspace, ela lançou, em 2014, o EP O efeito das cores e, em 2017, o álbum Mahmundi, que lhe rendeu o WME Awards, em 2017, na categoria “melhor instrumentista”.

Com ajuda de amigos, começou a produzir as próprias batidas e a se entender como cantora: “Cantar está aparecendo. Tô ficando menos tímida, tocando menos guitarra e tenho mais pessoas colaborando comigo”, explica. No palco, ela tem a vantagem de perceber logo quando algo não sai como esperado: “Sou produtora musical e produzo uma artista que, no caso sou eu mesma, além de ser técnica de som. Sei quando as coisas tão dando errado. Não pilho, tento unir a galera pra que a coisa aconteça. Mas agora quero um diretor de palco [risos]”.

Marcela Vale escolheu para si o nome artístico Mahmundi, algo como “o mundo de Marcela”, logo no início da carreira. Mirando a carreira internacional, ela pesquisou como seria a pronúncia em outros países e viu que funcionava com a mesma sonoridade. “Às vezes, recebo umas mensagens de uns árabes perguntando ‘quem é você, Mahmud?’[risos]”. Eles aparecem no meu Facebook, é meio assustador. Só mando um coração porque não entendo nada”, brinca. 

No dia 25 de agosto ela vai cantar no show-tributo ao Cazuza promovido pelo Prêmio Trip Transformadores, no Parque Villa Lobos, em São Paulo, ao lado de Guizado, Karol Conka, Otto, Karina Buhr, Paulo Ricardo, Leo Jaime, Supla e Sergio Guizé.

A pedido da Tpm, Mahmundi criou uma playlist com músicas de artistas que foram referência durante a produção de Para dias ruins, que vão do beatle George Harrison passando por Céu até Norah Jones.

 

Créditos

Imagem principal: Edvaldo Santos

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