Ela é o centro dos olhares. E talvez a liberdade seja a responsável por fazer dela tão encantadora
Ao contar suas histórias, Louise Salomé, 28 anos, agarra a atenção das pessoas e não a solta mais. Ela é o centro dos olhares. E talvez uma única característica seja a grande responsável por fazer dela uma mulher tão sedutora: a liberdade. Em suas experiências de vida, os tabus vão caindo por terra, um a um.
Para começar, seu objeto de estudo no Mestrado em Filosofia da UFSC, a Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, é um tabu milenar: a relação entre sexo e religião. Louise parte da escultura barroca “O Êxtase de Santa Teresa” para estudar o erotismo, tema que lhe é bastante familiar e que, segundo ela, tem tudo a ver com o ato de vestir-se.
“Penso que o erotismo acontece nesse trânsito da veste para a nudez e vice-versa. Usamos roupas para nos proteger do frio e, além disso, para viver com os outros. Cobrimos nosso corpo com uma variedade de texturas, estampas e cores que apropriamos como se fossem outras camadas de pele. E não é próprio do vestir-se querer provocar o desejo do outro? questiona.”
A relação passional de Louise com as roupas tem reflexo direto nas suas escolhas de moda. Ela se veste com peças usadas “que não vêm de lojas e etiquetas, mas de outras pessoas”. Louise vê nas roupas a memória e a duração do tempo. “As pessoas se vão e as roupas permanecem como rastro”, observa. Irmã do meio de duas outras meninas, ela se acostumou desde cedo a repassar e a reutilizar peças. Também, sempre gostou de fuçar baús antigos e o armário da avó em busca de roupas e acessórios carregados de lembranças. A maioria das peças que usou nas fotos para Tpm, inclusive, são heranças de família.
Mas Louise também tem se aventurado pelo caminho inverso do vestir-se. Ela topou ser modelo vivo para uma turma de desenho na faculdade. Posou como na pintura "A Origem do Mundo", de Gustave Courbet, com as pernas abertas para a interpretação dos artistas. Como se tivesse saído de uma sessão de terapia, Louise passou a ver a nudez com naturalidade e a se sentir bonita sem precisar de roupa alguma.
Abaixo, o poema que ela usou para explicar melhor a sua relação com as roupas:
Resíduo, Laurence Lerner
"Minha mãe, ao morrer, deixou um guarda-roupa cheio,
Um mundo meio gasto, meio novo
Roupas de baixo fora de moda; uma fileira de sapatos,
Solas viradas para cima, nos fitando,
Um emaranhado de anéis, opalas impacientes, pulseiras e pérolas baratas;
E, florido ou resplandecente, de raiom, algodão ou tule,
Uma centena de vestidos, esperando.
Sozinho com aquele esfarrapado passado,
Meu pobre e alquebrado pai vendeu tudo.
O que poderia ele fazer? O negociante deu de ombros e disse:
"É pegar ou largar, depende de você."
Ele pegou e perdeu os trocados na corrida de cavalos.
O guarda-roupa, vazio, ficou olhando para ele, anos a fio."