Letrux e Cláudia Lisboa: um encontro escrito nas estrelas
A cantora desvenda o mapa de uma das maiores astrólogas do Brasil
Cometi um equívoco: entrevistei uma excelente astróloga e esqueci de perguntar qual a previsão para o Brasil nos próximos anos. Como pude me desligar a ponto de não perguntar aquilo que mais queremos (e precisamos) saber? Mas sinto que existe um motivo para meu esquecimento: Cláudia Lisboa é tão a representação vívida do alto astral que depois de um longo papo com ela, renovei minha esperança para o futuro. Cláudia me injetou fé. Fé na arte, na música, na educação, nos animais, no amor, nas amizades, na psicanálise, no zen-budismo, nos jipes nas estradas, nas encrencas e na própria astrologia. Cláudia escreve bem, fala bem, se comunica bem, lua três no talo, como ela me conta com os olhos brilhantes e a voz grave e gostosa. Cláudia viveu muitas histórias e sabe que a vida é cheia de atravessamentos e que às vezes não há escolha, a vida se encarrega. Os próximos anos ainda serão difíceis para o país, sabemos. Nem precisamos que o céu nos diga isso, estamos sentindo, estamos vivendo. Mas após um passeio pela cabeça dessa carioca pisciana que cresceu em Porto Alegre, o que eu sinto é que o futuro é um lugar curioso e bem mais permissivo.
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Tal qual sua filha caçula, a atriz Mel Lisboa, também sou uma capricorniana com mãe em Peixes. A chegada da astrologia na minha vida é através de minha mãe, que me deu o livro “Influências da lua no seu dia a dia”, com apenas 11 anos. Tudo mudou ali. Quando me chamaram para fazer essa entrevista com Cláudia, entrei num frisson doido. Seu livro “Os astros sempre nos acompanham” (2013) é literalmente uma companhia diária. É ali que aprendo muito sobre os planetas, sobre arquétipos, me assombro, faço correlações, mirabolo sinastrias, vejo características da vó, do boy, do Jack Nicholson, da crush, me perco e me acho. Com o livro "A luz e a sombra dos 12 signos” (2018) confirmei que não existe lado bom ou ruim na astrologia. Apenas que na luz, temos nossas características mais fortes e na sombra, nosso lado a ser mais bem desenvolvido. Cláudia sem dúvida escolhe a luz, mesmo quando diz que ela não é fácil, dá pra ver e sentir que a sombra foi desenvolvida ao longo de 42 anos de astrologia e 66 anos de vida na Terra.
Letrux. Pensei em te entrevistar seguindo a ordem das casas astrológicas e seus significados. Peguei as informações do seu site. A casa 1 fala sobre como você começa as coisas e de que forma se coloca no mundo. Como você se colocou como astróloga? Foi destino, acaso, coincidência ou a realização de um sonho?
Cláudia Lisboa. Eu estava na faculdade de Arquitetura. Vivíamos a ditadura, todo mundo era de esquerda e tinha medo de ser preso. Eu ficava entre o movimento hippie e a política. Um dia, estava no diretório da faculdade, tocando violão, e entra um homem lindo, enorme, cabelão. Na hora eu penso: “Quero casar com esse homem”. Resolvi me aproximar dos amigos dele, uma galera toda paz e amor. Me perguntaram qual era meu signo, eu disse que era Peixes e logo em seguida perguntaram: “E o ascendente?” E eu: “Como? Do que você tá falando? Tem ascendência?” Começamos a falar sobre astrologia, eles me contaram que estudavam com uma mestra, e eu pensei que era a oportunidade perfeita. Tinha que estudar astrologia para me encontrar com o cara que ia casar. Foi assim que cheguei na turma da Emma Costet de Mascheville, a Dona Emmy, que já tinha quase 60 anos de astrologia. Logo na primeira aula ela começou a falar sobre a Santa Ceia de Leonardo Da Vinci, sobre signos, luz e sombra e eu esqueci do homem que ia casar, fiquei apaixonada por aquela mulher (risos). Na verdade, também acabei casando com esse cara, que é o Bebeto Alves, músico, baita compositor, pai das minhas filhas Luna e Mel. Ele caiu fora da astrologia quando entrou cálculo, mas eu fiquei. Um dia o Antonio Carlos Bola Harres [astrólogo] me falou no meio de um cálculo dos mais difíceis: “Você não tá aprendendo não, você tá só se lembrando. Você já sabe disso há muito tempo”. Então abandonei Arquitetura quase no final, fui pra São Paulo e comecei a dar aula de astrologia na escola desse amigo.
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Você é do tipo que tá na fila do banco e tem algum jogo interno de adivinhar o ascendente das pessoas pelo biotipo? Sou péssima nisso! Nunca descobri signo de ninguém. Quando me pedem pra adivinhar, eu sempre falo: “Olha, é melhor você me dizer” (risos). Meu ascendente é Touro, eu denuncio meu ascendente pela voz. A voz de Touro é rouca, grossa, forte.
Vamos passar pra casa 2, que fala das finanças, dos valores monetários. Eu sinto que a primeira dúvida da maior parte das pessoas que fazem mapa, tem a ver com amor. Mas acho que o segundo assunto é dinheiro. Você acha que a astrologia pode ajudar a resolver a vida financeira de alguém? A astrologia ajuda demais a entender qual a função do dinheiro na vida. Onde você pode investir que vai se reverter em recurso material? Quais talentos seus podem vir a produzir dinheiro? Uma pessoa que tem Saturno na casa 2, por exemplo, morre de medo de envelhecer pobre. Não precisa de muito, mas precisa de estabilidade.
Eu tenho (risos). Você conseguiu prever seu sucesso na astrologia olhando sua casa 2? Eu nunca tive muita noção do que queria. Tive a Luna com 22 e a Mel com 26. Era muito moleca, queria estar solta no mundo, mesmo com as filhas. Me preocupava só em pagar as contas. Na transição de Arquitetura pra Astrologia, às vezes não tinha dinheiro para pegar o ônibus pra ir na casa da sogra. A gente passou perrengue pra caralho, mas a gente tava vivendo, tomava ácido, comia cogumelo, pegava carona pra Santa Catarina. Era lindo porque era vida, era tudo contra o establishment, era um processo libertário. E como dinheiro é establishment, eu queria ficar longe daquilo.
Mas dinheiro também tem um fator liberdade... Sim, me dava pânico depender financeiramente do meu pai, que um dia me falou: “Enquanto você depender financeiramente de mim, quem manda sou eu”. Eu fiz faculdade pública, e meus pais deram um Fusquinha pra eu e minha irmã dividirmos. Passaram uns anos e eu devolvi a chave dizendo: “A única coisa que eu ainda dependo é de comer na sua casa”. Aí comecei a fazer um estágio e lembro muito da sensação de receber meu primeiro salário, de como foi libertador não depender mais.
Que tipos de trabalho você já teve? Eu tenho Gêmeos na ponta da casa 2. A vida inteira me sustentei falando. Com a palavra. Gêmeos é o signo da comunicação e é duplo. Eu sempre tive mais de uma atividade: consultora, professora, palestrante, apresentadora. E isso tudo, claro, foi engordando minha conta bancária, porque eu fui cada vez mais explorando minha habilidade de me comunicar. Lembro da Dona Emmy falando que minha vida material ia ser sobe, desce, sobe, desce. Nunca me imaginei trabalhando pra alguém com horário fixo. O outro planeta que tenho na casa 2 fala de liberdade, que é Urano, então não ia conseguir bater ponto. Preciso de liberdade, preciso saber que, se eu quiser, posso cancelar uma semana de trabalho porque estou cansada ou preciso fazer um tratamento dentário. Isso é Urano na 2.
E falando de Gêmeos, chegamos na casa 3, que simboliza a forma como a gente se expressa, os irmãos, a escola... Essa casa tem uma importância muito grande na minha vida. Nasci depois de uma filha que minha mãe perdeu. Essa minha irmã, Marcia, nasceu viva, mas logo morreu. 98% das vezes em que as pessoas trocam meu nome, me chamam de Marcia. Quando me interessei por Astrologia, pedi os dados dessa minha irmã à minha mãe. Fiz o mapa e ela era Peixes com Touro, lua em Leão, mercúrio e vênus em Aquário, igualzinha a mim! Eu não entendo nada disso, mas olha isso (risos)! Tenho essa força na casa 3, sou apaixonada por meus irmãos e minhas filhas. A escola também foi muito essencial pra mim. Quando eu era criança, me mudei do Rio de Janeiro para Porto Alegre e deixei uma escola mais livre para estudar em uma escola de freiras. Achava tudo muito esquisito, mas foi importantíssimo. Ali fiz o primeiro contato com o misterioso. Também fiz 7 anos de piano, aprendi violão, fiz aula de pintura, costura, teatro... Tudo isso me deu o lugar que eu ocupo. Me alimentei de uma multiplicidade de coisas.
O regente de Gêmeos é Mercúrio. Nos últimos anos, as pessoas tiveram mais acesso à astrologia e descobriram que, três vez ao ano, Mercúrio fica retrógrado. Isso virou sinônimo de algo ruim, então queria que você fizesse uma defesa do Mercúrio retrógrado, porque eu sei que têm coisas boas que podem ocorrer. Vamos lá! Precisamos defender o retrógrado. Todo assunto tem luz e sombra. Todos os planetas ficam retrógrados. Retrógrado é um sinal de introspeção, indica que a gente precisa voltar umas casas pra entender e verificar um monte de coisas. É também uma referência do passado que vai me servir para uma modificação ou uma afirmação de alguma coisa do presente.
Vamos falar de casa 4, que fala, entre outras coisas, da nossa infância? Lembro muito de uma frase da Clarice Lispector em sua última entrevista: "O adulto é triste e solitário, a criança tem a fantasia.. é solta!” Você foi uma criança que fantasiava e se tornou uma adulta mais triste, consciente da realidade, ou você consegue, mesmo nesse caos, manter alguma fantasia infantil? Eu sou tudo menos uma pessoa triste. Tenho muita alegria. Lembro na época de adolescência das minhas filhas, elas acordando mal humoradas ao meio dia e dizendo: “Mãe, você é insuportável". Porque eu acordava toda empolgada, dizendo: "Bom dia, galera!". Fui uma criança que viveu no mundo da fantasia, ficava horas no piano, vivi um universo muito criativo. Adulta, mantive a criança sonhadora e a alegria. E também a inconseqüência, como uma criança é. Eu sou assim: mudo, vendo a casa, não fico calculando pra saber se vai dar tudo certo.
Se você entrasse numa máquina do tempo e pudesse escolher você iria viver no passado ou no futuro? Escolheria o futuro. O passado foi vivido. O que vale é o que tá na memória. Os meus sonhos me mostram o que eu já visitei, é um universo conhecido. Eu acho interessante o que eu não vivi. Eu não gostaria de viver numa época sem militância LGBT, onde um funcionário tem que entrar por elevador de serviço, isso é algo do passado. Claro que a gente tem retrocessos, mas estamos presentes com essa voz, antes não tinha nem isso. Então quero ver como vai ser nossa sexualidade no futuro, quando poderemos ser qualquer coisa. Isso me interessa.
A casa 5 é uma casa associada às nossas paixões, ao prazer. O que você mais ama fazer nas suas horas vagas? Meu grande prazer, já há uns anos, é caminhar e correr. Preciso fazer isso pelo menos uma vez por dia. Vou com a Sofia, minha cachorra, minha paixão. Também pratico yoga, adoro ler, sou apaixonada por cinema. Teatro. As artes. Fiz windsurf também mais nova. Preciso das práticas físicas. Desejo envelhecer saudavelmente, não quero ter carinha de 15 anos, isso não me interessa. A quinta casa também fala da auto estima. Quando parei de pintar o cabelo, criticaram, e eu amo minha mexas brancas, tô sempre brincando com meu cabelo.
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Essa casa também fala do cuidado com filhos. Você sempre quis ser mãe? Era um sonho de infância ou foi uma ideia que você foi construindo e ficando disponível a realizar? Eu fui atropelada pelo desejo. Não pela gravidez, porque planejei, mas fui atropelada pela vontade, porque nunca tinha me imaginado mãe. Meu sonho de adolescência era ter um jipe, um cachorro e um som. Alguns anos se passaram e um belo dia, já com duas filhas adolescentes, aluguei um sítio e me peguei dirigindo meu jipe com dois cachorros na caçamba e o som a mil, pensei: “Caralho, eu consegui!!!”. Eu queria ir pra estrada.
Para falar da casa 6, que fala de rotina, pensei numa frase da poeta Elisa Lucinda que diz: "Um brinde ao que está sempre nas nossas mãos: a vida inédita pela frente e a virgindade dos dias que virão!” Você falou que não gosta de rotina, mas nesses tempos que correm, como você lida com imprevistos? É muito contrastante isso. Eu odeio burocracia e planilha com toda a minha força. Minha secretária me ajuda muito, senão, nem saberia quando pagar as contas. Por outro lado, sou altamente disciplinada no meu dia a dia. Levanto cedo, rego minhas plantas, preparo café da manhã. A Sofia levanta depois de mim, ela é epiléptica. Ponho uma música e fico até a primeira consulta que é só 10h30. Se entrar um imprevisto, fico numa boa. A disciplina foi uma tática pra me organizar, mas eu sou mais do imprevisível. Amaria acordar cada dia e o dia me apresentar uma coisa diferente mas não é assim que a vida é, então tudo bem, a gente se disciplina.
Agora passamos pra parte de cima do mapa, chegamos na casa 7, que simboliza parcerias duradouras, sejam afetivas, como casamentos, mas também as parcerias de negócios. Você sente que amou muito nessa vida? Olha, não só eu amei muito, como fui muito amada. Chego a ficar emocionada. Fui muito amada por todos os homens com quem me relacionei. O Edu [Eduardo Rozenthal, psicanalista que faleceu em 2019] foi minha última relação, estive com ele por 13 anos. Conversando com as pessoas, elas falavam: “Como esse homem te amava”. Fiquei olhando fotos e ele me fotografava muito apaixonado, o olhar dele pra mim é de muito amor. Antes dele, eu amei muito e namorei muito também. Fui casada com o Bebeto por uma década, fiquei cinco anos com o Yuka [artista plástico], três anos com o Diduche [produtor executivo do Circo Voador e do grupo de teatro Asdrúbal Trouxe o Trombone] e aí encontrei o Edu.
Sabendo astrologia, você conseguia prever a chegada de um amor na sua vida? Você olhava seu mapa, sua revolução e falava: “Opa, acho que vou me apaixonar esse ano”? Ah, a gente olha. Mesmo que não quisesse olhar, eu sei onde estão os planetas e o meu mapa, são 42 anos de profissão. Mas eu gosto muito da surpresa da vida. Meu mapa é cheio de encrenca, a encrenca me fez ser quem eu sou. Um pouco antes de conhecer o Edu, vi que tava pintando um trânsito mais amoroso pra mim, que ia durar cinco anos. Eu só fui namorar o Edu no quinto ano, precisei de outros quatro pra me preparar para esse encontro.
Como foi que vocês se conheceram? A gente tinha amigos em comum, nos víamos em festas, mas começamos a namorar porque fui fazer aula de psicanálise com ele. Ali abriu um mundo. Eu não sou de casar, sou namoradeira. Meu sonho era cada um ter sua casa, mas o Edu era totalmente a favor do casamento, tinha que dormir na mesma cama, acordar junto. Se não fosse a morte dele, acho que a gente ia até o final da vida, porque era uma relação muito solta, livre, cada um tinha seu espaço, era uma relação muito legal.
Sou fascinada pela casa 8, que representa como lidamos com a morte, nosso poder de regeneração. Gosto muito da escritora Joan Didion. Ela escreveu vários livros, mas dois são sobre luto: “O ano do pensamento mágico” e “Blue Nights”. Tem até um documentário sobre ela na Netflix. E, já dando spoiler, depois que seu marido morre, um amigo vai na casa dela pra ajudar com as roupas, as coisas, e ele abre o armário e fala algo como “é, a gente tem que se livrar de tudo isso”, ao que a escritora responde: “Mas e se ele voltar?” É um momento de delírio, mas o próprio amigo disse que achou a pergunta super plausível. Você recentemente perdeu seu parceiro, seu marido, namorado, amor. Fico curiosa em saber se você também, durante um tempo, cultivou essa sensação de não acreditar, ou se lidou com a informação da morte de uma maneira mais conformada, até por ser uma astróloga? O meu luto começou antes. O Edu falava pra mim: “Eu tô te preparando pra minha partida”. Quando ele recebeu a notícia da doença, que era incurável, a gente sabia que não teria muito tempo com ele. Abri mão da minha vida, com tudo que tem direito, pra ficar perto dele. A gente brigava, a gente ficava puto um com o outro. Ele não queria de forma alguma se sentir um coitado, penalizado. “Não muda comigo, seja você”, me falava. A gente tinha embates fortes, eu não sou fácil, nem ele era. Éramos nós, sempre. Ele ficou numa clínica na Alemanha um tempo, e um dia a gente brigou tão feio, que eu quase peguei um trem e fui embora. Claro que, no final do dia, a gente mudou tudo. Mas não se colocou na vitimização da doença e também não se banalizou a experiência. Ele tava do meu lado na cama na hora que morreu, não quis ser internado. Ele atendeu e se despediu dos pacientes dele uns cinco dias antes de morrer. E entrou num estado terminal na nossa casa. Ele me ensinou o que é a morte. Um ano antes do Edu adoecer, tive um reencontro com o zen budismo. Fui ordenada zen-budista pelo psiquiatra monge e, no primeiro dia que fui no templo, ele me avisou que tinha um curso e lá fui eu. O curso era uma preparação pra voluntários acompanharem pacientes terminais em hospitais públicos. Assinei o papel, me voluntariei e, logo depois, recebi a notícia que o Edu tava doente. Aí fui ao templo, e abracei meu monge, que era analista do Edu, e ele disse: "Você entendeu porque você fez esse curso? Não é só pra cuidar das outras pessoas, é pra cuidar do seu parceiro”. Eu sou atropelada, não escolho nada disso, a vida escolhe pra mim. Mas eu tava ali por algum motivo. Eu fui pra lá pra isso, pra ser preparada.
Na casa 9 é onde dedicamos nosso tempo aos estudos, à busca pelo conhecimento mais profundo. Também está associada a viagens. Eu sei que muita gente às vezes viaja no aniversário pra tentar ter uma revolução solar melhorzinha. O que você acha disso? Isso é muito elitista. Você tem que ter dinheiro e tempo. Se você tiver uma oportunidade de viajar na época, tudo bem. Se me pedem, eu calculo, mas o que você muda na revolução solar se você viajar é um oitavo do todo. É quase nada. Não tá errado, mas viver pra isso, não. Tem que viver o que tem que viver.
Agora estamos no meio do céu, que é a casa 10, a casa da carreira, do trabalho, do reconhecimento. Representa nossa vida pública. Como você lida com o seu sucesso na astrologia? Eu já vi a astrologia em voga, sendo debochada, sempre foi assim, gente que se debruça, estuda e se fascina e gente que critica e ridiculariza. Tem páginas que debocham na internet, eu não gosto. Eu também não gosto, até comentei isso ontem. Se um grupo de comédia faz uma esquete sobre astrologia entre tantas outras coisas, não tem problema. Mas você dedicar sua vida a debochar da astrologia... A astrologia cai em descrédito entre o século 17 e 18. Antes disso era respeitadíssima, cadeira obrigatória nas universidades. Por um lado, ela está mais conhecida, você pode atingir mais pessoas, mas por outro banalizou. Eu não sei como vai ser no futuro. Na década de 90 teve um boom e depois foi lá embaixo. Quem se dedicou à astrologia, ficou. Outro dia vi um comentário num post meu dizendo “A Claudia, no curso dela, dá informação a conta gotas, pra ganhar dinheiro”. A formação que eu dou é como uma universidade, de três anos. Se você não dá em 3 anos ou mais, você tá simplesmente vendendo um produto errado. Você tem que fazer passo a passo. As pessoas querem ser astrólogas em 3 meses e tem gente que atende em 3 meses, é inacreditável.
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Tem uma frase do Eduardo Galeano que acho muito boa e que acho que tem um tom da casa 11, que é a casa de como cooperamos uns com os outros, nossa visão social, a casa das amizades. "Às vezes me dizem: você é muito bom. Mas eu procuro ver quem é que está falando, porque, dependendo, pode ser uma acusação gravíssima.” Muitas vezes sou atacada por posicionamentos políticos ou pura e simplesmente porque pessoas que não gostam de mim resolvem se manifestar. Como funciona isso pra você, já que, sendo astróloga, você atende todos os tipos de pessoas, com todos os tipos de crenças e posições políticas? Existe uma ética quando você oferece um serviço. Não dá pra falar: “Aí eu não trabalho”, é como um psicanalista. O que acontece é que eu deixo muito clara minha posição política. Acho que eu só tive dois clientes bolsominions (risos). Rolou um papo criticando a escolha sexual da filha, e eu falei: “Esquece isso, você tem que acolher sua filha”, não deixo de me posicionar. Mas as pessoas sabem que tenho uma história política na esquerda, votei a vida toda no PT, fui a todos os movimentos, sou de uma geração que não tem medo de se posicionar. A única coisa que mudei no Instagram é que, pra comentar, tem que me seguir. Se quiser me xingar, me dá número. Não quero que entre gente escrota ali, é nossa casa virtual.
A última casa, a 12, reúne os assuntos espirituais, nossos bloqueios emocionais, medos e como lidamos com as experiências que a vida nos traz. Cláudia, você sente que essa é sua primeira vida ou você tá passeando por aqui tem um tempo já? Eu tenho um pouco do posicionamento budista, lembra do filme O pequeno Buda, que o Lama está em 3 crianças? Não acredito que sai minha alminha e volta em outro corpo. Acredito que tudo que você gera vai ser vivido por outras pessoas, vai ter continuidade. O que significa que você não começou nada de novo. Eu não comecei nada de novo. Entendo que quando a gente nasce é como se tivesse começando uma temporada de uma série que já começou há várias anteriores. Você não mata a história. Você tem que voltar e escutar o que você já traz na sua alma pra poder inventar uma história nova nessa nova temporada. É como se a gente viesse com um registro, até em DNA! O DNA se sabe que não é apenas um registro biológico, mas também psíquico, então a gente vem com uma espécie de corpo erógeno, meio desenhado. É um rascunhozinho que a gente vai, depois, criando em cima dele. Quando se faz contato com algo que rompe a barreira tridimensional, do tempo e do espaço, aí a gente entende que a coisa é muito maior do que a gente imagina. Então, temos que reverenciar a vida e ao mesmo tempo ficar puto com ela, e também fazer as pazes, porque isso é parte de toda a história que a gente vive.
E qual a coisa mais emocionante que você aprendeu nesses anos todos de vida e de astrologia? A coisa mais emocionante é entender a astrologia como uma forma de mudar o jeito de pensar. Não tem nada a ver com o outro. Serve para mudar o chip mental, agir de uma forma mais libertária.
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Imagem principal: Divulgação e Antônio Brasiliano/Divulgação