A mulher do fotógrafo comenta o documentário sobre o marido que estreia este mês nos cinemas
Foi ela quem emprestou, nos anos 70, a primeira câmera fotográfica para o marido, Sebastião Salgado, então um jovem economista que sonhava em mudar de profissão. A primeira foto que ele fez foi dela. É ela quem organiza as exposições e edita os livros dele. Veio de Lélia a ideia de recuperar a Mata Atlântica nas terras da família em Minas Gerais, um projeto que deu novo sentido à vida de Tião, como ela o chama. De Paris, onde mora, Lélia Wanick Salgado, 67 anos, falou à Tpm sobre O sal da Terra, documentário que aborda a vida e a obra de seu companheiro, um dos mais celebrados fotógrafos documentaristas do mundo. Dirigido pelo filho do casal, Juliano, e pelo alemão Wim Wenders, o filme concorreu ao Oscar de melhor documentário este ano e estreia na quinta-feira, dia 26/3, nos cinemas de todo o país.
Qual foi a sua participação em O sal da Terra? Eu fui a mentora do projeto. É engraçado porque falam muito de mim no filme, mas eu apareço pouco [risos]. Não faço questão de aparecer.
Você tem um papel fundamental não só na vida pessoal, mas também na vida profissional do seu marido. Você é suficientemente reconhecida por isso? Meu papel é peculiar e bem meu. Eu criei minha maneira de viver. É bom e dá certo. É um trabalho normal, que gera esse questionamento, porque somos um casal. Temos uma dinâmica especial: o que o Tião faz, eu não sei fazer; o que eu faço, ele não sabe fazer. A gente se complementa.
O que você achou do resultado do filme? Gostei muito e fiquei impressionada com o trabalho dos dois diretores. Foram horas e horas de filmagens e não sabíamos como o Juliano e o Wim editariam todo aquele material. O filme não é focado no fotógrafo, é um ponto de vista em relação à vida. Eles transformaram as palavras do Tião em sentimento.
Como o projeto influenciou na dinâmica familiar? O filme aproximou o Juliano do Tião, eles começaram a se encontrar com mais frequência. Também ajudou a revermos a nossa história de família – o Tião sempre viajou muito e o Juliano, depois que saiu de casa, também tinha sua vida.
Em que projetos você está trabalhando agora? Estou finalizando um livro sobre café. O Tião fotografou plantações de café pelo mundo, mais de dez. Vamos participar da Expo Universale 2015, em Milão, com esse livro. Acabamos de abrir a exposição do Genesis, em Veneza, e, em abril, vamos expor em Berlim. Também estou reeditando o primeiro livro do Tião, Outras Américas, cuja primeira edição completa 30 anos, e comecei a escrever um livro. É um romance de ficção.
O sal da Terra mostra a tribo Zoé, onde as mulheres têm cinco maridos: um para caçar, outro para plantar, outro para ajudar a cuidar dos filhos etc. Os homens também têm cinco mulheres. É o arranjo ideal? Eu não sei, só eles podem dizer se é o ideal! Eles vivem com o essencial: comer, plantar, dormir, não têm nada mais na vida. Agora se um marido já é difícil, imagina cinco [risos]!
Vai lá: O sal da Terra, de Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado. Estreia no dia 26/3 nos cinemas.
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