”Um homem seguro se vê bonito. Assume suas vaidades no modo que melhor lhe apetece. Passa longe de achar que precisa cantar de galo ou ser agressivo com sua parceira (ou parceiro) para se afirmar”
Oito em cada dez homens se preocupam com a aparência, mas evitam discutir o tema. Foi o que apontou a pesquisa Precisamos Falar com os Homens?, na qual escutamos mais de 20 mil pessoas em todo o país, de 18 a 60 anos. Naturalmente, o receio em conversar sobre o tema é bem menor entre homens não héteros.
Um passeio pela rua, ou pelo Instagram, traz essa mesma realidade, ainda que sem precisão estatística. Homens são vaidosos, cada vez mais abertamente. Mas possuem outros códigos para expressar seu lado narciso – o carro, a conta bancária, seus músculos, a proficiência intelectual, o quanto bebem sem passar mal, a performance esportiva.
Mais um dado impactante: segundo a mesma pesquisa, sete em cada dez têm dificuldade em falar sobre seus medos e dúvidas até mesmo para os melhores amigos – insegurança em escala nacional.
O resultado dessa equação é simples: rapazes cada vez mais preocupados com o impacto de sua aparência no mundo. Gastam com barbeiros, cremes, academias ou treinos alternativos, alimentação saudável, ternos alinhados e tênis tecnológicos. Inseguros, preferem sair no braço a se mostrar vulneráveis ou fracos.
Essa sinuca é o pano de fundo perfeito para mais um artigo sobre o quão frágeis-restritas-tóxicas-sufocantes certas masculinidades podem ser. Mas tenho achado a conversa centrada nas falhas uma tremenda camisa de força. Talvez por eu mesmo ter sido um dos que puxou essa abordagem por anos. Conheço bem de perto seus limites.
Estive presente em cada uma das etapas desse estudo com as tais 20 mil pessoas. De lá pra cá, viajei o Brasil conduzindo rodas de papo sobre masculinidades. O que tenho visto me preocupa: cada vez mais homens solitários, confusos, destituídos de amor-próprio. E não há beleza possível para esses homens perdidos.
Apesar de se preocuparem com a aparência, não querem se afirmar vaidosos e não se acham bonitos. Repetem besteiras sobre coisas de mulher e coisas de homem para serem aceitos ou por pura falta de algo melhor a dizer. Trabalham, procriam e morrem. Dão o melhor de si ao exercer o que entendem ser o papel que se espera deles.
Ando interessado em oferecer espaços que nutram o masculino desses homens desbotados. Faço isso promovendo, por exemplo, encontros nos quais eles possam se colocar vulneráveis de verdade. Em todas as vezes em que isso aconteceu, vi uma beleza surgir.
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Um homem seguro se vê bonito. Assume suas vaidades no modo que melhor lhe apetece. Passa longe de achar que precisa cantar de galo ou ser agressivo com sua parceira (ou parceiro) para se afirmar. Defende uma sociedade mais amorosa para todos e todas, sem medo de ser apontado como menos homem.
Acho que pode ser a hora de puxar mais homens para um afago, ao invés de disparar outra bordoada. Ao menos tem sido essa minha tentativa.
Quem sabe assim talhamos um mundo no qual dez em cada dez homens se preocupem com a aparência e discutam isso sempre que der vontade.
Créditos
Imagem principal: Pablo Saborido