Uma discussão necessária sobre riscos e segurança ao viajar, e cinco coisas para lembrar antes de colocar a mochila nas costas e pegar a estrada
O triste caso das duas jovens argentinas assassinadas em Montañita, na Rota do Sol equatoriana, trouxe à tona uma discussão necessária sobre riscos e segurança ao viajar. Em grupos de viajantes essa discussão nunca para de rolar, é verdade. Quem cresceu numa cidade segura na Europa e quem vive na América do Sul tem percepções diferentes sobre segurança – o que nem sempre significa que quem é de Estocolmo acha que o mundo é tranquilão e quem é do Rio de Janeiro vê perigo em tudo. Frequentemente é o contrário.
As duas viajantes se encontraram sem dinheiro para voltar para casa depois que foram roubadas no albergue. O plano era passar a noite em Montañita (uma cidade bastante turística) e seguir viagem de carona rumo ao aeroporto, onde pegariam o avião para Mendoza. Conheceram dois rapazes que ofereceram abrigo e mais tarde, alcoolizados, as mataram e jogaram os corpos na praia.
Não sei nada sobre as duas mulheres argentinas. Não sei que dificuldades encontraram, que tipo de julgamento fizeram e o que as levou a confiar nos dois homens, que confessaram o crime.
Mas tem duas coisa que precisamos lembrar.
Primeiro, é que a culpa não é de quem aceitou abrigo e teve a confiança traída. Não tem essa de “se foi pra casa de um estranho estava pedindo” ou “quem mandou viajar sem homem”. A culpa é dos assassinos, que ofereceram abrigo para pessoas em dificuldades e tentaram tirar proveito da situação.
Segundo, é preciso ter cuidado na estrada. Sempre.
Violência não é uma questão exclusivamente feminina, mas o risco de violência é sempre maior para mulheres. Em muitos lugares do mundo, uma mulher sem companhia masculina ainda é vista como uma chance a aproveitar.
Dito isso, aqui vão cinco coisas a lembrar quando você vai viajar. Vale pra vida.
Informe onde você vai e quando volta
É libertador estar do outro lado do mundo e não precisar informar ninguém. E não estou falando de que você tem que mandar mensagem a cada hora para avisar seus pais onde vai, mas deixar alguém informado do seu paradeiro pode ser muito útil numa situação de imprevisto. A gente fica vulnerável quando viaja e, homens e mulheres, viajando solo ou em grupo, são vítimas de scams, roubos e violência física.
Pesquise a cultura do lugar
A melhor forma de estar segura em um local é não chamar a atenção. Em especial em países da Ásia e da África (mas não só) uma mulher de cabelo curto, com braços à mostra, com tatuagens ou sem uma companhia masculina vai chamar a atenção, sim. E essa atenção não é necessariamente boa. Lembre que viajar é aprender a se adaptar às outras culturas e situações.
Conte com a sororidade
Já percebeu como mulheres se sentem seguras entre mulheres? Não é por acaso. Nós sabemos os riscos que sofremos e sabemos como ajudar. Problemas como ser roubada no albergue ou se perder numa cidade estranha acontecem mesmo. Quando precisar, peça ajuda. Se possível para outras mulheres.
Não faça na estrada o que você não faria em casa
Viajar é sobre criar conexões, é verdade. Mas segurança é uma coisa difícil de garantir em qualquer situação e estar estrada dá uma sensação de confiança que nem sempre dá para justificar. Pare e pense.
Confie nos seus instintos
Se você está achando uma situação desconfortável, provavelmente é porque tem algo errado. Não deixe que o medo domine suas ações, e sim que te ajude a analisar riscos e tomar decisões racionais. Medo é instinto, sempre o ouça.
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