O paulistano foi criado na agitação da urbe e não está acostumado com bicho solto. Conheça o office boy que virou modelo
Leonardo cursava a faculdade de fisioterapia na FMU-SP e ralava como office boy para pagar a mensalidade. Seguia firme nas entregas para dar conta dos próprios gastos enquanto alimentava o plano de trabalhar como fisioterapeuta esportivo. Mas eis que, em horário de almoço, conversando com colegas em uma praça, um olheiro de agência de modelo o abordou. Tinha 20 anos. Embora ele já tivesse ouvido de amigos que levava jeito para modelar, não tinha considerado a carreira. “Eu realmente não me achava no perfil, era bem tímido”, diz.
Os olheiros insistiram. Leo resolveu pagar pra ver, foi fazer alguns testes. Antes que algum trabalho rolasse de fato, o boato de que ele queria ser modelo se espalhou pela empresa em que trabalhava e, sem muita explicação, ele acabou demitido. “Bem capaz de ter tido um pouco de preconceito. Office boy virar modelo… Acho que minha supervisora não curtiu.”
Logo pintaram alguns ensaios fotográficos para revistas e ele começou a emendar um trabalho no outro. “Depois de um ano, viajei para Londres a trabalho pela primeira vez”, conta. A faculdade perdeu importância e os planos foram reciclados. “Resolvi aproveitar os caminhos que estavam se abrindo sem pensar muito a respeito”, diz.
Hoje, aos 24 anos, o modelo já se acostumou a ser olhado pela câmera, a tirar a roupa em qualquer lugar, a ter seu corpo observado. Em seu primeiro ensaio nu, teve receio de sair com cara de travado. “Olhei a paisagem em volta, pensei que as fotos estavam ficando bonitas e consegui me soltar.” Numa fazenda em Conchas, interior de São Paulo, se despiu para Raquel, a fotógrafa e amiga, e para os animais que estavam por ali. As vacas e os cavalos circulando a sua volta geraram um sentimento estranho no paulistano da zona norte. “Sou um bicho da cidade. Penso até em ter uma experiência de morar no mato, mas sou meio cagão”, conta. Ainda bem que ele só soube que já pegaram alguns jacarés neste rio depois que as fotos acabaram. “Jamais teria entrado na água se tivessem me falado antes, não conseguiria nem mesmo sabendo que não tem mais jacaré faz tempo [risos].”
Leonardo já não lembra mais o office boy que ralava nas ruas da cidade. O círculo de amigos mudou, seu estilo de vida também. Tornou-se vegetariano depois de conhecer uma galera “mais espiritualizada”, como ele diz, e passou a incluir ioga e meditação a sua rotina de exercícios na academia. “A conexão da mente com corpo é essencial”, diz. O resultado de (tamanha) beleza, explica, está justamente aí, nessa dosagem de bem-estar interior e transparência. Não quer dizer que ele faz o tipo modesto, porém. “Gosto de ver o meu tanquinho definido. Mas a vida não pode ser só isso”, ensina. As tatuagens que cobrem a pele desde os tempos de office boy já atrapalharam alguns trabalhos, mas ele não vai abrir mão. “Se bobear, vou tatuar até a bunda.”
Leo quer comprar um terreno, ter a própria horta, trabalhar em Nova York e poder nadar pelado no rio em uma quarta-feira à tarde. Desejos simples de quem está em paz consigo mesmo. “Quando estou tranquilo, estou sempre sorrindo. É isso a beleza, não?”
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Imagem principal: Raquel Espírito Santo