Eu sou a Regina Duarte. Eu quero me esconder embaixo da cama. Eu tenho medo da ditadura voltar, desse blog ser censurado, de sair e dar de cara com uma briga e também de um ataque terrorista. Corra, mina, corra!
Eu tenho medo. Eu sou a Regina Duarte. Eu tenho muito medo. Eu entro no Facebook e acho que vai ter um golpe militar, os Estados Unidos vão invadir o Brasil, esse blog vai ser censurado, assim como essa revista. E a minha mãe, coitada, que está no Brasil, vai ser presa por ser minha mãe. Eu, além de ser louca e ter medo, me dou muita importância, não?
Fato. Desde junho de 2013 estamos todos loucos. Lembro bem de um momento daquele junho, a TV dividida no meio e recebo um SMS da mana Eva Uviedo escrito assim: "ufa, retomamos o Itamaraty". Sim, ela usou esse linguajar de guerra para dizer que "os manifestantes de Brasília que tentavam quebrar o lindo prédio do Niemeyer tinham saido de lá". Nesse mesmo dia, com a tela dividida mostrando Rio, SP e Brasília em chamas, fui ligar para Vivian e tremia tanto que não consegui. Travei. Escrevi sabe-se lá como, com letra trêmula: "me liga, não consigo ligar de tanto medo".
Foram dias sem dormir. E eu devo ser louca mesmo. Outro dia tentei listar com a Pinky Wainer os nossos maiores medos e... nada supera o nosso medo de golpe, volta da ditadura, nada! Também temos medo de ataques terroristas e de Ebola.
"Estou com medo de ligar a TV, acho que vou me esconder embaixo da cama", disse uma amiga ontem pedindo colo virtual. "Não liga, não liga", respondi, assustando minha amiga ainda mais.
Eu deveria sair e esquecer o meu medo indo para a noite de Berlim, essa noite de Berlim que é tão celebrada no mundo inteiro.
Mas acontece que eu desenvolvi medo de Kreuzberg. Isso porque, no fim de semana passado, em uma saída inocente, vi uma briga com um cara sendo chutado no chão. Fiz o que sempre fiz em brigas: saí correndo. Depois, na volta, um cara esbarrou na minha amiga, ela olhou feio, ele cuspiu nela. Como ela também tem medo, demos as mãos e corremos (de novo). No dia seguinte, decidimos acabar com a bad vibe e demos de cara com a ponte fechada. Motivo? Ameaça de terrorismo. Medo, medo, muito medo de terrorismo!
Na mesma noite (eu juro), fui comprar cigarro no tio da esquina. A loja estava virada. Umas coisas caidas no chao. "O que voce quer, menina?". "Um cigarro." Foi na hora de pagar que vi que o tio tinha marcas de SANGUE na blusa. Medo, medo, medo de sangue!
Depois dessa, fiquei com medo de macumba, além de medo de Kreuzberg, terrorismo e de golpe.
Os dias estão muito difíceis para quem tem medo. Eu, Regina Lemos, estou aqui, apavorada, covarde. Socorro! Não tô nem conseguindo escrever. Só mesmo esse desabafo, amigo punk, escute.