Menina transgênero escreve livro para crianças contando sua história
A menina que nasceu menino conta que desde os dois anos de idade tinha consciência de que algo estava errado: “Sentia que estava contando uma mentira quando fingia que era menino”, revela Jazz Jennings, 14, em “Eu sou Jazz” que deve ser um dos primeiros livros para criança que tentam definir o que é ser transgênero. “Eu tinha um cérebro de menina em um corpo de menino. Isso é ser transgênero. Eu nasci desse jeito”, afirma.
O livro fala sobre o entendimento dos pais e a confusão dos professores ao lidar com uma criança transgênero, a luta da menina que nasceu menino para usar o banheiro feminino na escola e para ser aceita no time de futebol das meninas. O livro também fala sobre como os pais procuraram ajuda do pediatra quando Jazz completou dois anos: os médicos deram nome e uma explicação para a confusão que a menina sentia: Jazz tinha disforia de gênero, ou seja, sua identidade de menino era incompatível com seu sexo biológico real de menina.
Um dos dias mais felizes da infância de Jazz foi o de sua festa de 5 anos, quando pôde usar um maiô brilhante com as cores do arco-íris. “Foi a primeira vez que pude ser uma menina”, lembra. E graças aos pais foi como menina que ela pôde começar o jardim de infância.
A mãe de Jazz dá uma aula de respeito ao falar da filha: “Crianças transgênero são como as outras crianças. Muitas vezes minha filha ia tomar lanche na escola e as pessoas se afastavam dela. Ela é um ser humano. Espero que a aceitem e a compreendam”. A função social do livro para ela é a mais importante: “Vamos levar informação às crianças. Ninguém diz que é errado ser autista. Também não é errado ser transgênero” disse Jeannete Jennings em entrevista ao Houston Chronicle. O perfil de Jeannete no Twitter também é um exemplo de amor. Ela se define como “A mamãe orgulhosa de uma das crianças transgênero mais incríveis do universo”.
Em 2007 Jazz e a família participaram de um programa especial da jornalista americana Barbara Walters batizado de “Meu eu secreto”. A menina tinha seis anos e era a transgênero mais nova a aparecer na televisão. Em 2009 participaram da versão australiana do programa “60 minutes” e de um documentário
chamado “Eu sou Jazz: uma família em transição” no canal da apresentadora Oprah Winfrey.
O mundo dos transgêneros está cada vez em pauta. A atriz Laverne Cox, da série americana Orange is the New Black, é transgênero, assim como sua personagem na série. A própria atriz já contou que tentou o suicídio aos 11 anos por não se sentir acolhida e foi recentemente capa da revista “Time” aumentando a visibilidade para a comunidade transgênero. Também foi a primeira transexual da história a ser indicada ao Emmy, um dos prêmios mais importantes da TV americana.
Jazz é uma adolescente feliz que joga futebol, divide suas histórias com grupos e organizações ao redor do mundo e agora, com o lançamento do livro, espera ajudar crianças que se sentem perdidas em um gênero que não reconhecem como seu. “Eu falo para elas pensarem positivo e que sejam verdadeiras com elas mesmas. Se os pais não as entenderem eu aconselho que elas procurem um adulto que a compreenda e que ajude nesse processo. Às vezes tenho vontade de perguntar a esses pais: vocês preferem ter um filho morto ou uma filha viva?”
Não existem estatísticas confiáveis sobre o número de meninos e meninas transgêneros em todo o mundo. Mas o livro “Eu sou Jazz” , que pode ser comprado ou baixado no site da Amazon, pretende estender a mão a essas crianças e mostrar que elas não estão sozinhas. Todo o lucro com a venda do livro será revertido para a Transkids Purple Rainbow Foundation que os pais de Jazz fundaram para apoiar as crianças transgêneros e diminuir o preconceito contra elas.
*Rita Lisauskas é jornalista, mãe do Samuel, madrasta do Lucca e do Raphael e mulher do Sérgio. Não necessariamente nessa ordem. Desde 2013 mantém o blog Ser mãe é padecer na internet, que vai estar quinzenalmente no site da Tpm http://vilamamifera.com/padecernainternet