Elke Maravilha, uma mulher sem máscaras

por Décio Galina
Tpm #62

Elke Maravilha se diz pronta para acordar “do lado de lá”. Enquanto a hora não chega, aposta no convívio intenso com as pessoas

Gente é o que ela mais gosta na vida. Considera seus professores os gays, as prostitutas, os presidiários, os mendigos, os loucos. “Essas pessoas são anjos, mensageiros.” Elke Maravilha aposta no desfrute do momento a qualquer custo. “Cem anos ou um dia é a mesma coisa. É hoje.”

Ela está pronta para bater as botas - só não deseja ser morta na base da faca. Não vê a menor graça em esticar a existência e falecer senil, numa cama. A modelo russa de ascendência mongol desembarcou no Brasil aos 6 anos. Ditou tendências na década de 70, trabalhou com o Chacrinha por 14 anos e foi a jurada que mais dava nota 10 aos calouros do Silvio Santos. Prestes a completar 62 anos (Elke Grunupp é pisciana de 22 de fevereiro), a também atriz de cinema e cantora recebeu a Tpm para destilar três horinhas de prosa. Olho no olho, de coração. “Meu pai morreu com 65 anos, e acho que é uma idade boa de se morrer.” Elke vive com o oitavo marido, o artista plástico curitibano César Altai (ou Sacha, para os íntimos), de 35 anos, em um apartamento de quarto-sala-cozinha no Leme, Rio de Janeiro. Na sala, há duas poltronas azuis e dezenas de almofadas no chão. Mal se vê as paredes cor-de-rosa, tal a quantidade de fotos, uma camiseta do Garrincha e um sem-fim de máscaras, estátuas de animais, pênis de di- versos tamanhos, santos e protetores, co- car e tacape, bonecas e carrinhos. O gato preto Kalunga (o terceiro felino do casal) espreita a visita até a chegada da dona. Elke está no banho. Cantando. Quando sai, vem de cabelos molhados, soltos. A cara limpa realça ainda mais um fino risco pre- to em volta dos olhos. Elke abraça forte, de verdade, e fala sem mais milongas. “Existe coisa mais sacal do que o politicamente correto?”

Tpm. Gosta do dia do seu aniversário?

Elke. Adoro. Gosto de comemorar com amigos, enchendo a cara. Semana que vem, passo por uma operação, então, não vou poder dançar no meu aniversário – mas encher a cara vou poder. Não tenho problemas com o envelhecer. Não sei como... Acho que já nasci velha [risos]. Talvez porque minha mãe tenha sido um exemplo para mim. Ela era muito mais bonita do que eu e envelheceu sem se preocupar com a maquiagem...

Tem cuidados com a saúde? Não. Bebo, fumo dois maços por dia, faço tudo errado... Passar creme é de vez em nunca...

E plástica? Já fiz lipoaspiração e me preocupo com o papo. Minha família tem tendência a papo, e papo não quero não. Papo é para peru! Então, quantas vezes precisar, tiro o papo. Agora, esticar [faz gesto na cara puxando a boca pra trás] muda tudo. Muda a expressão, e eu preciso da minha expressão.

Qual sua bebida predileta? Cachaça. Sou cachaceira legal.

E tem hora para beber? Não gosto de beber de dia. Também não gosto de beber sozinha, nem todo dia. Sou preguiçosa fisicamente, não gosto de sol, não gosto de andar na praia. Gosto de sentar num quiosque da praia e tomar cachaça. O Rio de Janeiro é lindo.

Como você enfrenta seus medos? Avançando. Nunca recuo. Não viro de costas para a onda. Enfrento a onda. Talvez possa furá-la. Se virar de costas, ela me engole.

Você já foi engolida por uma onda? Não. Agora, já enfrentei situações perigosas.

Lembra de uma situação dessas? Há muitos anos, na Bahia, estávamos rodando A Força de Xangô [Iberê Cavalcanti, 1977]. Depois da filmagem fomos a um show do Martinho da Vila. Lá, me apresentaram um rapazinho novinho. Ele convidou a turma toda para ir tomar whisky na casa dele – fui com o rapazinho no carro, que só tinha dois lugares. Chegamos, bebemos e nada de o pessoal aparecer. Lá pelas cinco da manhã decidi ir embora. Quando levantei, o homem virou outra coisa. Aí, vi a morte. “Você não vai!”, gritou. Trancou a porta e começou a arrancar minha roupa. Meu instinto funcionou: “Espera aí, calma...”. Tirei a roupa, abri as pernas e disse “pode vir”. Pronto, acabei com ele. O estuprador quer luta, aí que ele fica com o pau mais duro. Mas não lutei, ele brochou e começou a chorar. Daí, falei: “Bom, então, posso ir?”.

Você nasceu em fevereiro de 1945 e é filha de um russo e uma alemã que se conheceram no combate. Você acredita mais na guerra ou na paz? Sou filha da guerra. Acredito na paz, mas nós não estamos prontos para ela. A gente não pode ter paz por enquanto. Não agüento as pessoas que ficam pedindo paz, paz, paz. Quando um nobre, como minha mãe, casaria com um russo fodido? Só na guerra mesmo. Na guerra, ninguém é nada, ninguém é rico, nem nobre, nem porra nenhuma. A guerra nos nivela. No Brasil, o fato é que nós só excluímos, excluímos, excluímos pessoas... E não preciso ser socióloga para saber o elementar: se tenho um brinquedo e não divido com meu irmãozinho, um dia ele vai pegar o brinquedo na porrada. E é isso que nós fizemos. Nós somos bonzinhos [diz em tom irônico], mas deixamos nossos irmãos na fila do Inamps.

Seu pai foi preso num campo de concentração soviético na Sibéria por ter lutado contra a pátria na Finlândia. Como ele conseguiu fugir? Ele conseguiu fugir pela frente, depois de tentar duas vezes escapar pelas cercas elétricas. Então, se escondeu atrás de um arbusto, mas foi descoberto por um policial. Só que tem umas coisas na vida que a gente não sabe ex- plicar... Parece que os deuses tocam e, de repente, a humanidade grita mais alto dentro da pessoa: o policial abriu o arbusto, olhou para meu pai, fechou o arbusto e disse para os colegas que ali não tinha ninguém. Até o fim da vida meu pai pro- curou esse cara, mas nunca o encontrou. Na França, meu pai foi preso de novo, e eu participei do plano de fuga: como era um bebê muito sorridente, minha mãe escondeu uma arma em mim e consegui passar pela revista, pois fiquei beijando o solda- do, que acabou se distraindo.

Como foi a chegada ao Brasil? No Rio de Janeiro, fomos levados para a Ilha das Flores, onde os imigrantes ficavam de qua- rentena e só saíam dali com emprego. Meu pai foi procurado por um pessoal do Sul, de colônia estrangeira. Ele disse: “Olha, não leva a mal, mas eu vim para o Brasil. Quero virar brasileiro. Não quero ficar como vocês, com um pé lá outro cá...”. Um homem sábio meu pai. Um tipo inesquecível. Daí veio um senhor de Itabira, Minas Gerais, dono de uma fazenda um pouco abandonada, dizendo que o único problema de lá é que só tinha negro. Meu pai respondeu: “Problema nenhum, viraremos negros”. Então fomos.

Quais são as lembranças mais doces da vida na fazenda? Eu gostava demais de cavalo. Tinha até calo na bunda. Não gostava de boneca. Agora, depois de velha, que gosto de boneca. Minhas artes de criança eram diferentes: pegava o cavalo e sumia dois dias... Voltava, apanhava que nem um cão, mas fazia tudo de novo. Morei um tempo no interior de São Paulo e fui para Belo Horizonte. Reparei as diferenças da roça e da cidade: criança de roça tem medo de boi bravo, cobra, raio; na cidade o medo é outro, é medo de gente, de assassino, de estuprador – e não fui criada com medo de gente, logo não tinha medo dessas coisas, e nem tenho até hoje. Adoro ser da roça por isso.

Quando chegou ao Brasil, tinha medo de homens negros... Tinha medo porque não conhecia. Medo do desconhecido. Levei um susto, chorei.

O que aconteceu para admirar o homem negro mais do que o branco? Meu pai me pegou pela mão na roça e me levou na casa de uns negros. Disse para eu passar o dia lá. Meu amor, o medo durou cinco minutos, porque dali a pouco eu já estava em estado de graça, não queria mais ir embora. Eles são um exemplo – além de serem mais fortes, física e espiritualmente. O branco é o retalhador. O negro não. Você vê o que fizeram com Nelson Mandela e ele não fez uma retaliação.

Quando seu pai faleceu? Ele escolheu o dia e avisou que ia morrer. Morreu tranqüilo, uma maravilha. Foi na véspera de Natal de 86.

“Faço tudo errado. Passar creme é de vez em nunca”
Elke Maravilha

Você tem medo da morte? Não, claro que morrer esfaqueada eu não quero. Agora, medo de morrer não. Morro todo dia quando vou dormir. Um dia você acorda aqui, outro dia você acorda lá [risos]. Uma vez, minha outra secretária foi me acordar e não conseguia... Levou uns 15 minutos para conseguir. Quando ia chamar a ambulância, acordei. Sonhava com um lugar maravilhoso, cheiroso, um outro planeta, que as pessoas eram lindas... Mas percebia que estavam me chamando na Terra... E eu não queria voltar, cacete.

Você tem pressa de ir para o “outro lado”? Olha, estou pronta. Se for o caso, não quero ficar muito mais. Ficar muito velho eu não acho graça não. Acho que devam existir lugares bem interessantes para conhecer longe daqui.

O que significa não “querer ficar muito mais”? Meu pai morreu com 65 anos, uma idade boa de se morrer. Essa coisa de viver muito, não acho bom... Morrer senil numa cama, hum...

Antes de virar modelo e estrela da televisão, o que você fez? Trabalhei como recepcionista num banco em Porto Alegre e fui secretária de uma empresa inglesa. Fiz um ano de medicina. Escolhi depois fazer letras clássicas, porque adoro grego. Dei aula de latim, e fiz mais dois anos de filosofia.

Como começou a carreira de modelo? Estava no Rio, casada com Alex, o Grego [Alexandros Evremidis foi o primeiro marido, autor de Melissa, livro que é uma espécie de biografia não autorizada de Elke]. Ele deu a idéia de eu ser modelo. “Você vai ser a modelo mais conhecida do Brasil”, disse. Então, me apresentei para Guilherme Guimarães, que era o maior costureiro da época e ia fazer um desfile. Não tinha experiência como modelo.

“Só sei me maquiar com espelho pequeno. Maquiagem não esconde, revela”
Elke Maravilha

E o primeiro desfile? No Golden Room do Copacabana Palace. Aquelas socialites todas lá, e as manequins do Guilherme, gente como Vera Barreto Leite, a primeira manequim da Chanel. Entrei na passarela e dei de cara com a Vera vindo... “Caralho, o que é que estou fazendo aqui?” Me deu um medo... Pensei: “Sabe de uma coisa? Vou andar como sei andar”... Ria e ninguém ria, aliás, até hoje ninguém ri na passarela. Aí, disseram que inovei. Inovei nada. Eu só não sabia. As pessoas tiravam o casaco de uma forma chique, e eu puxava e saía pe- lo avesso, mas funcionou.

Foi com o Clodovil que você começou a usar roupas diferentes? Não. Eu já usava assim e ele fazia roupas para mim porque eu era diferente. Ditei a moda. Eu sempre fui diferente, desde que nasci. Eu tinha uns 20 anos de idade quando morei na Alemanha e trabalhei como tradutora-intérprete – só tinha duas mudas de roupa. Todos os dias o pessoal que trabalhava nos setores próximos vinha ver como eu estava. Usava as mesmas roupas de jeitos diferentes. Botava uma coisa com a outra...

Quando você rasgou sua primeira roupa? Foi logo que mudei para o Rio, em 1969. Já usava bota e tinha muita roupa preta. Então vesti uma, e comecei a puxar, mas ela não rasgava porque era de malha – o jeito foi cortar bem curto. Coloquei uma meia roxa, desgrenhei o cabelo, botei batom e fui para a rua. Claro, levei porrada.

Literalmente? Sim. Tenho marca até hoje. Eram seis rapazes, em Ipanema, e me deram muita porrada.

Já sofreu outras agressões na rua só pelo modo de se vestir? Sim, levei uma cuspida. Não lembro o que vestia.

Quais são os estilistas que você admira hoje? Walério Araújo, de São Paulo, e Breno Beauty, de São João del Rey, que faz enfeites lindos de cabeça, chifres... Adoro chifre! E adoro John Galliano.

Quando surgiu a primeira peruca na sua vida? Um dia mandei fazer uma com rabo de cabelo falso. Queria cabelo de negro. Desde a infância. Quando era pequena, lá na roça, e as negras tiravam as tranças e o cabelo ficava enorme, eu ficava encantada! Que cabelo maravilhoso! E elas diziam: “Não, o teu que é bom, e o nosso é ruim”. Achava o meu cabelo bem pior. Então, pensei em um dia ter cabelo de negra.

Você se preocupa em se produzir para ir à esquina? Não me preocupo. Me ocupo. Me pinto para ir à esquina, mas não perco muito tempo com isso.

Por que Chacrinha foi tão especial? Primeiro porque ele é gênio. Gênio não dá para explicar. O mais importante: o Chacrinha era bra-si-lei-ro! Nós não temos mais nada brasileiro. Silvio Santos é cópia de Estados Unidos. Ratinho também é cópia de baixaria americana. Nós viramos americanos. Na hora que demos a bunda para o americano, fodeu.

Quando surgiu o termo Maravilha em seu nome? Foi Daniel Mas, jornalista já falecido. Recebi o apelido em 1973, um ano depois de eu começar com o Painho [forma como Elke se refere a Chacrinha].

Como foi trabalhar com o Silvio Santos? [Silêncio] Ele não é uma pessoa legal.

Por quê? Os valores são muito diferentes... Uma pessoa que joga aviãozinho de dinheiro e faz as pessoas se amesquinharem é estranho... O Silvio Santos tentou me manipular. Ele ficou puto. Queria que eu desse zero para o calouro... Dizia que eu atrapalhava o programa, pois só dava nota máxima. Respondia dizendo que daria zero só se ele levasse políticos como o Quércia ao programa. Não sou covarde. Continuei dando 10.

Quais são os homens que você admira? Tem dois homens que admiro muito hoje em dia. Um é de Câncer, Nelson Mandela, e outro é de Peixes, Osama bin Laden. 

O Osama mostrou que tudo é possível. Basta acreditar... Impressionante aquilo... Foi nos colhões do poder... Um divisor de águas: é antes dele e depois dele.

Além de ter uma atitude diferente no modo de se vestir, por que você virou símbolo de transgressão na década de 70? Porque nunca fiz o jogo dos outros. O que as pessoas achavam bom eu não dava valor. Claro que não estou fora do sistema. Mas nunca dei valor, por exemplo, a ser contratada da TV Globo. Outro momento marcante foi minha prisão em 1971. Cheguei ao aeroporto e vi cartazes “pro- curam terroristas”. Saí rasgando tudo e fui presa na hora.

Quanto tempo ficou presa? Seis dias. Numa cela com quatro subversivas e duas reféns – uma de 13 e uma de 15. A Zuzu Angel que me tirou de lá.

Como foram os dias na prisão? Não aceitei usar o uniforme de presa. Lembro que estava com a roupa rasgada. Disse que não ia trocar. Até a hora que fui interrogada. Peguei um lápis verde, fiz uma sobrancelha enorme, enchi a cara de ruge e desenhei uma boca gigante. Eu tinha um diabinho de camelô na bolsa, que fazia fuc-fuc... Até que me deram uma porrada na cara. Não fui torturada.

Nunca pensou em ter filho? Fiquei grávida e tirei. Não sei educar uma criança.

Tirou por achar que não saberia educar... Achar não. Certeza. Qualquer burro pare. E depois?

“Fiquei grávida e tirei três vezes. Não sei como educar criança”
Elke Maravilha

Mas como ter certeza de uma situação pela qual nunca passou? Eu não sei o que falar para uma criança. Do jeito que as pessoas educam, tô fora. Setenta por cento das mães não deveriam ter filhos.

Com quantos anos você engravidou? Com 21, 24 e outro que não me lembro.

Você já casou oito vezes. Com qual marido ficou mais tempo? Com o Sacha. Estamos juntos há 12 anos.

O que te agrada hoje na música? Gosto desde caipira até punk rock: Sepultura, Ramones. Descobri depois de velha que gosto disso. Sou boa inclusive para cantar. Gosto muito de música clássica.

O que presta na TV? João Gordo e Marília Gabriela. Gosto de documentários de história. Saia Justa às vezes é interessante.

Três filmes... Meu Ódio Será sua Herança [Sam Peckinpah, 1969]; Alexander Nevsky [Eisenstein, 1938]; e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro [Glauber Rocha, 1969].

O que te emociona na vida? O conviver é uma coisa que me emociona muito. Gente me emociona, gente.

Personagens de rua, prostitutas, mendigos... permeiam sua vida. Você aprende muito com eles? Ah, com certeza. Os loucos, os chamados loucos – que de loucos não têm nada, só estão em outra realidade –, os presidiários, as prostitutas, os gays. Eu considero essas pessoas anjos, mensageiros mesmo. Aprendo com eles o valor da liberdade. Os loucos gostam mui- to de mim porque sou igual, não sei como escapei do hospício [risos]. Talvez porque eu tenha senso de humor e eles não.

Você também tira muitas lições da natureza, não é? Com certeza. Eu fui criada na roça. Meu pai dizia que as pessoas da roça são sábias, pois aprendem tudo com a natureza. A experiência de viver na fazenda me fez entender até os gays... Às vezes, uma vaca já com o bezerro grande, estava pronta para transar de novo... E o touro cheio de vontade de transar, mas os fazendeiros não queriam que a vaca transasse para ela não deixar de dar leite. Então, num cercado especial, botavam um boi gay junto com o touro e eles acabavam transando. Daí, entendi que a mãe natureza manda os gays... Imagina quanta gente a mais morrendo de fome ia ter no mundo, se não houvesse o gay? Porque a mulherada perdeu a chave da buceta... Portanto, se você conhece a mãe natureza, você não tem preconceito.

Como você acha que a mãe natureza se sente com a destruição que o homem está proporcionando no planeta? Não é o homem. Você tem essa pretensão? Nós somos o peido, do peido, do peido. Nós somos mandados pela mãe natureza. Se elas nos deu isso aqui [diz apontando a própria cabeça], e os elementos, é porque ela queria isso. É pretensão do ser humano dizer que está destruindo a mãe natureza. E principalmente do homem branco. Porque o homem branco é um pretensioso, se acha. Mas nós somos simples instrumentos.

Colaborou Luara Calvi Anic

Créditos

Imagem principal: Rui Mendes

fechar