Após rodar o mundo, duas mulheres abrem as portas do sobrado onde moram no bairro de Perdizes, em São Paulo, para discutir soluções de como viver melhor nas cidades
Em frente ao sobrado no número 1409 da rua Bartira, há um banco de madeira onde está escrito: “Pode sentar”. O convite agora se estende à sala de estar. A jornalista Natália Garcia, 32 anos, e a ilustradora Juliana Russo, 39, abriram a porta da casa delas no bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, para receber pessoas interessadas em discutir soluções para melhorar a vida na maior cidade do país.
O sobrado é a sede do Cidades para pessoas, projeto criado em 2011 e bancado por financiamento coletivo na plataforma Catarse. Por meio dele, Natália e Juliana percorreram 14 cidades fora do Brasil em busca de exemplos de iniciativas bem-sucedidas para melhorar a qualidade de vida nas metrópoles. Entrevistaram arquitetos, urbanistas, políticos e ativistas em locais como São Francisco, Nova York, Berlim, Barcelona e Cidade do México e contaram a experiência em um blog, um canal no YouTube e um diário ilustrado de viagem.
O projeto cresceu e Natália começou a ser convidada para dar palestras pelo Brasil. Agora ela e Juliana querem usar o conhecimento acumulado para resolver questões concretas da capital paulista. À Tpm, elas falam do novo projeto, batizado de Sala Aberta.
Tpm – Como surgiu a ideia do Sala Aberta?
Natália – A gente tinha vontade de abrir a nossa casa para colocar em prática tudo aquilo que pesquisamos ao longo dos anos com o Cidades para pessoas. O Sala aberta e o Cidades para pessoas são dois projetos paralelos, mas um alimenta o outro com inspirações e trocas. Nosso objetivo é transformar o olhar das pessoas para a própria cidade. Isso passa por ideias de arquitetura e urbanismo, mas também por outras possibilidades de trabalho, rotina e vida em geral.
Que atividades vocês pretendem desenvolver?
Natália – Uma das propostas é oferecer oficinas de uma semana de duração que tenham como objetivo escolher um problema de um espaço público e buscar uma solução para ele. É algo inspirado no Mesa&Cadeira [empresa que organiza workshops com especialistas para resolver problemas específicos], sou amiga da Bárbara Soalheiro, jornalista e fundadora do Mesa&Cadeira. Queremos nos concentrar em ações que provoquem transformações verdadeiras ainda que muito pontuais, por exemplo, numa esquina da cidade.
Vocês já resolveram algum problema concreto por meio de uma oficina?
Natália – Por enquanto, só fizemos uma. O problema escolhido foi a passarela de pedestres que passa em cima da avenida Rebouças, ao lado do Hospital das Clínicas. Muita gente prefere não usar a passarela e o desafio foi tentar transformá-la numa experiência mais desejável. Então criamos um pórtico de bambu com panos de chita pendurados, como se fosse um varal gigante, que colore e sombreia a trajetória. Também colocamos bancos pelo caminho. Foi uma intervenção simples, financiada com 5 mil reais obtidos pelo Catarse.
O pórtico continua na passarela?
Natália – Sim, mas agora precisamos trocar as chitas porque elas ficaram velhas.
Vocês criaram recentemente um manual de crowdfunding. Qual é o objetivo dele?
Natália – Muita gente nos procura dizendo: “Tenho uma ideia de fazer algo na minha cidade, mas não sei como colocá-la em prática usando financiamento coletivo”. Então, no final do ano passado, criamos um manual de crowdfunding com base nas nossas experiências e nas de outros projetos que consideramos os mais relevantes no Brasil. Neste ano a gente quer cuidar de projetos como esses e ver como podem ser replicados em outras cidades. O fato de ter viajado para 14 cidades de outros países e quase 100 no Brasil fez com que eu criasse uma rede grande de ativistas que trabalham para melhorar suas cidades. Quero aproveitar essa rede para novos projetos.
Que outras atividades vocês pretendem desenvolver no Sala Aberta?
Natália – Estamos em processo de curadoria do que vamos fazer. Uma das ideias é que a nossa casa vire um ponto de encontro para ciclistas, aproveitando o fato de que a Avenida Sumaré é fechada para os carros aos domingos. Muita gente vai de bicicleta até o Parque da Água Branca, então nossa casa pode ser um local de parada. Queremos oferecer um brunch na nossa cozinha.
Juliana – Outra ideia é ter uma lojinha como a do Clube Juventus, no bairro da Moóca, onde se vende camisetas com desenhos das casinhas tradicionais do bairro. Quero desenvolver uma série de desenhos e mapas afetivos que falem do nosso bairro, Perdizes. Também temos marcada uma oficina de desenhos para o próximo dia 31 de janeiro. Os interessados podem entrar em contato pelo e-mail: projetosalaaberta@gmail.com
Vai lá: cidadesparapessoas.com