Conheça a durona Ana Paula Durão, amiga íntima de Xuxa e segurança de Ivete Sangalo
Sábado, fim de tarde. O ruído da sirene desvia a atenção dos olhos de Ana Paula. Olhos de águia que se movem como radar do topo do 1,92 metro da moça de 35 anos. Eles caçam pela janela do apartamento de 35 metros quadrados o epicentro da ocorrência policial. Ana Paula mora em um andar alto, nas cercanias do hotel Cambridge, às margens do centrão de São Paulo. Na prateleira próxima à janela, binóculos e outros apetrechos de uso profissional, ops, pessoal – Ana Paula é uma só, não despe a “farda” nem para dormir, não tem essa de repouso, está sempre pronta para entrar em ação em nome da justiça. Resolve a parada sozinha, do jeito dela. Algemas, faca, lanterna, canivete, bastão retrátil (uma espécie de cassetete), carteira preta com distintivo dourado onde brilha a profissão, ops, a pessoa: agente de segurança. “Se vejo alguém sendo assaltado, vou atrás. É horrível, eu sei. Sei que posso me dar mal. Mas é uma força que me move, incontrolável”, confessa. “Sempre ando com algemas. Se alcanço o bandido, prendo no poste e ligo para a polícia. Já peguei uns dez.” A faca, não usa na rua. “Fico só brincando de abrir e fechar, enquanto assisto a filmes policiais.” A faca prateada da agente é dessas que a lâmina rasga o ar quando um botão é acionado. Perigosa.
Além de exercer funções administrativas em um escritório de advocacia, a paulistana Ana Paula Durão Coelho faz a segurança de empresários e artistas. Trabalha para a casa de shows Credicard Hall, para boates e para cantoras como Ivete Sangalo e Wanessa Camargo. O ídolo nacional que alterou os rumos de sua vida, porém, foi Xuxa. Com ela, Ana percebeu ter aptidão para o trabalho de segurança. A relação com a apresentadora da TV Globo começou de forma quase mágica: aos 12, 13 anos, a fã conseguiu fazer com que uma carta chegasse às mãos do ídolo. “Ao voltar para casa, minha avó deu o recado: ‘A Xuxa te ligou’. Aí, fiz contato com o hotel onde ela estava e marcaram um horário para eu aparecer no dia seguinte. Quando a encontrei, nem acreditei. Ela disse: ‘Fala comigo, sou uma pessoa normal’.”
Ana diz que desde então “Xuxa parou de ser uma deusa e virou gente”. Nascia ali uma relação de amizade. De acordo com a agente de segurança, algum tempo depois de se conhecerem, a apresentadora passou a acolhê-la em casa, no Rio de Janeiro. “Comecei a ter problemas com a minha mãe por questões particulares e fugia para o Rio de Janeiro para ficar com a Xuxa. Cheguei a dormir na cobertura da Barra da Tijuca. Também conheci a Casa Rosa [em Vargem Grande] e outras propriedades dela.”
Segundo Ana, graças à sua estatura, Marlene Matos, então empresária da apresentadora, teria pedido que ela ajudasse nos cordões de isolamento na hora de afastar os fãs da rainha. “Percebi que podia fazer muito mais do que um simples cordão de isolamento.” Pronto. Meteu na cabeça que trabalharia como segurança. Com o passar dos anos, concluiu diversos cursos com essa finalidade e fez a segurança particular para alguns amigos ao pôr em prática uma de suas paixões: pilotar moto – já teve quatro. “Com a moto em movimento, chutava moleques de rua ao perceber que eles estavam roubando um carro.”
A administradora de condomínio gaúcha Graziella Malta Bertotto, de 32 anos, conhece Ana há 15. “Ela age em situações de perigo de uma forma que não é normal”, resume. “Já disse pra Ana que ela é meio perturbada.” Graziella narra a vez que estava de papo com a amiga na rua Augusta quando aconteceu um roubo logo ali, perto delas. “Ana viu o cara armado, roubando um motorista com a cobertura de um segundo bandido. Ah, ela não teve dúvida: saiu correndo atrás de um enquanto ligou para a polícia pegar o outro. Ela chegou a acertar um chute no fugitivo, que acabou preso mais à frente, pelos PMs. Saiu até no jornal.”
Alberto Pisani Neto, publicitário paulistano de 37 anos, é outro amigo que nota uma postura, digamos, diferenciada de Ana em lugares públicos. “Mesmo quando saímos pra nos divertir, ela parece trabalhar. Toma conta de todo mundo na balada, fica em pé num canto da pista, de braços cruzados, cara séria, atenta.” Ana lapidou a vocação inscrevendo-se em diversos cursos, como o de formação de vigilante. Lá, viu que tinha ótima mira no tiro. Aprendeu a combater incêndio, defesa pessoal, primeiros socorros, direito penal. Lá, conheceu o instrutor de segurança Clayton Magno. “Durante a formação de vigilante, ela participou de um curso tático de sobrevivência na selva, com nível elevado de stress, negociação de refém, bomba, curso mais para policial militar mesmo”, recorda Clayton. “Já sabia que ela era calma e muito centrada, então, decidi desafiá-la e avisei que faria tudo para ela desistir. E realmente fiz.” O instrutor conta que no obstáculo chamado de “ralo” ele judiou da aluna. Passou lama na cara dela. Falou barbaridades ao pé do ouvido. Aprontou até ouvir o desabafo: “Eu te odeio!”. E Ana... não desistiu.
Na sala de Ana, a maior foto mostra Hugh Jackman interpretando Wolverine, em X-Men. Outra imagem, no entanto, chama mais a atenção. A foto do pai, Gilberto Durão Coelho, acelerando uma moto. A maior vontade da agente, a curto prazo, é juntar grana para comprar logo outra moto. “Isso é herança do meu pai”, arrisca o irmão de 38 anos, Rodrigo Durão Coelho, jornalista da BBC. “Ela idolatrava meu pai. Só queria saber dele. Ficou desnorteada quando ele morreu.” Ana tinha 5 anos de idade. “Talvez, em cima de uma moto, ela se sinta mais próxima dele.” Gilberto se matou com um tiro na cabeça enquanto falava pelo telefone com a ex-mulher, mãe de Rodrigo e de Ana.
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