Há dois investimentos que nova-iorquinos da gema não fazem jamais: um é comprar luvas caras. Impreterivelmente esquecemos uma das mãos (sempre uma) no metrô, no táxi ou no restaurante. A segunda péssima idéia é o guarda-chuva estiloso. Desista. Quando bate um vento nessa ilha, nem Mary Poppins agüenta. Com os primeiros pingos, já se escuta em qualquer esquina o apelo de africanos que brotam – sei lá donde – com um sonoro “umbéla, umbéla, fai dóla” (o que pode ser traduzido como “umbrella, for five dollars”). Bom, com um guarda-chuva de cinco dólares espera-se tudo, menos ficar seco.
O assunto já foi mencionado na coluna do comediante Randy Cohen, que responde perguntas sobre ética na revista dominical do New York Times. Acontece que, quando chove em Nova York, são colocados porta-guarda-chuvas nas entradas de lojas, restaurantes e festas. Cada um deposita o seu, e o pega na saída. Só que, de vez em quando, por bem ou por mal, alguém passa a mão no guarda-chuva alheio. Então um leitor perguntou a Randy se seria ético as vítimas de guarda-chuvas afanados fazerem o mesmo. Randy não titubeou: “Já que todo mundo tem guarda-chuva bagaceiro em Nova York, vá lá e pegue o do outro”, respondeu.
Pois sábado passado foi dia de tirá-los do armário. Eu só pensava num amigo que acordou dizendo que ia ao US Open – se fosse de pólo aquático até que estaria valendo, mas acho que a intenção dele era ver algum tênis. A chuva e ventania eram tal, que os seres humanos normais ficaram em casa. Os não muito normais saíram para encarar a tempestade – como, por exemplo, minha amiga Lilia Teles, correspondente da TV Globo, e eu. E, voilà, meu guarda-chuva italiano (não, não foi cinco dólares) também me traiu. Solução: nos divertir. E ali estávamos, duas mulheres que tiveram infância, sim, na esquina da rua 14 com a Nona Avenida, também conhecida como Meatpacking District, observando a desgraça dos outros: a luta com guarda-chuva do avesso. Duas repórteres, algum sadismo e uma crise de gargalhada.
Lilia, com seu lenço vermelho enrolado na cabeça estilo muçulmana, tentava me converter para a religião. Não teve sucesso. Até porque àquela altura meu cabelo equiparava-se a um espanador. Meu objetivo ali era fotografar aquelas cenas. Vestida “apropriadamente” de bege de cima a baixo, eu não sabia se ria, se protegia a câmera da chuva, se tirava os meu longos cachos esvoaçantes do rosto ou se fazia tudo junto.
Notamos dezenas de guarda-chuvas depenados pelas calçadas e latas de lixo (foto acima); caminhões de lixeiros passavam para recolhê-los. E, para a minha surpresa, avistei Helena, minha amiguinha de três anos de idade, com sua capa de chuva de joaninha, voltando da livraria com o papai. “Meu guarda-chuva do Elmo, do Vila Sésamo, voou”, disse ela com os olhinhos arregalados. “Mas uma moça pegou pra mim”, concluiu. Ufa. Entre guarda-chuvas mortos e feridos, Elmo sobreviveu. Um herói.
O assunto já foi mencionado na coluna do comediante Randy Cohen, que responde perguntas sobre ética na revista dominical do New York Times. Acontece que, quando chove em Nova York, são colocados porta-guarda-chuvas nas entradas de lojas, restaurantes e festas. Cada um deposita o seu, e o pega na saída. Só que, de vez em quando, por bem ou por mal, alguém passa a mão no guarda-chuva alheio. Então um leitor perguntou a Randy se seria ético as vítimas de guarda-chuvas afanados fazerem o mesmo. Randy não titubeou: “Já que todo mundo tem guarda-chuva bagaceiro em Nova York, vá lá e pegue o do outro”, respondeu.
Pois sábado passado foi dia de tirá-los do armário. Eu só pensava num amigo que acordou dizendo que ia ao US Open – se fosse de pólo aquático até que estaria valendo, mas acho que a intenção dele era ver algum tênis. A chuva e ventania eram tal, que os seres humanos normais ficaram em casa. Os não muito normais saíram para encarar a tempestade – como, por exemplo, minha amiga Lilia Teles, correspondente da TV Globo, e eu. E, voilà, meu guarda-chuva italiano (não, não foi cinco dólares) também me traiu. Solução: nos divertir. E ali estávamos, duas mulheres que tiveram infância, sim, na esquina da rua 14 com a Nona Avenida, também conhecida como Meatpacking District, observando a desgraça dos outros: a luta com guarda-chuva do avesso. Duas repórteres, algum sadismo e uma crise de gargalhada.
Lilia, com seu lenço vermelho enrolado na cabeça estilo muçulmana, tentava me converter para a religião. Não teve sucesso. Até porque àquela altura meu cabelo equiparava-se a um espanador. Meu objetivo ali era fotografar aquelas cenas. Vestida “apropriadamente” de bege de cima a baixo, eu não sabia se ria, se protegia a câmera da chuva, se tirava os meu longos cachos esvoaçantes do rosto ou se fazia tudo junto.
Notamos dezenas de guarda-chuvas depenados pelas calçadas e latas de lixo (foto acima); caminhões de lixeiros passavam para recolhê-los. E, para a minha surpresa, avistei Helena, minha amiguinha de três anos de idade, com sua capa de chuva de joaninha, voltando da livraria com o papai. “Meu guarda-chuva do Elmo, do Vila Sésamo, voou”, disse ela com os olhinhos arregalados. “Mas uma moça pegou pra mim”, concluiu. Ufa. Entre guarda-chuvas mortos e feridos, Elmo sobreviveu. Um herói.