Sáris que deixam o umbigo de fora, personagens que falam como profetas e por aí vai
Sáris que deixam o umbigo de fora, personagens que falam como profetas e por aí vai. Chamamos dois especialistas em Índia para analisar a trama de Glória Perez. E aproveitamos para sugerir temas para próximas novelas da autora!
Depois do mundo árabe retratado na novela O Clone, agora é hora de o país inteiro só falar da Índia, porque, claro, a novela da Glória Perez tem um núcleo lá. Por aqui, começamos a pensar, será que eles estão mostrando o país (adorado por tanta gente) do jeito certo? E tratamos de conversar com especialistas no assunto.
A jornalista Mariana Scalzo, duas viagens de meditação para a Índia e noveleira confessa, de cara soltou: “Os sáris da novela são sáris da Gang”. Explica-se. Na telenovela, as meninas aparecem com a saia indiana de cintura baixa, coisa, segundo ela, completamente fora da realidade indiana. “Olha, sári com umbigo de fora, só no Projac.”
Apesar de achar legal que a novela aborde a Índia, “amo tanto aquele lugar que quero mais é que todo mundo conheça um pouco da cultura”, Mariana tem outras críticas. “Os indianos são pessoas normais, na novela eles falam como se fossem profetas! O personagem do Lima Duarte [Shankar, um mestre] chega a erguer os braços enquanto fala. Parece que lá as pessoas não conversam, ficam só falando em tom de profecia.”
Nosso colega Arthur Veríssimo, o maior especialista em Índia do mundo – ele foi para o país mais de 15 vezes –, avisa que só viu três capítulos da novela. Mesmo assim, acha que a equipe está bem assessorada e, por isso, mostrando uma imagem da Índia convincente. “A parte da Índia está legal pra caramba. O diretor de fotografia é demais.” A única coisa esquisita, segundo Arthur, é ver a personagem da Juliana Paes “andando toda contente pelas ruas”. “Ali é todo mundo vigiando a vida de todo mundo, não é moleza não.”
E nosso sacerdote vai adiante: “O Caio Blat, por exemplo, não tem noção alguma de movimentos de dança indiana, ele é duro”, observa.
E mais nenhuma reclamação, Arthur? “Só o que falta na novela é mostrar o lado mais bizarro do país. Mas só popularizar um país como esse, que tem tanto a ver com o Brasil, já é bacana”, diz.
Moda indiana
Além de mostrar algumas maluquices sobre a Índia, a novela criou uma febre de penduricalhos indianos. A moça indiana é a nova Jade (O Clone, lembra?). E, segundo apuramos, já existe taxista carioca falando “namastê” em vez de “até logo”.
“A 25 de Março [rua de comércio popular de São Paulo] já está cheia de acessórios indianos”, diz Mariana Scalzo. E, nas bancas, vemos dicas e mais dicas de como pintar o olho com cajal, como fazer um jantar indiano etc. etc. etc.
Leia mais sobre a Índia, nos próximos meses, em alguma não entrevista do mês. Sim, porque alguma hora teremos nos cansado, e muito, desse assunto, como provavelmente todo o resto do país. E, até lá, namastê!
E nos próximos capítulos...
Depois de criar uma febre árabe no país e uma country (lembra da novela América?) e agora trazer a Índia para a 25 de Março, que tipo de país ou etnia será que a autora Glória Perez vai explorar? Aproveitamos este espaço para enviar sugestões.
Namíbia. Esse país africano anda muito em voga desde que Angelina Jolie e Brad Pitt adotaram crianças no país africano. A novela poderia ter um núcleo rico no Brasil, que teria, claro, uma personagem com câncer de útero (doenças são outros temas que a autora adora) que decidiria adotar uma criança na Namíbia, onde alguma personagem brasileira faria um trabalho social.
Paraguai. Uma personagem brasileira compraria muamba lá. Por isso, teríamos um núcleo de personagens comerciantes paraguaios. Seria ótimo, pois os personagens falariam em portunhol selvagem (a “língua” adotada por alguns escritores brasileiros e paraguaios). Hablariamos muy bien y el dialeto se espalharia por todo el Brasil.
Faixa de Gaza. Essa novela seria ótima, pois possibilitaria que a autora criasse, além do núcleo brasileiro, o israelense e o paquistanês. Claro, um casal que se ama desesperadamente ficaria separado. Um deles na Faixa de Gaza e outro em Israel. O problema é que seria realmente perigoso para os atores gravarem na região!
Berlim. Como a cidade está na moda entre os alternativos em geral, a novela representaria o cotidiano de um grupo de brasileiros artistas plásticos vivendo em um squat (prédio ocupado). Claro, a novela mostraria também as diferenças entre as antigas Berlim Oriental e a Ocidental. E teria a história de um casal que viveu anos separado por causa do Muro de Berlim e hoje passa a velhice em paz, reunido.