Carolina Dieckmann, entrevista sincera e sem frescura

por Ariane Abdallah
Tpm #96

Sem reservas, a atriz fala à Tpm sobre temas distantes das revistas de fofoca

Ela já estampou mais de cem capas de revista, é habituée de sites de fofoca, processou o Pânico na TV e ganhou fama de arrogante.

Há anos, o Brasil a vê ir à praia, casar, separar, comprar bolsa, ter filho, fazer sucesso, ser tachada de chatinha.

Agora, prestes a voltar ao horário nobre, Carolina Dieckmann concede a mais longa entrevista de sua vida.

Sem reservas, fala à Tpm de antipatia, família, ilha de Caras, privacidade, novela, depressão e outros temas distantes das revistas de fofoca.

Carolina Dieckmann é arrogante, já jogou o carro em cima de um fotógrafo. Não quis vestir as Sandálias da Humildade e processou o Pânico na TV. Metida e sem senso de humor. Você leu no jornal as exigências dela em ensaios fotográficos? E pra que ir à praia com uma bolsa Goyard de R$ 4 mil? Nem boa atriz ela é, só faz novela. Essa menina não tem nada a dizer.

Esses foram alguns dos comentários que chegaram aos ouvidos das repórteres da Tpm quando resolveram colocar na capa a atriz que, aos 31 anos, já estampou mais de uma centena de outras capas e está quase todo dia em sites de fofoca. Na Globo há 17 anos, ela começou na minissérie Sex Appeal (1993), fez a primeira temporada de Malhação (1995), ganhou fama na novela Tropicaliente (1994) e emocionou em Laços de Família (2000), quando raspou o cabelo em rede nacional.

Mas na vida real as cenas também são de chorar. Quem não lembra do casamento dela com o ator e trapezista Marcos Frota? Da primeira gravidez, que não vingou? Do nascimento do filho Davi, 10? Da separação do casal? Do segundo casamento, com Tiago Worcman, diretor do Alternativa Saúde, do GNT? De outra gravidez interrompida? Do nascimento de José, 2? Do fuzuê quando o Pânico a perseguiu para vestir as Sandálias da Humildade – e que, segundo ela, acabou quando eles juntaram 150 pessoas na porta de seu prédio gritando “piranha” até a polícia chegar?

Mas naquela quinta-feira, ao meio-dia, Carolina saiu de casa tranquilamente e não levou a bolsa de R$ 4 mil para a praia de São Conrado, bairro povoado de edifícios luxuosos, no Rio de Janeiro. Só de biquíni, vestido e Havaianas, deixou a chave na portaria e atravessou a rua para dar um mergulho. Dois paparazzi, num bar na calçada, a cumprimentaram de longe.

Na verdade, o dia dela começou bem antes. Às sete da manhã, já havia movimento na sala de seu apartamento, iluminada pela luz natural da varanda e decorada com piso branco e cadeiras coloridas em volta da mesa de jantar. Tiago saiu do quarto com cara de sono e José no colo. Em seguida, Carolina levou o garoto para a escola bilíngue, mas pediu que esta repórter esperasse do lado de fora – não queria invadir a privacidade da apresentadora Angélica, que estava lá com o filho.

Antes do almoço, Carolina deu uma lida no roteiro de Passione, próxima novela das oito e 11ª de sua carreira, prevista para começar em maio. Para fazer uma repórter paulistana, a atriz tem usado filtro solar, contra a vontade. Já o chocolate e a Coca-Cola diários ela não negocia nem quando está de dieta. Também não frequenta academia – mas se equilibra de pé sobre uma bola de pilates.

Fala, Carolina!

Quando ela saiu do mar, os paparazzi continuavam lá. “Tiraram foto minha?”, pergunta a atriz. “Quase... mas ele falou pra eu não tirar”, diz um. “Que tal deixar você em paz, né, Carol?”, sorri o outro.

Depois de dois dias na sombra de Carolina sem testemunhar nenhum piti, a reportagem da Tpm chama de canto Ana, a funcionária da casa. “Ela está disfarçando por que estou aqui?” “Juro pela felicidade do meu filho que é a melhor patroa que já tive”, defende a senhora.

Só resta, então, ouvir o que Carolina tem a dizer. Sentada no sofá de sua casa, ao lado da amiga Maria Ribeiro (atriz e colunista da Tpm que participou desta entrevista), Carolina fala. Muito. Alto. Sem desviar o olhar. Sobre exposição, fama, Pânico, casamento, filhos, corpo, intrigas, novela, amigos... e a estranha mania de ver a vida pelo lado bom.

Tpm. Quando comentei que iria te entrevistar, muita gente perguntou: “Nossa, por que ela?”. Você tem fama de antipática. Por quê?
Carolina Dieckmann. Olha, desde os meus 18 anos pessoas me dizem: “Não é legal ser tão falante, se abrir tanto”. Mas sou grata à minha espontaneidade. Ao fato de não ter vergonha das coisas. Não fico criticando uma coisa por ela ser cafona em vez de tirar proveito. Talvez eu tenha feito um monte de gente torcer o nariz pra mim, tenha falado demais em algumas circunstâncias, tenha me exposto demais. Mas... qual é o grande problema disso?

Para fazer estas fotos, seu agente nos enviou a maior lista de exigências da história da Tpm: “duas passagens aéreas, tarifário Top, água mineral (com e sem gás), Coca-Cola zero, light e normal, Red Bull light, Mate Leão com limão (diet e normal), sucos, café, leite, chás (diversos), frutas da estação, barrinhas de cereal (...) e um carro de luxo com quatro portas, ar-condicionado e motorista”. Por que faz questão dessas coisas? Nossa, não sabia dessa lista. Você me viu utilizar alguma dessas exigências? Eu tomei uma Coca zero, comi três esfihas... Do jeito que a lista está aí, soa arrogante, não tem a ver comigo.

Você não tem receio de queimar seu filme, sendo representada desta maneira? Talvez. Não faz sentido a pessoa causar todo esse mau impacto, ainda mais se eu não faço questão de nada disso. Mas acho esse meio, de empresários, difícil. Vejo pessoas serem enganadas, eu mesma já fui. Então, o meu agente pode ter uma porção de coisas fora da realidade, mas é por querer que eu seja bem recebida, para proteger minha imagem. E é honesto. Isso, pra mim, é a coisa mais importante numa pessoa.

Você já foi capa de mais de cem revistas, está toda semana em sites de fofoca e tem os principais momentos da sua intimidade registrados pela imprensa. Pra que tanta exposição? Desde que comecei a trabalhar, nunca pensei sobre isso. Eu tenho mania de ver o ponto positivo das coisas. Muitas vezes, nem vejo o lado ruim. Essa coisa da imprensa é um exemplo. Eu só via o lado bom. Tipo: ilha de Caras. “Você quer ir pra uma ilha, em Angra, paradisíaca e, pra você estar lá, tira umas fotinhos?” Eu falei: “Lógico!”. Mas nunca fiz alguma coisa e falei: “Venham fotografar”.

Você acha cafona sair em revistas de fofoca? Claro que a Caras é cafona. Foto de casamento é cafona. Novela é cafona. Tem um monte de coisa cafona que adoro, talvez eu seja cafona. Quando estou fazendo capa de Nova, visto uma pombagira de poder, praticamente um travesti [risos]. Não sou aquela pessoa. Visto a roupa que a editora manda, a maquiagem que ela quer vender ou conceituar. Encarno uma personagem e me divirto. Na última que fiz [em outubro de 2009], estava parecendo aquelas mulheres da abertura do Fantástico, com um pano de oncinha transparente molhado [risos].

"Claro que Caras é cafona. Foto de casamento é cafona. Novela é cafona. Tem um monte de coisa cafona que adoro"

Você já se arrependeu dessa superexposição? Já. A primeira vez que vi o lado ruim foi quando o Davi nasceu. Fiquei amiga da repórter da Caras e combinei exclusividade com ela. Marcamos a foto para o dia seguinte ao que ele nasceu. Só que, na hora, comecei a chorar, a me sentir invadida. Foi difícil porque fiquei me sentindo uma escrota de dizer que não ia fazer. Me arrependi profundamente de ter marcado. Saí com uma cara horrível na foto. Foi dilacerante, mas só na hora. Quando foi publicada, não tive esse pensamento: “Ai, que cafona!”. Tô nem aí.

Você vai continuar frequentando a ilha de Caras até ficar velhinha? Já não vou na ilha de Caras há muitos anos. Fazia sentido quando era tudo engraçado, era excêntrico uma revista ter uma ilha, existia um glamour em cima da cafonice. Não havia um mercado de celebridades. Fui até onde não me critiquei. Mas depois do nascimento do Davi comecei a ponderar essas coisas.

O Quiroga (astrólogo de O Estado de S. Paulo) disse, em entrevista ao Trip FM, que pessoas públicas têm que ter muito jogo de cintura para ficarem mais ou menos saudáveis. Se não, seu “corpo emocional” sente muito. Você já se sentiu sem energia, desvitalizada? Já. Mas, se me sinto esgotada, tomo banho de mar, de sal grosso. Não dou atenção. Quando você acredita, abre espaço para isso. Não gosto de alimentar o pensamento: “Oh, o peso da fama”.

Se importa com o que os outros pensam sobre você? Comecei a me importar muito. Até uns seis anos atrás, só enxergava o feedback positivo da minha carreira. Eu era uma espécie de namoradinha do Brasil, a mocinha. E gostava disso, quero que minha vida seja de mocinha mesmo. Mas depois do episódio traumático com o Pânico na TV começou a ter gente me odiando.

O que aconteceu com o Pânico? Eles estavam na festa do fim da novela Senhora do Destino [2005], e eu não dou mais entrevista pra emissoras que não sejam a Globo, porque quando raspei o cabelo [na novela Laços de Família, 2000] dei entrevista pra um cara que não tinha identificação no microfone. Eu não sabia, mas ele era do Gugu e colocou no ar no domingo. Foi a primeira vez que o Gugu ganhou do Faustão. Na segunda-feira, me ligou o diretor da Globo e me deu um esporro. E eu não dei mais entrevista para outra emissora. Então, naquele dia do Pânico, entrei no carro e fechei o vidro. Isso significou, para as pessoas, que me acho tão o máximo que não dei entrevista pro programa que mais fazia sucesso na época. E eu não satisfeita, processei. Pô, processei porque os caras colocaram um guindaste na porta da minha casa, 150 pessoas gritando “Piranha!”. Mandei carta para todos os vizinhos, me desculpando.

Você assistia ao programa? Nem sabia o que era. Eles faziam sátiras comigo, com o Marquinhos, meu ex-marido, toda semana. Depois de um mês e meio, pararam na frente do prédio, meu filho e os vizinhos não conseguiam entrar. Chamaram a polícia, e eles saíram algemados. Ganhei o processo, mas não pedi dinheiro, só que não tivessem o direito de citar meu nome nem o dos meus filhos. Até ganhei uns R$ 50 mil, mas não lembro por que, se era alguma multa... Paguei meu advogado e doei o resto. O dano moral é incalculável. Virei sinônimo de antipatia. Mas nunca tive problema nem com paparazzo...

Ouvi dizer que você jogou o carro em cima de um fotógrafo... Imagina, nunca! Pelo contrário. Outro dia o paparazzo do shopping Fashion Mall, que é o que mais me enche, tirou a foto e depois veio: “Carol, posso te dar um presente que minha vizinha bordou?”. Falei: “Claro, gato”. Eu estou fora da minha casa, pode me fotografar. Não vou dizer que sou contra eles, que são a escória do jornalismo, urubus. É o trabalho deles, problema deles.

Até 2009 você tinha um blog, onde desmentia matérias. Não é perda de tempo se justificar? Não perdi nenhum segundo, só ganhei. Foi a primeira vez que falei com as pessoas que acompanham meu trabalho a ponto de ler um blog. Eu tinha um tempo disponível, estava amamentando o José. As pessoas começaram a parar de inventar coisas. Lembro uma vez que falaram: “Carolina Dieckmann foi ao Fashion Mall e maltratou a vendedora”. Desmenti na hora. No outro dia fiquei sabendo quem era, passei na loja e falei: “Amor, o que fiz contra você?”.

Você foi até o shopping só para isso? Não é um desgaste de energia desnecessário? Fui. Ela falou: “Foi um mal-entendido...”. Não era verdade, poxa... que feio fazer isso. Acho uma puta sacanagem você falar mal de uma pessoa sem ela estar lá pra se defender. Odeio mal-entendido.

Muita gente também comenta sobre sua bolsa Goyard. Por que você vai à praia com uma bolsa de R$ 4 mil? Porque aquela bolsa só vale pra pegar avião e ir pra praia. É uma bolsa de plástico, grande, cabe tudo.

Você gasta muito em roupa? Posso gastar muito e posso ficar muito tempo sem gastar nada. Agora, por exemplo, estou usando um vestidinho Marisa, gata! Não tenho vergonha de usar uma calça de US$ 3 mil nem um vestido de R$ 30. A Manu [Carvalho, stylist] uma vez falou: “Carol, uma sandália boa, nos Estados Unidos, custa US$ 500. Mas ela só vale se você usar, pelo menos, cem vezes”. Tenho uma mala da Louis Vuitton há mais de dez anos. Na época eu paguei uns R$ 5 mil. Mas já usei muito mais que 500 vezes, então me custou menos de R$ 10 por vez.

Como é um dia na sua vida? Não tenho rotina. Agora que estou gravando a novela, tem dias que acordo às cinco da manhã, vou pra São Paulo, gravo, vou para o hotel. No ano passado, estava de licença, então ia para a praia todo dia, que é o que gosto de fazer.

Você tem ídolos, gente em que se espelha? Não. Mas acontece de eu ter algum questionamento e ter uma resposta para aquilo. Tipo, alguém fala: “Uma pessoa não pode ser grande atriz se não fizer teatro”. Não, ela pode. Alguém vai falar que a Gloria Pires não é boa atriz?

Se sente cobrada por não fazer teatro? Eu acho tão burro, tão caído quando a pessoa me cobra isso. Claro que acho rico a atriz fazer todas as coisas. Mas não vou fazer teatro porque “tem que fazer” ou só pra sair na Tpm, entendeu? Não penso: “Esse convite é pra onde?”. Vou atrás do personagem. Se o cara trabalha numa borracharia ou na indústria mega de pneu, ele é melhor ou pior borracheiro? É isso que importa

Você assiste a novelas? Assisto, adoro. Tenho prazer de trabalhar na Globo, de ser mãe e ter um ano e meio de licença, de fazer novela no Brasil. Do mesmo jeito que, se eu fizer uma peça, não quero que vá assistir só a [crítica do jornal O Globo] Bárbara Heliodora e [o cineasta e diretor de teatro] Domingos Oliveira e meia dúzia de gente cult. Faço televisão pelo ideal de levar arte pra pessoas que nem sabem que cinema existe. Essas pessoas têm o melhor de mim.

Se te chamassem para fazer um filme com preparação da Fátima Toledo, você toparia? Não sei. Agora que comecei uma nova novela, alguém, não lembro quem, propôs que eu fosse para o bar com o [ator] Gabriel Wainer e a [atriz] Gabriela Cunha, que contracenam comigo: “Não querem tomar um chope, conversar da vida?”. Eu falei: “Não. As respostas do meu personagem estão no texto, não estão no bar”. Ter intimidade com o ator não me interessa. Estou ali para trabalhar.

Você tem alguma ambição? Talvez minha grande ambição tenha sido ter parto normal. Eu tinha um desejo profundo disso, e, se pudesse desejar uma coisa pra humanidade, desejaria que toda mulher tivesse parto normal!

Seus dois filhos nasceram de parto normal? Sim. No segundo, tinha 80% de chance de ser cesárea. E eu brigava com meu médico: “Se você abrir minha barriga, vou te odiar”. Eu estava negociando com Deus, com o diabo, sei lá com quem. O médico diz: “Se você não fizer força, não vai nascer”. É emocionante sentir isso.

Você colocou silicone depois de amamentar o segundo filho? Sim.

Por quê? Quando vi, no ano passado, que não ia mais ter filho, pensei: “Então vou dar uma consertadinha neles [seios]”. Mas o silicone que coloquei foi pra deixar meu peito próximo ao que ele era, como se a amamentação não tivesse detonado. Não coloquei pra ficar mais jovem ou maior.

Seus seios “detonaram” depois da amamentação? Não é assim também, vai. Mas a pele do bico ficou um pouco maior do que eu gostaria. Tenho horror a peito de silicone até hoje, não queria colocar. Só queria que o médico cortasse o bico e recolocasse menor. Mas ele disse que isso não ficaria bom, então topei arriscar o silicone.

“Não posei nua porque nunca consegui justificar isso pra mim. Acho que você não pode ter tanta gula com dinheiro”

Você deve receber muitas propostas para posar nua... Milhões, gata.

Quanto já ofereceram? Eles não falam: “Te dou R$ 1 milhão”. As revistas têm como vender pra patrocinadores e conseguir até R$ 10 milhões. Não posei até agora porque nunca consegui justificar pra mim. Acho que você não pode ter tanta gula com dinheiro.

Você casou aos 18 anos com Marcos Frota. Por quê? Ué, porque amava ele. Aos 18 anos seria nova para casar se estivesse entrando na faculdade. Mas comecei a trabalhar com 14. Com 18, comprei meu carro, acordava cedo para gravar, tinha maturidade. Me apaixonei por um cara mais velho, com três filhos, viúvo, só fazia sentido casar.

Pensou que fosse pra sempre? Fiquei sete anos casada, achando que era pra sempre. Mas ficava muito sozinha. Todo fim de semana, ou fui pro circo com ele ou fiquei sozinha. Qual a graça de ser casada e não dar o almoço no domingo em casa? Chegou uma hora que me dei conta de que não era feliz, que tapava buracos. Tenho essa facilidade de ser feliz, de achar em todo limão uma limonada, então pensava: “Ter um marido que não está aqui dá saudade”. Quando vi, tinha mais saudade do que ficava com ele. Quando não aguentei mais justificar pra mim mesma, fiquei intimamente dilacerada.

E como manifestava isso? Dormia muito, 18 horas por dia. Agora analisando, acho que fiquei deprimida. Lembro que nas minhas entrevistas da época, dizia: “Dormir é a melhor coisa do mundo”.

Nessa época já existia o Tiago na sua vida? Não. O Marquinhos foi viajar, ficou 20 dias fora. Eu botava o Davi pra dormir nove da noite, saía, ia jantar com o Alex [Lerner, jornalista]. Me sentia tão à vontade, pensava: “Quero me sentir assim. Não quero ficar culpada e voltar pra uma casa que não tem ninguém me esperando. Por que não saio todo dia? Mas pra que estar casada se é pra sair todo dia?”. Esse tipo de questionamento.

Quando estava mal, você ligava pra alguma amiga, mãe...? Não tenho o hábito de incomodar alguém pra falar de sofrimento. Resolvo melhor sozinha. Nunca existiu: “Vem pra cá. Estou desesperada. Vou tomar um tranquilizante”.

Você toma algum remédio para dormir? Nunca tomei. Me trato com o mesmo homeopata a vida inteira. Só tomei antibiótico uma vez, quando tive uma infecção urinária, durante a gravidez do Davi. Comecei a beber há um ano e fico bêbada com três chopes.

O Tiago era um amor platônico de infância? Era. Ele era da escola, da idade do meu irmão mais velho. Sempre falei dessa história. Até que, na época de Mulheres Apaixonadas, eu tinha acabado de me separar, e a gente se cruzou num jantar da Regina [Casé]. Ele perguntou, no meio da mesa: “É verdade que eu era seu amor platônico?”. “É.” Aí ele: “Vamos tomar um chope?”. No dia seguinte, fui na casa dele. Fiquei sentada numa poltrona inflável rosa com um livro de apartamentos japoneses, com aquele olhar de criança. Ele era um personagem. Tomei duas taças de vinho e falei: “Vou embora”. Aí ele falou: “Posso te dar um beijo?”. Falei: “Pode”. Três dias depois, ele perguntou: “Quer ser minha namorada?”. E eu falei: “Quero”.

O que mudou no segundo casamento? Se no primeiro eu tentei tapar os buracos pra ficar casada, no segundo fiz o contrário pra só ficar casada se fosse fundamental. Com o Marquinhos, a relação que a gente tinha com o sentimento era de verdade, mas o casamento não existiu. Já meu casamento com o Tiago borbulha realidade. A gente divide contas, decide viagens juntos...

Você ainda acha que casamento é pra sempre? Acho. Só vale a pena casar se acreditar nisso.

O Tiago não gosta de aparecer, né? Não.

Isso já gerou conflitos entre vocês? Já, com o José. Eu não entro nessas viagens de privacidade. “Não vou expor o meu filho.” Hoje não exponho o Davi porque ele não gosta. Mas, com o José, fiz um ensaio para a Contigo! quando ele tinha 6 meses. Adorei ter feito as fotos. Mas o Tiago falou: “Não quero mais”. Ele sempre deixou claro que não tem negócio, e eu respeito.

Você já perdeu dois bebês. Um aos 19 e outro aos 28 anos. Como foram as experiências? O segundo não foi tão sofrido porque saiu o resultado do exame no dia que perdi. Estava grávida de dois meses, havia tomado a pílula errado. Mas o primeiro, foi barra-pesada. Fiz um ultrassom no terceiro mês e a médica falou: “Não tem bebê”. As células começaram a morrer mais rápido do que se reproduziam. Tive que abortar a bolsa. Meu médico falou que eu tinha que ficar três ciclos sem engravidar. Mas engravidei do Davi no primeiro e deu tudo certo.

Você saiu na capa da Caras nessa época. Como foi? Eles tiraram uma foto minha na janela de casa, mas não posei, não queria sair. Eles ligaram e fizeram umas perguntas.

“Não entro nessas viagens de privacidade. Hoje não exponho o Davi porque ele não gosta”

O que a maternidade mudou na sua vida? Eu sou aquela mãe que fala pra amiga: “Você vai saber o que fazer quando seu filho chorar”. Fui aprendendo a confiar no meu instinto. Tenho amigas que contratam enfermeiras, achando que elas vão saber tudo. Qual a graça?

Você é mãe de dois meninos. Como é sua relação com eles? Muito natural porque tenho intimidade com o despojamento masculino. Eu tenho três irmãos [Bernardo, 34, e os gêmeos Frederico e Edgar, 29], cresci jogando futebol, indo no judô, fazendo xixi no mato da estrada quando íamos viajar. A única coisa de mulherzinha que aprendi foi pintar a unha, parei de roer. Mas não hidrato o cabelo, não gosto de creme...

Como você educa seus filhos? Quando o Davi tinha uns 4 anos, deixei ele cair dois degraus da escada de casa. Porque toda vez ele vinha correndo e a gente falava: “Não corre, é perigoso”. Só que a criança não entende até o dia que cai. Não aconteceu nada. E nunca mais ele caiu de nenhuma escada. Acredito que meu amor é fazer isso. Tem mãe que fala: “Ai, não aguento”. Pô, um dia alguma coisa vai acontecer, e seu filho vai cair porque não sabe que aquilo machuca. Minha mãe sempre falou: “Não preciso estar com você pra você saber o que fazer”. Ela nunca me levava em gravação da Globo, porque trabalhava. Eu ia com o motorista. Lembro que tinha comentários: “A Carolina vai ficar drogada, a mãe largou”.

Qual sua relação com drogas? Uma vez falei pra minha mãe que as pessoas falavam que eu ia virar drogada, que eu ia fumar maconha. Em vez de dizer: “Esquece, filha”, ela perguntou: “Quer experimentar? Se quiser, a mamãe compra e fuma com você”. Acabou que nunca fumei maconha.

E sua relação com seu pai? Meu pai é meio militar. Engenheiro naval, bravo. Hoje em dia nem tanto. Depois que vira avô, fica babão com seu filho e passa a te respeitar como mãe. Mas, quando eu era mais nova, minha mãe era o diálogo, e meu pai, a palmada.

Sua casa pegou fogo quando você tinha 10 anos. Como foi? Meu pai deixava o ar-condicionado ligado durante o dia, e a fiação da casa era antiga. Uma vez, deu um curto-circuito e explodiu. Cheguei da escola e não tinha mais casa nem roupa pro dia seguinte. Um pouco antes, tinha acontecido de o Collor fechar o mercado naval e depois fez aquele negócio da poupança. Então, meu pai era rico e ficou pobre. Ele é colecionador de carro antigo e, na época, tinha uns 15 carros. Foi vendendo e reconstruiu a casa aos poucos.

Li que seus pais viveram anos na mesma casa, embora separados... É... Minha mãe morava no andar de baixo, e meu pai, no de cima, até seis anos atrás. Quando a casa pegou fogo, eles estavam para se separar, mas resolveram reconstruir tudo juntos antes. Era esquisito porque a gente via eles juntos, mas sabia que não estavam mais.

Você já fez terapia, ioga, alguma coisa para se entender melhor e entender melhor o mundo? Faço mapa astral uma vez por ano com uma terapeuta bioenergética, que me atendeu antes da separação do Marquinhos. Fiz terapia naquela época pra conseguir me separar. Era muita angústia. Hoje, acho gostoso perceber o quanto sou abençoada. Sou feliz. Acho uma sacanagem uma pessoa que não tem problema não ser feliz.

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