O termômetro bate quase 40 graus Celsius em Nova York, coisa para senegalês nenhum botar defeito. Poucos seres humanos conseguem passar mais de cinco minutos do lado de fora – a não ser aqueles que não abrem mão de serem os primeiros a comprar o iPhone, telefone bate palminha e faz pipi, da Apple, que começa a ser vendido às seis da tarde desta sexta-feira. Na porta da Apple Store, aberta 24 horas na Quinta Avenida com rua 59, o plantão de iFãs começou na segunda-feira. É gente que consegue ficar alguns dias sem tomar banho, algumas horas sem usar o banheiro – mas jamais ficar sem Internet.
Menor do que parece – até meio-dia de quinta, a fila contava com 17 pessoas – o evento é uma aventura antropológica. A galera ganhou o Tetris Cube, uma espécie de cubo-mágico: quem conseguir solucioná-lo, ganha um iPhone e um plano telefônico. E todos tentam. Os participantes já viraram amigos de infância entre si, chamam-se por números (de acordo com o lugar na fila), sabem se comportar, são simpáticos e não cansam de repetir a mesma ladainha para as dezenas de jornalistas que os abordam. “Já apareci nos jornais da Dinamarca, do Japão, sem falar no New York Post”, diz Jessica, do Bronx, 24 anos, também conhecida como a número 3. Passando por lá na segunda-feira, ela conheceu o número um e o número dois, e resolveu acampar a partir de terça de manhã. Detalhe: arrastou a mãe, uma senhora que sofreu um derrame e está com o lado direito do corpo paralisado - a vantagem é que ela chegou a ser patrocinada para ficar na fila.
O objetivo de Jessica é comprar o presente de aniversário da irmã – e depois que ganhou seus dias de fama mundial, aproveita para dizer que busca um trabalho na área de moda. “Mesmo se for pra servir café”, diz. Ela conta que, na noite de quarta-feira, a chuva estilo arca de Nóe que baixou na cidade castigou a moçada. “O hotel Ritz Carlton nos deu toalhas e cobertores. Todo mundo ficou ensopado, tirando o número 1, o aposentado Greg Parker, que já virou celebridade - deixaram ele entrar na loja”, revela. “Esta é uma experiência que nos coloca na perspectiva do que é ser um mendigo”, conta ela, não se tocando que mendigos sequer sabem o que é Ritz Carlton – e vice-versa.
Além de mãe e filha, há mais uma mulher: Rebecca, que mora no West Village. E ela também está lá por amor. “Meu namorado pediu”, diz ela, enquanto se enrosca com o tal cubo. Isso é amor, hein? “Que nada, nunca disse a ele que o amo”, responde. Nem precisa. “Ele paga as contas porque estou desempregada. É o mínimo que posso fazer”, diz ela, complementando que ele foi generoso o suficiente para substituí-la durante a tempestade da madrugada. O número seis é o mais novo, de 16 anos – diz que entrou de férias ontem e que desistiu do cubo. “É demais pra mim, só dormi uma hora.” Logo depois vem Vincent, que veio de Phoenix, no Arizona (do outro lado do país). Sentado com seu iMac no colo, ele não pára. Diz que trabalha com tecnologia, dá cartão de visita, socializa e até tira foto se você pedir. Ele “mora” na fila ao lado de Mark, um nova-iorquino que tirou folga e conta que parte da família sempre trabalhou pra IBM. Sorte dele, seu escritório fica a quadras dali, onde ele toma uma chuveirada, um problema para a maior parte dos demais.
Logo depois vem a dupla infalível Geoff e Scott. Ambos do Brooklyn, também com seus laptops. Geoff tomando sol (chegou a me pedir, brincando, pra passar bronzeador nas costas) e Scott blogando – inclusive sobre esta entrevista! “Tirei dois dias de folga no escritório”, diz ele. E o que chefe disse?? “Morreu de ciúmes”, respondeu. “Ficar aqui é bem melhor – imagina ficar sentado sendo entrevistado por mulheres gatas!”, acrescenta. Casado há cinco anos, a mulher de Scott nem se espantou: ele também se plantou na fila do Star Wars, em 1999. “Me ferrei daquela vez, o filme foi uma droga”, lembra. “Se eu não gostar do iPhone, vou vendê-lo imediatamente.” Enquanto isso, o vizinho ao lado, estilo hermitão, com piercing na boca, sem camisa, lenço na cabeça e aquele objeto anti-social (o iPod), jogava paciência com as cartas doadas aos participantes da fila por um canal de televisão. Doa-se tudo, menos iPhone.
Talvez a história que mais encante seja a do número dois, o David, que veio de Chicago e está acompanhado pelo pai. Assim que comprar seu iPhone, ele colocará no eBay. Vai leiloar e todo o dinheiro será doado para a fundação TapRoot, que incentiva profissionais a usar seus talentos pro bono para ONGs. “Claro que, enventualmente, vou quer um iPhone, mas a minha presença aqui tem outro objetivo.” E da fila do iPhone ele dá o recado: “O Brasil pode muito bem replicar esta idéia.” Até porque, daqui a alguns meses, o iPhone já será notícia velha.
Menor do que parece – até meio-dia de quinta, a fila contava com 17 pessoas – o evento é uma aventura antropológica. A galera ganhou o Tetris Cube, uma espécie de cubo-mágico: quem conseguir solucioná-lo, ganha um iPhone e um plano telefônico. E todos tentam. Os participantes já viraram amigos de infância entre si, chamam-se por números (de acordo com o lugar na fila), sabem se comportar, são simpáticos e não cansam de repetir a mesma ladainha para as dezenas de jornalistas que os abordam. “Já apareci nos jornais da Dinamarca, do Japão, sem falar no New York Post”, diz Jessica, do Bronx, 24 anos, também conhecida como a número 3. Passando por lá na segunda-feira, ela conheceu o número um e o número dois, e resolveu acampar a partir de terça de manhã. Detalhe: arrastou a mãe, uma senhora que sofreu um derrame e está com o lado direito do corpo paralisado - a vantagem é que ela chegou a ser patrocinada para ficar na fila.
O objetivo de Jessica é comprar o presente de aniversário da irmã – e depois que ganhou seus dias de fama mundial, aproveita para dizer que busca um trabalho na área de moda. “Mesmo se for pra servir café”, diz. Ela conta que, na noite de quarta-feira, a chuva estilo arca de Nóe que baixou na cidade castigou a moçada. “O hotel Ritz Carlton nos deu toalhas e cobertores. Todo mundo ficou ensopado, tirando o número 1, o aposentado Greg Parker, que já virou celebridade - deixaram ele entrar na loja”, revela. “Esta é uma experiência que nos coloca na perspectiva do que é ser um mendigo”, conta ela, não se tocando que mendigos sequer sabem o que é Ritz Carlton – e vice-versa.
Além de mãe e filha, há mais uma mulher: Rebecca, que mora no West Village. E ela também está lá por amor. “Meu namorado pediu”, diz ela, enquanto se enrosca com o tal cubo. Isso é amor, hein? “Que nada, nunca disse a ele que o amo”, responde. Nem precisa. “Ele paga as contas porque estou desempregada. É o mínimo que posso fazer”, diz ela, complementando que ele foi generoso o suficiente para substituí-la durante a tempestade da madrugada. O número seis é o mais novo, de 16 anos – diz que entrou de férias ontem e que desistiu do cubo. “É demais pra mim, só dormi uma hora.” Logo depois vem Vincent, que veio de Phoenix, no Arizona (do outro lado do país). Sentado com seu iMac no colo, ele não pára. Diz que trabalha com tecnologia, dá cartão de visita, socializa e até tira foto se você pedir. Ele “mora” na fila ao lado de Mark, um nova-iorquino que tirou folga e conta que parte da família sempre trabalhou pra IBM. Sorte dele, seu escritório fica a quadras dali, onde ele toma uma chuveirada, um problema para a maior parte dos demais.
Logo depois vem a dupla infalível Geoff e Scott. Ambos do Brooklyn, também com seus laptops. Geoff tomando sol (chegou a me pedir, brincando, pra passar bronzeador nas costas) e Scott blogando – inclusive sobre esta entrevista! “Tirei dois dias de folga no escritório”, diz ele. E o que chefe disse?? “Morreu de ciúmes”, respondeu. “Ficar aqui é bem melhor – imagina ficar sentado sendo entrevistado por mulheres gatas!”, acrescenta. Casado há cinco anos, a mulher de Scott nem se espantou: ele também se plantou na fila do Star Wars, em 1999. “Me ferrei daquela vez, o filme foi uma droga”, lembra. “Se eu não gostar do iPhone, vou vendê-lo imediatamente.” Enquanto isso, o vizinho ao lado, estilo hermitão, com piercing na boca, sem camisa, lenço na cabeça e aquele objeto anti-social (o iPod), jogava paciência com as cartas doadas aos participantes da fila por um canal de televisão. Doa-se tudo, menos iPhone.
Talvez a história que mais encante seja a do número dois, o David, que veio de Chicago e está acompanhado pelo pai. Assim que comprar seu iPhone, ele colocará no eBay. Vai leiloar e todo o dinheiro será doado para a fundação TapRoot, que incentiva profissionais a usar seus talentos pro bono para ONGs. “Claro que, enventualmente, vou quer um iPhone, mas a minha presença aqui tem outro objetivo.” E da fila do iPhone ele dá o recado: “O Brasil pode muito bem replicar esta idéia.” Até porque, daqui a alguns meses, o iPhone já será notícia velha.