Ano novo na Índia: descabelada na caverna sagrada

por Elka Andrello

Tivemos que sair da cama muito cedo, enfrentar o frio do Himalaia e as estradas indianas

 

A passagem do ano e da década foi comemorada de um jeito bem diferente. Ao invés de pular 7 ondas no mar, tomar champanhe e dar abraços e mais abraços, dessa vez eu fiz uma peregrinação na cidade sagrada de Tso Pema com a Graziela e a minha querida amiga Juliene. É isso, começamos essa nova década como peregrinas, por dentro com a aspiração no coração de encontrar as bençãos do Buda Padmasambava e remover obstáculos para o ano novo, e por fora totalmente descabeladas e amassadas, já que tivemos que sair da cama muito cedo e enfrentar o frio do Himalaia e a aventura que é viajar nas estradas indianas.

 

Há milênios, pessoas de todos credos e crenças viajam para lugares sagrados nos endereços mais exóticos e inusitados do planeta. E a Índia é um prato cheio nesse sentido, foi aqui que entre outros grandes seres, o Buda Shakyamuni nasceu como o príncipe Sidharta Gautama , se iluminou, ensinou e passou para o paranirvana, e vai ser aqui que  Maytrea, o próxima buda, irá surgir e se iluminar. A Índia é a maior reserva espiritual do planeta, tipo a Amazônia espiritual, não só para busdistas, mas para hinduístas, jainistas, e vários outros “istas”.  Os tibetanos se referem à ela como “a terra dos seres sublimes”.

 

O granda lama budista e talentoso diretor de cinema, Dzongsar Khyentse Rinpoche, disse uma coisa muito legal sobre lugares sagrados: “os budistas em busca da iluminação usam os mais variados gadgets disponíveis para alcançar a iluminação, e peregrinar até lugares sagrados é um deles”. O que te move a  deixar de ir para um lugar bacana como a Europa e fazer uma viagem desconfortável, cara e até mesmo perigosa, para um lugar sagrado, muda o jeito que você percebe as coisas num nível sútil e profundo. Visitar um lugar sagrado e acreditar nas bençãos desse lugar, cria condições da mente perceber os fenômenos ao redor de uma maneira diferente, dá insights e amplia os horizontes. A segunda vez que eu visitei Tso Pema, foi porque o Lama Kenpa me orientou a estender bandeiras de oração de Lungta ao lado das cavernas porque eu estava passando por uma situação bastante estressante e do nada sonhava com sapatos todas as noites, o que ele me explicou ser um péssimo sonho para os budistas. O meu lado pragmático achou isso tudo meio exótico demais, mas mesmo assim lá fui eu para Tso Pema. No meio do dia, me perdi das minhas amigas e fiquei procurando por elas sozinha. Uma monja me chamou do nada e mandou eu entrar na caverna secreta do Guru Rinpoche. Eu agradeci, disse que estava procurando as minhas amigas e que já tinha visitado essa caverna. Mas ela insitsiu e praticamente me obrigou a entrar lá. Quando eu dei por mim, estava sozinha dentro da caverna completamente escura e levemente alagada por causa das chuvas das monções. Tanta escuridão foi meio assustador no começo, mas aí eu me dei conta que o Guru Rinpoche tocou as mesma parede que estava me apoiando e fez retiro ali no escuro. O que aconteceu depois não dá para explicar aqui porque foi uma experiência bastante pessoal, mas eu garanto que se eu estivesse no escuro sentada no  sofá de casa, não teria achado as repostas que eu achei na caverna.

 

A Índia é caótica, suja e perigosa, mas sem dúvida nenhuma é uma aventura espiritual, a maior de todas. Eu recomendo para vocês pensarem duas vezes na próxima vez que forem programar suas férias, e ao invés de ir para Londres ou NY, desembarcar no Indira Gandhi e pegar um trem para Varanasi e Bhodigaya.

 

Feliz 2010, um ano novo muito inspirador e cheio de novas experiências!!!

**Um grupo de pessoas organizou o Mandarava Project, para arrecadar dinheiro e construir uma estátua da princesa Mandarava ao lado do lago Tso Pema. Quer ajudar? Vai lá: http://mandaravaproject.com/

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