A criança é o novo adulto II

por Nina Lemos
Tpm #92

Cinco mães comparam sua infância com a dos filhos e concluem que ser criança anda difícil

“Quando eu era criança, não tinha moleza. Comer era o que tinha no prato e refrigerante só no fim de semana. A parte boa era ótima: subia em pé de goiaba, soltava pipa e brincava de queimada! Depois do advento Xuxa, a infância não foi mais a mesma. Vejo meninas que mais parecem miniaturas de gente. De rosa, salto alto e maquiagem. E meninos com a cara grudada na TV. E todos engordando. Tomara que meu filho escape ileso. Já mandei plantar uma goiabeira na praça ao lado!” (Astrid Fontenelle, apresentadora de TV e mãe de Gabriel, de 1 ano)“Uma das piores coisas da infância hoje em dia são as festas. Antigamente, aniversário tinha meia dúzia de brigadeiros, uns balões pendurados e crianças correndo. Hoje, existe uma máfia de bufês infantis que cobram uma fortuna para uma festa de um pirralho de 3 anos. O melhor é que seu filho nasça entre o Natal e o Ano-novo. Aí não vai ter nenhum amiguinho na cidade e você não precisa fazer festa. O trauma? Ele cura quando for adulto, na terapia.” (Raquel Affonso, gerente da MTV e integrante do 02 Neurônio, é mãe de Felix, de 4 anos)
“Quando eu era criança passava horas entretida com meus brinquedos. Estudava à tarde e, quando chegava em casa, comia pão com manteiga e café com leite com açúcar, assistindo ao Sítio do Picapau Amarelo. Hoje vejo crianças estressadas porque vão para o francês, para a aula de circo e para a roda de um contador de histórias. Minha filha vai à escolinha perto de casa, assiste a Backyardigans e Cocoricó e, toco de gente que é, não faz atividades extracurriculares-descoladas. (Renata Leão, diretora de redação da Tpm e mãe de Alice, de 1 ano e 9 meses)“Rodrigo tem 3 anos e vai à creche desde os 5 meses. Quando consigo, fico com ele até às 12h30. Seu pai vai buscá-lo às 19 horas. Chego às 23 horas, para colocá-lo na cama. As crianças de hoje são obrigadas a compartilhar, negociar, ceder e respeitar regras nem sempre compreendidas. Ofereço em casa outra coisa: vale tudo na hora de comer; pode comer vendo TV, subir na mesa pra treinar o salto; transformar tudo em brinquedo, como a imaginação mandar.” (Cristina Fongaro, animadora cultural e mãe de Rodrigo, 3 anos)
“Minha filha tem 3 anos e me peguei querendo matriculá-la no inglês! Mas não seria melhor brincar de bonecas no tempo livre? Eu aprendi a nadar aos 5 anos, com meu pai na piscina do sítio, mas, quando Julia tinha 6 meses, quase foi parar na natação. Consegui esperar até os 3 anos. Ontem me pediu para fazer balé. Minha vontade é matricular já, mas será que duas atividades não é demais? Queria que ela fosse concertista e boa de esportes. Mas, se for chef, o que posso fazer?” (Jéssica DeSilva, publicitária, mãe de Julia, 3 anos)

fechar