Quando alguém me conta que acaba de se mudar para Nova York a trabalho, que a empresa pagou a mudança e que o corretor de imóveis descolou aquele apê supimpa de seis mil dólares mensais, fico com pena do sujeito. Ele está perdendo o melhor da cidade: chegar aqui cavando a vida pelo começo, sem dinheiro nem mesmo para acampar na sala de um desconhecido das Avenidas A, B, C ou D. Para quem não viveu isso, recomendo o musical Avenue Q, em cartaz na Broadway há mais de três anos, vencedora de um TONY (espécie de Oscar do teatro) e que também pode ser vista em Londres. O único inconveniente: quem não fala inglês fluente, bóia. As falas, sacadas e piadas são muito rápidas. Mas para quem domina o idioma, o musical é um estouro. A peça foi escrita a quatro mãos por Robert Lopez e Jeff Marx, que colocaram ali suas próprias sagas. Depois de já ter dividido um cafofo com dois roommates americanos e alguns ratos, só esta peça para me fazer rir do meu passado.
Usando bonecos estilo Muppet Show mesclados com atores, Avenue Q conta a história de um recém formando da Princeton University que chega em Nova York para tentar a vida. Cai na tal Avenue Q (avenida fictícia, mas que deve ser bem pior que a Avenue D), descobrindo o eclético mundo dos vizinhos nova-iorquinos. Para começar, todo mundo ali reclama da vida (“It Sucks to be Me”). Com um zelador negro e um judeu casado com a chinesa, os caras concluem que todo mundo é um pouco racista, mas tudo bem (“Everyone is a Little Bit Racist”). Também concluem que a internet não serve para muito coisa além de pornografia (“The Internet is for Porn”). Sem falar no gay que não sai do armário por ser republicano e trabalhar em Wall Street. Diz que a namorada chama-se Alberta e vive em Vancouver (“My Girlfriend Lives in Canada”). Mas isso não cola. O cara que divide o apartamento com ele é hetero, mas tenta convencê-lo de que ser gay é ok (“If You Were Gay”). Tem também aquela fase deprê pós-fim de namoro quando os amigos tentam nos arrancar pra fora de casa (“There is Life Outside Your Apartmet”). Mas, no final, aprendemos que – ufa! - tudo nessa vida é passageiro (“For Now”). Incluindo o mandato do Presidente Bush! Ou até mesmo um apartamento na Avenue Q.