Mulheres que contaram nas redes sociais seus primeiros assédios escrevem uma carta para si mesmas quando mais novas
Minha querida,
Hoje uma coisa estranha aconteceu. Sei que você ainda não entende exatamente o que foi. Mas você sente que foi agressivo, ruim e sem explicação. Se eu pudesse te dar apenas um conselho, diria para contar para a sua mãe. Ela vai poder ajudar. Sei que você sente vergonha, mas é importante não guardar isso para si, e sabe por que? Porque o que aconteceu hoje não é culpa sua e muito menos é um problema só seu. É um problema de todas as meninas e de todas as mulheres. O que aconteceu se chama machismo. É uma palavra estranha que quer dizer uma coisa horrível: na nossa sociedade, os homens e as mulheres não vivem em igualdade, não tem os mesmos direitos. E por isso alguns homens se sentem autorizados a ter esse tipo de atitude, a fazer as mulheres se sentirem muito mal. Mas você tem que lembrar de uma coisa: eles estão errados. Eles. Por isso ser mulher é incrível, mas também um pouco difícil: porque você vai ter que aprender e também ensinar quais são os seus direitos. Você vai ter que dizer para você mesma e para os outros o que você quer e o que você não quer. Dá um trabalhão, às vezes parece que não vai dar certo, mas é necessário. E como eu já disse, não é só você. Todas as suas amigas e todas as meninas e mulheres que você nem conhece vão ter que fazer a mesma coisa. Então, sabe qual é o segredo? Vocês tem que se ajudar. As mulheres têm que estar juntas, cuidar umas das outras. Pra isso é importante sempre contar o que acontece comvocê para a sua mãe e para as suas amigas. É importante sempre estar disposta a ouvi-las também. E acima de tudo, saber procurar e oferecer ajuda. Lembra daquele disco que você sempre gostou de ouvir, "os saltimbancos"? Tem uma música que diz assim: "todos juntos somos fortes, somos flecha e somos arco. Todos nós no mesmo barco não há nada a temer. Ao meu lado há um amigo que é preciso proteger...”. É isso. Você, suas amigas, as amigas das suas amigas e todas as outras estão no mesmo barco. E em grupo serão muito mais fortes. Então não esqueça: fiquem juntas, contem umas com as outras e façam muito, muito barulho! E nunca, nunca mesmo, deixe de plantar bananeiras! Tenho certeza que vai dar certo!
Um abraço muito forte
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Coraci Ruiz, hoje com 37 anos, era assediada pelas amigos de escola, aos 9 anos. Indignada, ela contou no Facebook a história de seu #PrimeiroAssedio.