A agrônoma que cultivou os direitos do consumidor
Resultados positivos
Em 1987 o Idec (Instituto Brasileiro do Consumidor) ganhou de seus primeiros associados uma máquina de escrever automática para ficar na sede alugada da ONG. Marilena Lazzarini lembra com clareza desse incentivo - simples, mas significativo. O primeiro índicio que a causa conseguira se sustentar por anos. Ainda no cargo de funcionária pública, Marilena batalhou pela construção do Idec, uma associação de consumidores sem fins lucrativos, independente de empresas e partidos politicos, sustentada por associados e instituições que não trazem compromentimento. “Era concursada, mas não me satisfazia se eu trabalhasse com algo com o qual eu não sentisse mudança.” As pessoas estranham quando ela conta. Mas engenheira agronômica pela USP, Marilena deu a primeira guinada mexendo com uma área completamente diferente quando participou do grupo que ajudou a criação do Procon em 1976. “Acho que todas as profissões estão relacionadas ao Direito”.
“Quando você luta pelos seus direitos os resultados são positivos. Vale a pena. Nossa prática mostra isso”
Dez anos depois ela estava na direção do Procon, o que permitiu a experiência para ter a ideia da ONG. “Justamente no período que o país retomava a democracia e um momento de lutas de direitos fazia muito sentido”.
A questão do ressarcimento das poupanças, a criação do Instituto de defesa do consumidor, medicamentos, qualidade dos preservativos, todas foram causas onde o Idec estava presente. Mas o trabalho de transformação não se dava só nessa área. A mudança precisa ser também do consumidor. “Procuramos trazer para consumidor a perspectiva dele ser um cidadão. Normalmente o consumidor tem um lado predador. Sim, tem o lado bom. Consumir deixa a vida agradável, confortável. Mas o lado predador tem que ser levado em conta. Trabalhamos dando orientação para a pessoa consumir, exigir seus direitos. Mas só isso não basta, tem as questões dos limites da natureza, questões do meio ambiente, mudanças climáticas, a capacidade de regeneração do planeta. A equação não fecha.” Outro ponto que Marilena considera é a importância da instituição. “É preciso instituições que construam as reivindicações”.
“Procuramos trazer para consumidor a perspectiva dele ser um cidadão. Trabalhamos dando orientação para a pessoa consumir, exigir seus direitos. Mas só isso não basta, tem as questões dos limites da natureza, questões do meio ambiente, mudanças climáticas, a capacidade de regeneração do planeta”
Deu para entender que não é por acaso que hoje com 65 anos, quatro filhos e avó de cinco garotos, ela considere o Idec quase um filho. Filho que cresceu e começou a andar sozinho. Hoje Marilena faz apenas parte do conselho do Instituto. As causas se modernizam também: a batalha agora é pelo Marco Civil da Internet e contra o fim da rotulagem dos alimentos transgênicos. “Quando você luta pelos seus direitos os resultados são positivos. Vale a pena. Nossa prática mostra isso”.