O boom das publicações indies
Documentário "Impressão minha" conversa com personagens da cena de arte e livros independentes, com depoimentos de artistas e editores
Há alguns anos começou a ganhar corpo em São Paulo uma cena de artistas e publicações indies, focada em distribuir seus trabalhos em feiras tão independentes quanto os trabalhos vendidos. Esses eventos acabaram conhecidos por agregarem uma infinidade de expressões artísticas, como quadrinhos, fotografia, ilustração e livros de artes visuais. Esse ambiente criativo da cena indie paulistana ganha um registro documental no curta-metragem Impressão minha, que reúne artistas e editores dessa cena, que divulgam e vendem seus trabalhos em feiras como Ugra Fest, FeiraMiolo(s) e a Plana Festival Internacional de Publicações.
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“A publicação independente sempre existiu, mas agora tem mais visibilidade por causa das feiras e da internet”, conta João Rabello que, junto com Gabriela Leite e Daniel Salaroli, roteirizou e dirigiu o documentário. “Entre as décadas de 70 e 90, os artistas independentes, principalmente da cena punk, trocavam zines por carta, por exemplo”, explica Gabriela. As redes sociais facilitaram bastante o trabalho de divulgação dos próprios artistas e das feiras — A Plana, por exemplo, realizou uma edição no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, em 2017, quando recebeu 18 mil visitantes.
O que define uma publicação independente?
O filme mostra que as fronteiras que respondem a pergunta acima não são bem definidas. "O termo 'independente' está em disputa e acaba sendo usado inclusive por editoras maiores, com grana pra investir", segundo Daniel. "Fazer um livro ou um zine independente é um processo demorado, não é como publicar 10 livros por mês, num esquema industrial", reflete Gabriela.
Ao contrário de grandes feiras de publicações, como, por exemplo, a Comic Con Experience, as que são apresentadas neste documentário são gratuitas e os artistas pagam preços módicos pela inscrição. Mesmo com esses incentivos, sobreviver exclusivamente de arte ainda é um sonho para grande parte dessas pessoas, que em geral usam o dinheiro das vendas para cobrir custos de impressão ou para publicar novos trabalhos.
Ainda assim, a militância pela arte independente segue superando esses obstáculos de financiamento. “A gente vive um momento de autoexpressão. É sintomático da geração, do contexto, essa necessidade de exposição para aprovação”, pensa João, que leva essa mesma reflexão para o documentário. Os personagens de Impressão minha foram escolhidos com o critério de refletir todo o processo de produção dos artistas, desde a ideia, passando pela impressão e o processo de distribuição e venda nas feiras. Entre os entrevistados, estão Bia Bittencourt (idealizadora da Plana), Cecilia Arbolave e João Varella (da editora Lote 42 e Banca Tatuí), Douglas Utescher (Ugra Press e loja Ugra), Bebel Abreu (Bebel Books) e Beto Galvão (criador da Meli-Melo Press, gráfica pioneira em risografia, processo de impressão similar a serigrafia em cores e texturas, mas com a vantagem de ser um processo digital, portanto, mais veloz e econômico).
Impressão minha será divulgado em feiras de publicações e festivais de cinema, claro, e terá uma exibição dia 14 de julho no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo, a partir das 17h, com entrada gratuita e a realização de um debate com personagens do documentário.
A imagem que ilustra essa matéria é do Jornal de Borda, que aparece no documentário, com arte de Fernanda Grigolin.
Créditos
Imagem principal: Jornal de Borda / Fernanda Grigolin