Hilário isso da gente ouvir uma música e acabar mudando a letra na hora de cantar.
Sempre achei hilário esse negócio das pessoas (eu incluída) ouvirem uma música e, ao cantar, acabarem mudando completamente a letra para algo que, apesar de soar de forma parecida, é invariavelmente engraçado e sem sentido.
O mais clássico é o trocando de biquini sem parar repetidamente entoado pelas moças de olhinho fechado, com um cigarro em uma mão e uma caipirinha de saquê na outra, nas mesas de bar. Mas tem também o Quitéria tem um peixe, e os alpinistas chegando e meus preferidos: o alpiste da Vanessa Rangel e o Bon jovi defendendo a liberdade de ficar nu ao cantar Livin' on a Prayer (It doesn’t make a difference if we’re naked or not...).
O que eu não sabia, até hoje, é que isso tem nome: Virundum. Dizem que a palavra foi inventada pelo Paulo Francis, inspirado no notório Hino Nacional. Segundo ele, as pessoas cantavam "O virundum piranga as margens plácidas". E, mais que nome, tem até blog. O Virunduns, claro.
O que você provavelmente não sabe é que o virundum tem uma explicação científica. O que acontece é que é extremamente difícil entender o que uma pessoa está dizendo (ou cantando) a não ser que estejamos olhando diretamente para o rosto dela.
Há alguns anos, li uma interessante entrevista com um neurologista que usava uma boa analogia para explicar esse fenômeno. Infelizmente não me lembro o nome do doutor para citar aqui. Mas o que importa é que ele dizia que o cérebro funciona como se fosse um detetive entrevistando testemunhas de um crime: a informação auditiva é uma testemunha e a visual é outra. Cabe ao cérebro unir as duas e elaborar a teoria final do que está sendo dito.
Quando se dispõe de apenas uma testemunha (o som da palavra cantada, no caso), torna-se extremamente difícil para o cérebro captar o que está sendo dito. Especialmente se o ambiente for barulhento, com baterias, guitarras, baixos e toda a fantástica parafernália que transforma palavras em música.
Não tem jeito. Eventualmente, você vai acabar trocando de biquini sem parar algumas vezes na sua vida. E isso só quer dizer que você tem um cérebro que funciona (e falha) como o esperado.
(esse texto é do meu blog antigo, mas deu uma repercussão tão divertida lá, que resolvi compartilhá-lo aqui)