De volta

Ilha feminina (e feminista) da cena grunge, L7 retorna ao Brasil, 25 anos após seus dois primeiros e únicos shows no país. Trocamos uma ideia com a vocalista Donita Sparks

por Chico Tattini em

O L7: a guitarrista e vocalista Donita Sparks, a baterista Dee Plakas, a baixista Jennifer Finch e a guitarrista e vocalista Suzi Gardner - Crédito: Divulgação

Exatos 25 anos após seus dois primeiros e únicos shows no Brasil, no extinto Hollywood Rock, o L7 volta ao país. Formada só por mulheres, a banda era uma ilha feminina (e feminista) da cena grunge. Depois de um hiato de 15 anos, Donita Sparks e companhia se reuniram no ano retrasado para um série de shows. “O tempo está passando e falei para todo mundo: ‘Se vamos fazer isso, precisamos fazer agora’”, contou Donita à Trip. Dito e feito: a reunião já produziu singles como Dispatch From Mar-a-lago. “É sobre uma fantasia de um motim acontecendo na casa de férias de Trump”, conta ela.

No embalo, o grupo faz cinco shows no país, de Porto Alegre a Belo Horizonte, entre 1º e 6 de dezembro. Como bis, lançaram o documentário L7: Pretend We’re Dead, que conta a história da banda, ainda inédito no Brasil. Trocamos uma ideia com Donita antes dos shows.

Tpm. Como rolou a reunião da banda?
Donita Sparks.
O tempo está passando e, quando falei com todo mundo, disse: "Olha, vai ser agora ou nunca. Se vamos fazer isso, precisamos fazer agora, enquanto podemos fazer ser real.

E desde então vocês já lançaram dois singles. Sentiram a diferença do lançamento no streaming? Streaming não paga muito, mas nos EUA você também não é pago por tocar na rádio.

LEIA TAMBÉM: Charlotte Gainsbourg pensa sobre a vida, a morte da irmã, envelhecer no cinema e a posição das francesas em relação ao movimento #MeToo

Como surgiu a ideia para “Dispatch from Mar-a-Lago”, primeiro single depois do retorno da banda? A música fala sobre eventos bem atuais. Bem, essa música é sobre uma fantasia de motim acontecendo na casa de férias de Donald Trump chamada Mar-a-Lago, ele passa muito tempo lá. Nós estávamos apenas pensando sobre o que o Serviço Secreto pensa sobre seus tweets e quão ridículo os tweets são. E nós pensamos: “Como esses caras reagiriam a um tumulto acontecendo em tempo real e o Trump tuitando sobre isso?” Tínhamos essa ideia de música e achamos que deveríamos fazê-la imediatamente, porque pensamos Trump ia ser cassado, mas ele não foi. Então, fizemos isso e queríamos dar uma cara divertida, em vez de um olhar muito zangado para o Trump. Não sei se você conhece a música "Primavera para Hitler", do musical da Broadway Os Produtores. Esta é a nossa Primavera para Trump.

Como está sendo a recepção do documentário? Está sendo ótima! Fãs, mídia e outros músicos têm elogiado bastante, até porque tem muita verdade nele, tanto a parte boa quanto a não tão boa assim...

E quando vamos conseguir assistir no Brasil? Não sei! [risos] 

Vocês surgiram na cena musical há quase 30 anos, pararam e agora estão de volta. O que mudou? Quando surgimos, o grunge estava tomando o lugar do metal e era tudo muito novo, todo mundo empolgado e aberto, mas, como tudo, uma hora cansa e nós cansamos também...

LEIA TAMBÉM: Um papo com Phil Cox, diretor do documentário sobre Betty Davis, que marcou a história do funk e antecipou lutas importantes do feminismo

E hoje em dia? Não sei, você pode dizer melhor do que eu, o que acha? [risos]

Que é melhor continuarmos a entrevista! Hoje em dia o L7 é encarado como uma banda de rock, mas na época do Hollywood Rock vocês eram vistas como uma banda feminina de rock. Vocês ainda são vistas dessa forma? Não, hoje em dia conquistamos nosso espaço, as pessoas nos conhecem e sabemos o que fazemos. É como o Stooges, ou você conhece, ou não. Nós somos uma banda de rock e é isso. Nós nunca lutamos contra isso, nós fazíamos nossa música e não deixávamos que isso atrapalhasse.

Sobre o movimento feminino, principalmente na música, como você enxerga o momento atual? Nós não vamos atuar mais pela causa porque achamos que hora de outras artistas levantarem a bandeira. De certa maneira, está na moda dizer que se é feminista, defender o movimento. As artistas pop têm mais espaço na mídia, talvez elas devessem dar um passo à frente e encabeçar alguma iniciativa.

E no cenário político, como está o EUA e o que pode nos dizer sobre a atual gestão? É mais bizarro a cada dia, é quase como um pesadelo... Pensamos que Bush era isso e agora temos essa pessoa totalmente louca. Não acho que isso reflita a maioria dos EUA, mas acho que há muitas pessoas que não estão votando...

E a expectativa para os shows no Brasil? O que podemos esperar? Esperamos muita gente, o brasileiro tem uma energia especial, e podem esperar essa mesma energia da gente!

Vai lá: l7theband.com

Créditos

Imagem principal: Marina Chavez/Divulgação

Arquivado em: Tpm / Música / Feminismo