Tudo o que cantora gosta é de subir ao palco — mas é no camarim, cenário que inspira seu novo disco, que ela se liberta e faz suas maiores confissões
Se para Blubell o palco é um altar, ao chegar em seu quinto disco ela faz do camarim o seu próprio confessionário. Enquanto se ajeita entre plumas e paetê e capricha no batom vermelho, a paulistana escancara a porta dos bastidores para quem quiser entrar e ouvir suas penitências de amor, pequenos prazeres e outros segredos mais.
Autora da maioria das letras presentes no novo álbum, ela reconhece que o nome Confissões de Camarim não vem por acaso. “Esse é o meu jeito. Ainda não consegui compor de outro jeito que não fosse parte de um sentimento meu, que não fosse uma coisa que está acontecendo na minha vida, então acaba que o meu trabalho é bastante confessional”.
Organizado como se fosse uma peça de teatro dividida em três atos — “e isso foi um arranjo acidental”, diz Blubell — o disco traz faixas dançantes, românticas e até um encerramento de ritmo “mais Família Adams”, como brinca a própria cantora.
Diferentemente de Diva é a mãe, disco anterior feito só por ela, dessa vez Blubell contou com a participação de nomes como Zeca Baleiro, Pélico e da banda Mustache e os Apaches. “No Diva as parcerias ficaram arrastadas e eu fui escrevendo. Quando vi, tinha feito o disco todo.”
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Nesse ponto, a paulistana também destaca a participação de seus fãs na consolidação de seu projeto: através de um crowdfunding, ela conseguiu arrecadar cerca de 40 mil reais para a produção do CD. Como recompensa, eles puderam escolher prêmios inusitados como happy hour via skype, telegrama animado e até pocket show particular. “A experiência com as recompensas tem sido maravilhosa, já que eu tenho a sorte de ter fãs muito legais e gente fina. É ótimo poder estar ainda mais próximo deles.”
Ela, que aos 13 anos de idade se meteu a aprender uns acordes de violão sem compromisso com o irmão, hoje celebra seus dez primeiros anos de carreira como uma artista mais confiante e em constante processo de autodescoberta. “Tudo o que eu quero na vida é continuar fazendo o que eu faço cada vez mais, sabe? Só subir no palco, cantar e abraçar as pessoas depois”, afirma.
Mas se engana aquele que acha que a arte de Isabel Fontana Garcia resume-se à mistura fofa de jazz com pop apresentada em suas canções; quem ouve a música Liberdade x Segurança, logo percebe uma situação de conflito pelo que as duas palavras podem vir a significar. Ao ser questionada sobre o que significa ser livre hoje em dia, Blubell admite: “quando o assunto é liberdade, parece que a gente dá dois passos para frente e três passos para trás.”
Apesar de considerar-se uma pessoa mais reservada, Blubell tem manifestado suas opiniões a despeito do cenário político do país em suas redes sociais. “Já me disseram que, como artista, é minha obrigação me manifestar. Eu acho que as pessoas têm o direito de ficar na delas, mas para mim está difícil não falar nada. A gente está vivendo dias de urgência, de gente sendo morta pela polícia. Está grave a situação.”
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Seu desconforto, ela confessa, acentuou-se após os casos de violência delatados nas últimas semanas envolvendo a Polícia Militar e manifestantes contrários à situação política vigente. “Tá muito difícil ficar calado diante de uma situação dessa, dá vontade de pedir socorro pra ONU e até pro Batman, porque tá tudo errado aqui. A gente não pode aceitar o que está acontecendo e tem que resistir de alguma maneira.”
Canções e suas confissões
Para aliviar as tensões, Blubell fez uma playlist especial para a Tpm com algumas de suas músicas favoritas para ouvir em momentos de confissões, seja por causa de um amor guardado, arrependimento e até por causa de alguém que já se foi.
1 | “Amante à Moda Antiga”, do Roberto Carlos, é aquela música que diz “me desculpe brotinho, mas eu sou um romantico incorrigível"
2 | “A Maçã”, Raul Seixas: “Eu sou do amor livre. Venha comigo saborear a doce liberdade"
3 | “Mutante”, da Rita Lee, é para confessar "eu fui louca por você sim, mas já tô em outra faz tempo…"
4 | “Tive Sim”, Cartola: "Eu já amei outra pessoa tanto quanto eu te amo, mas isso não tem importância"
5 | “Eu Menti pra você”, Karina Buhr: "Eu sou imperfeita e admito. Mas eu te amo bagarai"
6 | “If You Can’t Say No”, Lenny Kravitz: "Eu sei que você sai com outros homens e isso está me matando"
7 | “Freedom 90”, George Michael: "Esse tempo todo vocês pensavam que eu era o maior pegador de mulheres do showbiz, mas na verdade eu sou gay. Durmam com essa."
8 | “Like a Virgin”, Madonna: "O nosso é o melhor sexo que eu já tive na vida"
9 | “I Kissed a Girl”, Katy Perry: "Beijei e gostei. Beijaria de novo"
10 | “I Just Wanna Make Love to you”, Etta James: “Nem vem achar que eu sou romântica. Eu só quero seu corpinho."
11 | “The show Must Go On”, Queen: "Eu sei que vou dobrar o cabo da boa esperança daqui a pouco isso é uma merda. Espero que minha mensagem de amor e paz continue ecoando "
No dia 24 de setembro, a cantora sobe aos palcos do Auditório Ibirapuera para a estreia ao vivo de Canções de Camarim, em um show que promete levar o mundo mágico do camarim ao público. As músicas do álbum já estão disponíveis em todas as plataformas online.
Créditos
Imagem principal: Divulgação / Gal Oppido