por Luara Calvi Anic

Elas não só comandam as pistas como produzem suas próprias festas fora do eixo Rio-São Paulo. Conheça as DJs Clara Moretzsohn, Milena Cinismo, Barbara Boeing e Cauana Stival

Mulheres DJs conquistaram espaços de destaque nas noites brasileiras já há algum tempo. Mas elas não só comandam as pistas como produzem suas próprias festas. Separamos nomes de minas foda das cenas de Curitiba, Belo Horizonte e Recife para você ficar de olho.

Clara Moretzsohn (@_moretzz)

Ela começou cedo a frequentar a noite de Belo Horizonte. Aos 16, ia com o pai em baladas da cidade. “Na época, eram apenas homens tocando”, lembra. Se você assistiu ao começo do Big Brother Brasil 19, que está no ar na Globo, pode ser que tenha visto o artista plástico Vinicius Póvoa, pai de Moretz e já eliminado do programa, falando da filha. “Ele é doido por house music e adora o que eu toco. Tem vezes que até chora depois de um set meu”, diz a mineira de 24 anos. Foi na 1010, festa que teve sua primeira edição em 2015, em BH, que ela teve certeza de que a profissão não tem gênero. “É uma festa que inclui todo tipo de gente, pessoal montado, muitas mulheres tocando”, diz. Virou presença frequente e logo conheceu Omoloko (DJ e um dos criadores da 1010 ao lado de Izabela Egídio), que a chamou para tocar. “Eu pesquisava música, mas não achava que era um espaço que eu poderia ocupar”, diz. Desde então, já tocou em outros estados do Brasil e virou DJ residente da 1010. “É um estilo que tem muito vocal de mulher e carrega toda uma história por ser um som que veio da comunidade gay e negra. A energia do house combina com o que eu gosto de passar para a pista”, diz à Tpm. Ela ainda faz parte da Sintética, festa que produz com Carol Mattos, Lu Escarbe e Yonanda Santos – todas DJs. “É importantíssimo ter mulheres produzindo. Dar voz a nós mesmas do jeito que a gente acha que tem que ser.”

Barbara Boeing (@barbara_boeing)

Combinar diferentes gêneros musicais de diversos países em um mesmo set é uma das características da DJ curitibana Barbara Boeing, 33. “Desde adolescente, achavam o meu gosto musical meio diferente”, diz à Tpm. Ainda assim, continuou sua pesquisa e, em 2012, criou a Alter Disco, em Curitiba, com três amigos que também tocam (Phil Mil, Rotunno e De Senna). A festa, que acontece a cada dois meses, virou uma referência de boa música na cidade. Não só pelos residentes mas também pelos convidados, em sua maioria DJs internacionais. “As pessoas vêm sem conhecer quem estamos trazendo. Elas confiam na nossa curadoria”, diz. Desde então, seu som vem conquistando pistas de diferentes estados brasileiros e do mundo.

Ela, que já tocou na edição brasileira no festival holandês Dekmantel, tem apresentações marcadas pela Europa em festivais como o Nuits Sonores (26/5), um dos mais respeitados da França e Lente Kabinet (31/5), em Amsterdã. Barbara teve que organizar bem a agenda para encaixar a turnê. Isso porque, além de DJ é também engenheira civil e, este ano, assina a construção de um prédio. “Assim como antes a engenharia era muito masculina e hoje tem muito mais mulheres, as DJs também precisam de incentivo”, diz. Assistir Bárbara tocando certamente inspira outras a já começarem suas pesquisas.

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Milena Cinismo (@mcinismo)

Quando pesquisa, a DJ Milena Cinismo dá prioridade à produção de mulheres negras. Seu som, que “transita pelos ritmos do gueto”, como ela diz à Tpm, passa pelo rap, kuduro, disco, house, entre outros. Nascida em Recife, Milena começou a tocar porque sentia falta de mais festas direcionadas à mulheres na noite LGBTQ da cidade. Foi aí que criou o coletivo Ocupe Sapatão, em 2015. “Havia um esvaziamento de mulheres lésbicas e bissexuais nas festas”, diz. Aos 27 anos, além de DJ, atriz e estudante de pedagogia na Universidade Federal de Pernambuco, ela produz e é residente da Batekoo Rec  – festa e coletivo que nasceu em Salvador mas tem edições em Recife desde 2017. “A proposta e a identidade da festa é sempre trazer artistas negros”, diz. “Por aqui, a festa sempre foi produzida por mulheres, o que acaba abrindo espaço para elas no line-up.” Quando toca em outros estados, a pernambucana busca mostrar o que é produzido em Recife, como artistas de brega funk, em evidência nas pistas da cidade hoje. “As pessoas, as marcas, as produtoras não olham e não chegam no nordeste. E a gente precisa de dinheiro, investimento. Por isso procuro divulgar.”

Cauana Stival (@cauanastival)

A paranaense Cauana Stival, 26, queria trabalhar com música desde a adolescência em Cascavel, interior do Paraná. Aos 13, mudou para São Paulo com a mãe e arranjou emprego em um estúdio, onde aprendeu a tocar. De volta à sua cidade, comprou mixer, toca-discos e, em 2017, se mudou para Curitiba, onde também trabalha como barista. Na capital, Cauana começou tocando em festas como a Tribal Tech, Subtropikal e a Estalada, essa produzida por mulheres. “Nunca sofri preconceito, mas às vezes vejo produtores colocando mulheres para tocar num horário mais vazio”, diz.  No último ano, Cauana tocou em seis estados brasileiros mostrando seus achados. “Eu tento surpreender. Tenho uma coisa meio mística que trago para música. Sons ancestrais, indígenas, indianos, diferentes culturas que eu coloco pra transmitir sensações para as pessoas. Lógico que analiso a festa quando vou tocar, mas tento ser coerente com o meu estado de espírito do dia”, diz Cauana, que está produzindo seu primeiro EP. Com uma discotecagem que mistura batidas de house, soul, jazz e étnicas, hoje é residente da festa Discoteca Odara, em Curitiba.

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