Por que falar sobre dinheiro com seu namorado ou marido ainda é um tabu?
Dinheiro é o último tabu.
As pessoas falam de tudo, na mesa de bar ou na entrevista da tevê: posição sexual favorita, cirurgia plástica mais recente, aquela fase em que usava mais cocaína do que açúcar, a traição que encerrou o terceiro casamento, os problemas com o filho... Não existe nenhum assunto proibido – nenhum, a não ser o dinheiro. Ninguém diz quanto ganha.
É como se o valor do seu contracheque determinasse seu próprio valor, como se o holerite fosse seu retrato mais perfeito. Opa, seu salário tem menos zeros à direita do que o dos seus amigos? Melhor deixar isso quieto. Ou, ao contrário, você ganha mais que eles? Fica quieta, ou vai acabar humilhando alguém. A história fica ainda mais tensa dentro de um relacionamento.
Se discutir a relação já não é a coisa mais simples, planejar um orçamento a dois faz a questão palestina parecer tranquila. Ele ganha mais que ela? Ela ganha mais que ele? Os dois ganham a mesma coisa? Quem paga o quê? Supermercado é seu, diarista é minha? Já coloquei gasolina no carro duas vezes este mês, então desta vez você paga o condomínio. Vamos rachar a conta?
Dinheiro e amor costumam ser descritos como antagonistas, como opostos. Nem sempre foi assim. Casamento era um negócio, envolvendo dote e acordos de conveniência entre famílias. No imaginário romântico, a mulher sempre espera por um príncipe encantado – nenhuma mocinha fica feliz para sempre, ao lado de um plebeu encantado, morando de aluguel num puxadinho do castelo.
Talvez por isso, hoje, quando dinheiro e amor dividem o mesmo verso, é quase sempre um como o avesso do outro. É assim dos Beatles (com “I don’t care too much for money, money can’t buy me love”) a Feist (“Money can’t buy you back the love that you had then”), passando por Tim Maia (“Não quero dinheiro, quero amor sincero”) e mais um monte de gente boa.
Dinheiro é poder, e às vezes nem o amor escapa dele. Como disse Nelson Rodrigues, desafinando o coro da música pop, “dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro”. O problema é como fica o amor verdadeiro quando o dinheiro entra em discussão. Na reportagem “Quem paga a conta?” cinco casais revelam como dividem as despesas.
Você não vai encontrar fórmulas mágicas e infalíveis para adotar, simplesmente porque, uau!, não existe nada assim – apesar de a maior parte das revistas femininas insistir nisso. Mas vai conhecer várias opiniões que vão enriquecer seu ponto de vista. Enriquecer no sentido figurado, claro. Pode guardar a bolsa.
Fernando Luna, diretor editorial