Milly Lacombe conta como foi a experiência de acompanhar de perto o câncer de mama de sua ex-mulher e a descoberta do livro de Andreas Moritz
Quando soube que minha ex-mulher, e hoje melhor amiga, estava com câncer de mama reagi como reagem todos ao escutar a palavra "câncer" e imaginei que a tinha perdido.
Enxerguei uma morte lenta, dolorida, o enterro… ah, a mente. Se deixarmos ela dominar ela nos levará para lugares sombrios.
Quando consegui sair da paranoia e da escravidão imposta pela mente, fui a uma livraria e comprei meia dúzia de livros sobre o tema. Li todos durante um fim de semana.
Um deles me chamou mais a atenção que os demais: Cancer is not a desease, ou "Câncer não é doença". Foi o primeiro que li, até porque os outros eram mais técnicos.
A cada página, uma pancada. O autor, Andreas Moritz, começa dizendo que câncer é apenas a manifestação de uma doença, um sintoma, e que é curável em muitos e diferentes níveis.
Dando uma busca pelo nome do autor no Google ficou claro que Moritz era um rebelde (ele já morreu), mas não é difícil ser considerado rebelde se você vai contra uma das maiores indústrias do mundo: a farmacêutica.
Ele era especialista em medicina ayurvédica e lutou desde pequeno contra uma série de doenças, por isso dedicou a vida a entender o que causa a deterioração do corpo em vez de se concentrar no sintoma.
Li o livro sempre levando em conta o outro lado, até porque tenho irmão médico, mas algumas coisas que Moritz escreveu me soaram verdadeiras, ou pelo menos coerentes.
Ele explica que o tecido cancerígeno se forma em ambientes que têm a circulação de oxigênio interrompida, e, se entendi bem, podemos interromper esse fluxo por stress, má alimentação e uma série de outras pequenas tragédias da vida moderna.
Nas partes mais polêmicas Moritz garante que muita gente tem câncer durante a vida, mas nem fica sabendo porque o corpo se auto-corrige. E diz que a maioria das pessoas morre do tratamento (a quimioterapia) e não do sintoma (o câncer). Diz também que o câncer não é uma ameaça a sua vida, pelo contrário, ele é uma tentativa de salvá-la.
É um livro rico e cheio de colocações que fazem pensar e ponderar. A despeito da polêmica que ele levanta, quando acabei de ler tinha mudado minha imagem sobre o câncer. Não enxergava mais uma sentença de morte, mas uma chance de vida.
Tentei dizer isso para minha ex-mulher quando ela estava fazendo a quimio, mas obviamente ela me mandou à merda porque estava sofrendo muito e não via beleza nenhuma naquela dor.
Hoje, recuperada e de volta à ativa, ela entende que ter passado por isso foi uma experiência importante e transformadora. Ela não teria coragem de dar uma banana para a indústria oncológica como recomenda Moritz, mas tampouco discorda das coisas que ele diz.
Levando ou não Moritz em consideração talvez o importante fosse tirar o peso da palavra. O câncer está longe de ser o fim da vida, mas pode marcar o recomeço.