por Redação
Tpm #143

Um especial sobre o que motiva, empolga e faz mais felizes mulheres das mais diversas áreas

Qual a coisa mais empolgante que você fez ultimamente? Trata-se de algo que você faz frequentemente? Se a coisa anda rara, bem-vinda ao clube: o mundo parece viver uma crise existencial aguda, em que poucos privilegiados se declaram realmente confortáveis na própria pele. O clima geral é de um certo cansaço aliado a uma ansiosa busca por sentido, prazer, simplicidade. Tá faltando tesão.

O que, afinal, te excita na vida? Onde encontrar essa fagulha que torna o cotidiano, seja no campo profissional ou nas experiências pessoais, mais emocionante e gostoso? Nas próximas linhas, mulheres diversas compartilham seus pensamentos sobre essa busca que não pode cessar – afinal, é como diz o best-seller que o psiquiatra Roberto Freire (1927-2008) lançou em 1987 (e continua atual): Sem tesão não há solução.

Livro, obra de arte, peça de teatro, trabalho, negócios, futebol, surf, bike, fotografia, viagens, sexo: um especial sobre o que motiva, empolga e faz mais felizes mulheres das mais diversas áreas

Que livro te excita?

O amor natural, de Carlos Drummond de Andrade. Ninguém imagina que o poeta de terno, gravata, óculos e expressão diplomática teria escrito poemas pornográficos. É uma leitura sensível e compensadora, como tudo o que é Drummond. Elevar o erótico ao poema, ou o poema ao erótico, é trabalho para deuses. O erotismo poético é muito mais erótico, mais eternizante, bota todas as etapas do prazer na conta de um encontro sempre único e insubstituível. Drummond se perguntará se a integração dos corpos já não foi realizada no cosmo, antes de se dar na cama.”

Andrea Del Fuego, 39 anos, é escritora. e autora dos livros de contos Minto enquanto posso (2004), Nego tudo (2005) e Engano seu (2007)

Qual a obra de arte mais emocionante do mundo?

“Vou citar duas vezes Hélio Oiticica: a instalação Penetrável Tropicália e os Parangolés, todos. Ele foi um artista muito à frente de seu tempo. E cito também Aluísio Carvão, o conjunto da obra. Não dá para destacar uma só.”

Regina Boni, 71 anos, é marchande. Também foi criadora da marca Ao dromedário Elegante, que no fim dos anos 60 vestiu ícones do movimento tropicalista

Jornalista que é também atriz e cantora, Marília Gabriela responde a três perguntas rápidas sobre o que mais a motiva na vida – e sobre a busca de quem ela é de verdade

“Olho no espelho e falo: que raio de mulher é essa?”

O que te dá tesão? Atuar me dá tesão. Viajar me dá tesão. Namorar, com as suas consequências, é o puro tesão. Acho que viver é um tesão, na maior parte dos dias. A idade me trouxe isso de alguma forma: uma certa tolerância comigo mesma e um laissez-faire, uma alegria, um entendimento melhor das coisas, um não se importar muito com as chatices do cotidiano. Alguma vantagem tinha que ter nessa porcaria. 

Que porcaria? Envelhecer? Eu estou numa crise de identidade. Acordei outro dia pensando em que raio de pessoa, afinal, sou eu. Em quem é que eu resultei a essa altura do campeonato? Depois de tantas coisas que eu vivi tão desatentamente, tão atabalhoadamente, eu não me percebi mudando. Agora eu estou ficando velha e resolvi dar uma introspectada para descobrir, afinal, quem sou eu. Tudo que leio a meu respeito tem coisas surpreendentes. Essa? Eu?! Há julgamentos, análises, opiniões a meu respeito. Mas eu, comigo mesma, me olho no espelho e falo: que raio de mulher é essa?

Ser artista e jornalista gera conflito? Há esse preconceito. Por que as pessoas não podem ser múltiplas e aplicadas no que se propõem a fazer? Por que não podem conseguir bons resultados dentro das inúmeras possibilidades que nós todos temos e que algumas pessoas se dispõem a encarar? Vou fazer 66 anos daqui a alguns dias. Comecei a trabalhar em 1969. Tenho feito o que poderia parecer irresponsável e mesmo assim continuam me respeitando. Fui cantora, fiz teatro, fiz cinema, meus programas de entrevista. Bem agora vão começar a me desacreditar? Mas tudo bem, porque vou me aposentar. A essa altura tudo é possível.

O que te dá tesão na vida?

“Talvez seja surpreendente eu falar isso, mas excitação não tem muito a ver comigo. As pessoas fazem uma imagem errada de mim: eu sou muito do sossego. Tenho horror a adrenalina, eu gosto de segurança. Eu gosto do quentinho, das quatro paredes, da cama arrumada. E gosto de ritual. Adoro quando a gente organiza nossas ‘festinhas no céu’. A gente escolhe uma música, abre um vinho, acende uma vela, toma um banho, eu falo ‘você quer banho do quê? Temos de rosa e temos de verbena’. Isso eu adoro – mas tem menos de excitação e mais de ritual. Alguma coisa que me pilhe não necessariamente é boa pra mim. Respiração curta me aflige demais. Mas, se eu tiver que pensar sobre o que é minha grande droga, minha cocaína, eu diria joia. Eu amo joia! Joia cara, joia de Hollywood. Eu vejo aquilo e derreto, mexe comigo... Em relação a sexo, eu não tenho essa coisa quente de surpresa, lugares. Tenho horror a isso, à possibilidade de alguém me ver de quatro, pelada, transando. Quero ter certeza de que eu estou na minha intimidade, de que estou segura, de que sei onde estou, de que meu filho não vai abrir a porta e de que ninguém está me ouvindo.”

Luana Piovani, 37 anos, é atriz e acaba de atuar no longa Réveillonde Fábio Mendonça

 

Qual o momento mais vibrante da sua carreira?

“Um trabalho novo é sempre muito excitante. Observar e afinar, realizar a pesquisa, botar tudo o que você tem de melhor para dar certo sempre empolga. Com certeza, esses momentos de tesão eu realizei no teatro, em especial com Caixa de areia, uma peça alternativa que me desafiou como atriz por sua narrativa não linear – e que foi um trabalho que também produzi. O esquema era o de uma companhia: todos tinham voz e podiam opinar, algo que é delicioso e também é uma loucura, um caos. Não tenho dúvidas de que é no palco que busco tudo aquilo que a televisão não me oferece.”

Taís Araújo, 35 anos, é atriz e atualmente está no elenco da novela Geração Brasil, da TV Globo

Que peça de teatro mais te excitou na vida?

“Uma que me excitou muito foi a versão feita pelo grupo Oficina para a obra Os sertões, de Euclides da Cunha. O Oficina é muito instigante, ele me estimula no que tenho de mais vivo. Saio de cada espetáculo deles cheia de vontade e de coragem, é um impulso para a minha criatividade.”

Regina Braga, 69 anos, atriz que acaba de fazer a protagonista do filme Irmã Dulce, de vicente amorim

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