Os roof toppers não têm medo de morrer (?)

por Marcos Candido

Os roof toppers sobem em prédios na busca por paisagens que não são vistas pelos pedestres lá embaixo. O risco de despencar num precipício é acompanhado da fama nas redes sociais

“Eu penso na morte todos os dias”, desabafa Abudi Alsagoff, engenheiro elétrico de 25 anos. Desde que passou a escalar prédios, em 2011, o malaio aprecia paisagens que as outras pessoas, presas em edifícios espelhados, jamais vão ver. Lá de cima a vista é ótima — as pessoas parecem formigas e a morte, sussurrada pelo vento cortante, parece anunciada. “Eu sei que posso morrer, e isso me faz dar mais valor à vida e a ser mais cuidadoso ao subir”, diz Abudi à Trip.

Aventureiros como Abudi são chamados de ‘roof toppers’: uma tribo de exploradores urbanos que sobe até o topo de monumentos e edifícios para apreciar a vista, filmar e fotografar.  No geral, com poucos ou nenhum item de segurança. Os registros são publicados no YouTube ou em blogs pessoais. Em um dos vídeos mais assistidos do gênero na internet (mais de 6 milhões de visualizações), os amigos russos Vitaly Raskalov e Vadim Makhorov escalam andaimes para alcançar o ponto mais alto da Shangai Tower, um centro financeiro em construção com 660 metros de altura, em Pequim. É um dos edifícios mais altos do mundo. Também há toppers como eles na Rússia, França, Malásia e China — no Brasil ainda não há nenhum registro.

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Via de regra, toppers burlam grades, saltam muros e fogem de seguranças. A ‘primeira vez’ de Abudi foi em um hotel abandonado na capital da Malásia. Eram 600 lances de escadas entre ele e o nascer do Sol, seu principal objetivo. “Foi um pouco assustador, mas a curiosidade me empolgou demais”, diz. Nem sempre um escalador precisa ir tão alto, ou dar uma estrelinha a 400 metros de altura. “É tudo uma questão de conhecer seus limites ao flertar com a beira do precipício. Não vou me pendurar na beirada de um prédio, pois sei bem até onde posso ir”, explica a dinamarquesa Elaina Hammeken, de 27 anos, uma das poucas mulheres na cena escaladora. Formada em economia, Elaina abandonou a vida confinada às planilhas para se dedicar às explorações urbanas. Antes de se aventurar, ela faz “um equilíbrio entre planejamento e ‘timing’” e não vai tão alto, assim. “Já estive mais perto da morte praticando snowboard do que escalando”.

Ser um explorador 'topper' não se trata apenas de ir ao lugar mais alto da cidade, mas a fama herdada das aventuras acaba impulsionando adeptos a se arriscarem mais. No ano passado, o russo de 17 anos Andrey R. morreu ao cair do nono andar de um prédio na Rússia. Os registros do escalador ainda ilustram seu perfil com mais de 4 mil seguidores do Instagram. No réveillon de 2015 um topper também morreu ao tentar capturar uma boa imagem de Nova York antes da queima de fogos. E o número de casos pode ser ainda maior.

Darren Lovell, diretor de URBEX: Enter At Your Own Risk um documentário que traça a história de exploradores urbanos, tem uma explicação para as pessoas subirem até pico dos prédios — e até a viajarem em busca disso. “Lembro de um escalador me dizer que nós andamos a semana toda com a cabeça baixa, olhando para nossos celulares, sem perceber o que está ao nosso redor”, diz.  “Com as fotos tiradas lá de cima, eles querem que você se apaixone pela sua própria cidade ou querem mostrar que o cenário com o qual você sempre sonhou está bem próximo”. A exploradora Elaina endossa a sensação. “As pessoas não reservam um tempo para apreciar o momento e perceber como o mundo ao redor é belo.”

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