Bianca Comparato, a nova pequena notável

por Redação

Sem medo de desafios, a atriz que acaba de participar de um episódio da série ”Grey’s Anatomy” fala da vida em Hollywood, fama, esporte e religião

Não estranhe ao se deparar com Bianca Comparato na vigésima temporada de “Grey’s Anatomy”. A atriz e produtora, que acaba de gravar participação em uma das séries mais aclamadas do mundo, faz parte de uma geração de talentos que ganha cada vez mais espaço e destaque não só no audiovisual brasileiro, mas também em Hollywood. “Eu sempre sinto um frio na barriga, que acho que não quero perder. É o que deixa a coisa viva”, conta. Bianca nunca escolheu os caminhos mais fáceis – ou óbvios. Quando protagonizou a série da Netflix 3%, pouca gente apostava no futuro do streaming. “Na época eu recebi muitas opiniões contrárias: ‘você tá doida, é uma empresa pequena que vende DVD nos Estados Unidos’, ‘ninguém vê isso aqui', 'você devia ficar e fazer novela na Globo”’, lembra. “Mas eu sempre tive muita clareza dos projetos que gostaria de fazer, sempre fui movida pelos personagens e pelas pessoas envolvidas nessas séries”.

No papo com o Trip FM, Bianca falou de fama, glamour, sobre como seu papel em “João Sem Deus” a fez repensar questões de religião e política, e ainda compartilhou suas percepções sobre a vida em Los Angeles e a mais recente paixão, o surf. Ouça essa conversa na íntegra no Spotify e no play aqui em cima ou leia um trecho abaixo.

Trip. Como tem sido esse tempo morando em Los Angeles? Isso ajuda a acessar o mercado norte-americano?

Bianca Comparato. Eu sou movida a desafios e sempre tive uma curiosidade enorme de saber como funciona essa meca do cinema e das séries que é Los Angeles. Eu achava que era só chegar e falar inglês para acessar alguma porta, mas você precisa absorver a cultura e isso leva tempo. Meu sonho sempre foi fazer uma mulher que não fosse latina e isso eu realizei o ano passado. O filme ainda vai sair e foi fruto de eu ficar lá nos Estados Unidos, de entender como o mercado funciona, com funcionam os agenciamentos.

Em 2016, você protagonizou a série da Netflix 3%. Você saiu na frente, deixou as novelas para estrear uma das primeiras séries do streaming no Brasil. Como foi esse movimento? Na época eu recebi muitas opiniões contrárias: "você tá doida, é uma empresa pequena que vende DVD nos Estados Unidos", "ninguém vê isso aqui", "você devia ficar e fazer novela na Globo". Mas eu sempre tive muita clareza dos projetos que gostaria de fazer, sempre fui movida pelos personagens e pelas pessoas envolvidas nessas séries. Minha meta era abrir a porteira para produções no Brasil, não importa a crítica, não importa nada. Hoje o streaming deu uma encolhida, mas houve muitas produções brasileiras de qualidade.

Você tem 1,54m de altura. Já sofreu bullying na escola por ser muito pequena? Não sofri bullying por ser baixa, mas participei de um bullying contra outra Bianca da minha sala que era muito alta (e por isso eu sempre peço desculpas publicamente quando posso). O meu sofrimento veio muito mais por ser gay e tentar não parecer gay. Eu nem percebia, na verdade, fui entender isso mais velha. Hoje eu sinto o resultado disso, como isso afeta as minhas decisões. Eu me escondia muito, por isso o bullying era mais interno do que vindo de fora.

Eu vejo que essa nova geração de atores é muito menos deslumbrada com o sucesso. De onde vem isso? O público ficou muito mais próximo da gente. O lado íntimo do artista de cinema era muito mais isolado. O mundo real mudou isso desde Marcel Duchamp e o seu mictório: a arte mais perto. É a Anitta sem maquiagem na cama, o Caetano tomando um chá. Isso ajuda a nos tirar de um pedestal. O trabalho do dia a dia também ajuda a fugir do hype: fazer a cena, errar, pisar num palco. É perigoso acreditar no glamour. Pode até ir pra banheira com champanhe, mas aí volta pro mundo real.

Créditos

Imagem principal: Manuel Nogueira (@manuelnogueira) e Jorge Bispo (@jorgebispo)

Manuel Nogueira (@manuelnogueira) e Jorge Bispo (@jorgebispo)

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