A importância da História na vida humana

por Luiz Alberto Mendes

Velho

Outro dia, na web, vi foto de uma pequena e antiguíssima vasilha artesanal em fina porcelana e com as bordas desenhada com a hiper ultra sensível pintura japonesa. A peça em si já era um desses delicados mimos artísticos feitos para encantar, mas vinha ornamentada por finos filetes de ouro que emendava partes em que, visivelmente, o belíssimo vasilhame fora quebrado. Abaixo da foto, vinha uma explicação muito interessante: para os japoneses, quanto mais dano sofre um objeto, mais história ele contêm. Esta é uma cultura que venera a sabedoria da história. Para eles, história é o que há de mais belo e interessante no mundo. E, exatamente por isso as rachaduras do pequeno objeto de arte foi decorada: para ser destacada a importância de sua história. O ouro simboliza o máximo valor que se dá ao objeto. Não é a valorização do objeto em si; seria materialismo e a cultura japonesa esta longe de ser materialista. Antes é para ressaltar a importância da história e da beleza do objeto. Além do que aquela vasilha, pela nobreza de seu porte e delicadeza de suas formas, deve ter alimentado pessoas ilustres durante gerações. Um objeto cuja utilidade fez sua história durante séculos, provavelmente. Quantas pessoas se alimentaram naquela vasilha, admirando-a? E a alimentação é uma atividade estreitamente ligada a rituais tradicionais da cultura nipônica.

Por lá também as pessoas com mais idade são tratadas com o mais profundo respeito. Eles não veneram a pessoa ou o objeto, mas a história da pessoa e do objeto. A experiência de vida adquirida com a idade é mercadoria do mais alto valor no mercado cultural japonês. Os livros ensinam, educam, mas somente a vivência comunica realidade e consistência. Há muito tempo venho reparando que a cada ano que passa vou achando que no ano anterior eu fui um estúpido, ignorante e idiota. No ano seguinte vou dizer a mesma coisa a meu respeito que disse no ano anterior. A cada ano cresço, me desenvolvo e já nem me reconheço no que fui no ano anterior. Vou acumulando experiências naquilo que me proponho que sequer imaginava possível. Por exemplo, os primeiros textos em minha coluna na Revista Trip eram revisados e editados. Eu ainda não tinha uma experiência consistente com a escrita. Apesar do conteúdo ser mais ou menos legal, eu ainda escrevia muito mal. Eram textos bisonhos, embora houvesse quem gostasse. Passados quase 13 anos, vejo uma diferença infinita de como escrevia e como escrevo agora. Acumulei experiências e conhecimentos que não conseguiria senão escrevendo e lendo muito. Estou rico, de uma riqueza que não tem preço. Vivi muito, embora tenha ficado preso a maior parte de minha vida (começo a ultrapassar: cumpri 31 anos e tenho 62 anos de idade). E vou viver mais ainda nos poucos anos que me restam. Vou me capacitando a cada momento. Não encontraria esse material em uma escola; escrever, só se aprende escrevendo. E sentir que o que escrevo é lido e apreciado, são os veios de ouro que sempre irão decorar as minhas histórias quebradas.

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Luiz Mendes

14/07/2014.

 

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