Delírios automotivos

por Redação

Os estudos de Roberto da Matta, o antropólogo que explica o Brasil

Mais para Gilberto Freyre do que para Claude Lévi-Strauss, o antropólogo Roberto da Matta dedicou a vida e a carreira para explicar o Brasil. Passou anoscomo referência no indianismo brasileiro, se aventurou pelos caminhos da tradição nacional do Carnaval e estudou a fundo as questões por trás de outro patrimônio tupiniquim, o jogo do bixo. Mas nos últimos anos descobriu que, para entender o Brasil, "pode ser mais revelador se enfurnar no Detran em Vitória (ES) ou ficar parado em um congestionamento na ponte Rio-Niterói."

Da Matta foi o entrevistado das Páginas Negras da Trip #192, quando lançava seu mais recente livro Fé em Deus e pé na tábua: como e por que você enlouquece dirigindo no Brasil. Na entrevista e no seu ensaio, falou sobre a relação do brasileiro com o automóvel e mostrou como esse bem de consumo transformou para sempre a sociedade que vivemos, apontando que o excesso de seu uso pode ser mais destrutivo do que jamais fora pensado. 

"Nosso comportamento terrível no trânsito é resultado da incapacidade de sermos uma sociedade igualitária; de instituirmos a igualdade como um guia para a nossa conduta. Nosso trânsito reproduz valores de uma sociedade que se quer republicana e moderna, mas ainda está atrelada a um passado aristocrático, em que alguns podiam mais do que muitos", explicou o antropólogo. "Em casa, nós somos ensinados que somos únicos, especiais. Aprendemos que nossas vontades sempre podem ser atendidas. É o espaço do acolhimento, do tudo é possível por meio da mamãe. Daí a pessoa chega na rua e não consegue entender aquele espaço onde todos são juridicamente iguais. Ir para a rua, no Brasil, ainda é um ato dramático"

"O motorista não consegue entender que ele não é diferente de outro motorista ou pedestre, que ele não tem um salvo-conduto para transgredir as leis", continuou Da Matta. "No Brasil, obedecer à lei é visto como uma babaquice, um sintoma de inferioridade. Isso é herança de uma sociedade aristocrática e patrimonialista, em que não houve investimento sério no transporte coletivo e ainda impera o 'Você sabe com quem está falando?'."

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