Um S.O.S. pras minas, pras monas e pras trans

por Bianka Vieira

O Canal das Bee quer fazer uma plataforma de acolhimento psicológico a jovens LGBT

Imagine-se em um mundo onde o amor é proibido. Nele, andar de mãos dadas é um ato a ser reprimido com punição física, apresentar o parceiro no almoço de domingo é algo impensável e ter um par romântico é só coisa de filme mesmo; nesse mundo, você pode até se apaixonar, mas o seu destino será viver trancafiado dentro de um armário escuro e solitário.

Essa poderia ser a descrição de um mundo distópico à la Black Mirror, mas é a realidade que muitos jovens LGBT vivem no Brasil em pleno 2016 — realidade, essa, que o Canal das Bee está tentando amenizar. “Só por e-mail, recebemos mais de 2.000 histórias, muitas delas terríveis, relatando abusos extremos que muitas vezes acontecem dentro da própria casa. A gente sabe que é importante ter alguém pra conversar, mas temos ciência de que nem sempre é fácil”, diz Jessica Tauane, mulher, lésbica e gorda com muito orgulho que comanda o canal que hoje tem mais de 25 milhões de visualizações.

LEIA TAMBÉM: Jessica Tauane, a rainha do brejo

Já faz três anos que canal disponibiliza sua caixa de e-mails para desabafos, uma ideia que partiu da experiência pessoal de Jessica. “Cheguei ao ponto de pesquisar na internet formas de me suicidar. Eu não conseguia conversar com ninguém e também não queria ser aquilo [lésbica]." A intenção de ajudar era nobre, mas logo se tornaria uma tarefa muito pesada para toda a equipe. Em uma das ocasiões, ao receber uma carta de suicídio, Jessica conta que quase tomou uma decisão errada. "Entrei em desespero e quis gravar um vídeo falando que ele era importante pra mim e que não deveria se matar, mas tive 3 segundos de consciência e liguei pra Ana Beatriz [psicóloga], que me explicou que aquele não era o melhor jeito de se abordar o assunto.”

play
“Ou nós fingimos que essas vidas não existem, ou fazemos alguma coisa”
Jessica Tauane

Se até agora as Bee contaram com ajuda voluntária para lidar situações como essa, daqui pra frente eles querem profissionalizar o acolhimento psicológico ofertado ao público LGBT através do projeto Bee Ajuda. O objetivo é arrecadar R$80 mil por meio de uma campanha de crowdfunding até o dia 13 de novembro e usar parte deste valor para que o psicólogo Bruno Bueno seja remunerado por um ano para prestar o serviço de apoio a essas pessoas. "Muitas já foram acolhidas por nós, e eu sei que temos potencial de melhorar", diz Jessica. Como a busca por ajuda vem dos quatro cantos do Brasil, também será parte do trabalho de Bruno encaminhar o jovem para a unidade de assistência psicológica mais próxima de sua cidade.

LEIA TAMBÉM: Nem gay, nem bi, nem hétero

Além do psicólogo, a campanha tem como meta secundária a produção de um filme do Canal das Bee. “Quando somos nós falando de nós mesmos, é muito mais legal”, diz Jessica, que vê a ideia do filme como uma extensão da produção de conteúdo que já é feita através do YouTube. “Sempre vai ser um papo das bee pras bee, de LGBT pra LGBT. Daqui a 40 anos, eu ainda quero que o projeto tenha essa pegada.”

Vale lembrar que a campanha é “tudo ou nada”: se a meta não for atingida, todo o valor será devolvido aos que contribuíram. “Toda essa demanda por ajuda veio com a visibilidade que o canal ganhou ao abordar temáticas LGBT. Agora, ou nós fingimos que essas vidas não existem, ou fazemos alguma coisa", explica Jessica. As recompensas vão desde adesivos personalizados a gravuras dos artistas Carol Rossetti e Paulo Von Poser, conversas via Skype com os membros do canal e até figuração no filme. Quem quiser ajudar, pode doar a partir do valor mínimo de R$10. 

Vai lá: benfeitoria.com/canaldasbee

Créditos

Imagem principal: Divulgação

fechar