Setembro de 2016 e a montanha russa emocional

por Nina Lemos

”Fora Temer, Fora Temer”, eu e meus amigos ficamos felizes na rua. Mas voltamos para casa triste com o desfecho de violência policial. Depois, brigamos na internet. No fim, choramos

"Fora, Temer! Fora Temer!" - Que lindo está nas ruas. Não estou sozinha, vai ficar tudo bem. Nossa, que ótimo. Todos os meus amigos estão aqui, que incrível! "Diretas já, diretas já!" Nessa hora dá um revival. Parece que estou em 1984 no comício das diretas. Eu tenho 13 anos, sou fã do Milton Nascimento e nós vamos eleger o presidente do Brasil. Mas tem polícia ali, eu tenho medo, sou fóbica.

Relaxa, não vai acontecer nada!

Você volta para casa feliz e otimista. Vê as fotos dos 100 mil em São Paulo nas ruas e escreve para os amigos: "vai ficar tudo bem, a gente vai conseguir".

Aí começam as imagens da polícia espancando as pessoas. Você lê os relatos dos amigos tomando gás e porrada, sangrando. O otimismo desaparece. Ferrou. Não vamos conseguir coisa nenhuma.

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O que dá pra fazer? Bora partilhar todos os vídeos possíveis contra a violência policial e trocar mensagens nos grupos de WhatsApp. Tem estudantes presos. Uma menina no grupo está dentro de um bar sem conseguir sair. 

Fico alegre ou fico triste? Não, vou ficar alegre, eu mereço.

Acordo e da cama já começo a postar no Facebook. Sem parar. Quando vejo, estou quase brigando com amigos que pensam como eu, mas discordam nos detalhes. Ninguém nem tomou café da manhã, todo mundo já acordou trabalhado em pequenos ódios de estimação e em grandes revoltas. Choramos. De tristeza, de emoção, de raiva da polícia, de desespero.

Em um dia passeamos por todas essas emoções diferentes: ficamos com medo, depois nos sentimos felizes e emocionados pulando na rua, depois estamos chorando ao ver a violência da polícia. A tristeza vira ódio. Estamos bipolares, tripolares, polipolares.

No dia seguinte vem a ressaca. Foram muitas emoções e você, depois de denunciar os estudantes presos, fica com ódio de um texto do jornal e briga com amigos. Chora.

Assim é estar no Brasil em setembro de 2016, mês que mal começou e nunca esqueceremos. Dói. Dói muito. "Como vocês conseguem?", pergunto para amigos que estão nessas há meses? "Ah, o que vamos fazer?", eles riem.

Há dois anos sem vir ao Brasil, sofro de longe. Mas a montanha russa dos acontecimentos aqui, de perto, parece que vai me matar. No fim, aparece na minha mente, como sempre, a voz do Morrissey: "How I dearly wish I was not here" (Como eu gostaria de não estar aqui). E recebo uma mensagem de um amigo de Berlim escrito: "volta logo".

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