A maconha e o sexo das minas

por Vanessa da Rocha

Desde a antiguidade a erva é considerada afrodisíaca para o sexo feminino, mas só recentemente a ciência começou a quebrar o tabu e esmiuçar esses benefícios

Sexo tântrico, ayurveda, medicina tradicional chinesa… São diversos os registros milenares da maconha como um produto afrodisíaco. Contraditoriamente, em algumas culturas, o produto já foi recomendado para reduzir o apetite sexual. Ainda hoje é comum ouvir relatos de pessoas que se sentiram nas nuvens, enquanto outras tiveram sono.

A montanha-russa de efeitos aliada à dificuldade em tratar dos benefícios de uma droga que é ilícita em vários países colocaram os resultados sexuais da maconha num território incerto. Com a legalização em vários locais do mundo, no entanto, as pesquisas avançaram. Hoje, em linhas gerais, pode-se dizer que sim, a Cannabis produz benefícios na sexualidade, especialmente para as mulheres. A erva torna a atividade mais prazerosa. São os especialistas que dizem!

No consultório

"Olha, você não tem nenhuma doença ou complicação nos órgãos genitais. Está saudável. Mas eu recomendaria que você conhecesse melhor o seu corpo e relaxasse mais para a relação ser mais prazerosa. Vou prescrever que você consuma maconha, mas não exagera, hein!”

LEIA TAMBÉM: Mesmo distante da legalização, a economia e o ativismo ligados ao autocultivo já aquecem os negócios ligados à cultura canábica

Não, os ginecologistas não estão receitando o consumo nos países onde a maconha é legalizada, mas faz algum tempo que especialistas têm observado os efeitos da droga na líbido. Uma pesquisa realizada em 1967 pelo sociólogo norte-americano Erich Goode evidencia esse interesse. Das duzentas pessoas que responderam ao questionário dele, 68% relataram efeitos e estímulos na atividade sexual, a maioria mulheres. Em 1970, a escritora Barbara Lewis publicou uma obra sobre o assunto chamada A maconha e a sexualidade. Na pesquisa, ela ouviu 32 pessoas, das quais 78% relataram usar a droga para aumentar a satisfação sexual.

As pesquisas mais atuais procuram desvendar como esses efeitos atingem o corpo humano e quais são as substâncias presentes na maconha que causam isso. No Uruguai, o sexólogo Santiago Cedrés, presidente da Sociedade Uruguaia de Sexologia publicou o artigo “A maconha e a sexualidade: os efeitos do consumo e a resposta sexual" — publicado em 2013, ano em que a droga foi legalizada no país, o texto coloca em termos científicos o que muita gente já sente na prática.

O especialista observou que o Tetrahidrocannabinol (THC), um dos mais de 400 compostos químicos presentes na maconha, tem poder afrodisíaco nas mulheres. A substância age no cérebro produzindo relaxamento e alterações dos sentidos visual, auditivo e olfativo. Esse barato, em baixa dose, tem poder de aumentar o desejo sexual. O canabinol, outra substância presente na planta, ajuda na desinibição, relaxamento, aumenta a sensibilidade e produz uma sensação de bem-estar.

 

 

Sempre há efeitos adversos

Quem exagera, pode ter problemas. A pesquisa uruguaia alerta que o THC em alta dose pode causar desorientação, taquicardia, nervosismo, ansiedade e paranoia. O excesso de canabinol também coloca em risco a estabilidade da ovulação e, consequentemente, do ciclo menstrual, além de reduzir a lubrificação vaginal, que pode evoluir para dor nas relações sexuais. Ou seja, melhor não passar da conta!

Esse estudo veio do Uruguai, o nosso reduto vanguardista sul-americano, mas quem se deu conta de usar os poderes afrodisíacos da droga para o bem da mulherada foi uma brasileira: Débora Mello, uma paulista que mora em Montevidéu e tem contribuído para o bem-estar sexual de várias mulheres no país.

Débora se inspirou na iniciativa de um norte-americano, que produziu o famoso Foria, um lubricante feminino afrodisíaco à base de Cannabis, para criar o óleo lubrificante XapaXana — que deve ser aplicado 20 minutos antes da relação sexual. “O nome é engraçado, mas a ideia é essa mesma: chapar a chana. O óleo proporciona orgasmos mais intensos e é orgânico, feito com óleo de coco e flores de Cannabis cultivadas aqui no Uruguai.”

No entanto, se a aprovação da maconha para fins medicinais já é controversa no Brasil, com diversas famílias penando para obter os medicamentos à base de derivados da planta, imagina a liberação do uso para a saúde sexual, né? Débora, portanto, segue comercializando o produto dela somente para as brasileiras que moram no Uruguai.

Mesmo tendo a clientela reduzida por causa da legislação brasileira, ela segue com princípios que estão bem acima da ideia de chapar a chana. “Eu sigo adiante porque acredito que as mulheres precisam estar em sintonia com a própria sexualidade. Já recebi relatos de jovens que estão há anos com o parceiro e vivem como atrizes, pois amam os rapazes, mas não conseguem ter orgasmo com eles. As mulheres precisam sentir prazer e viver em bem-estar sexual, afinal, o sexo faz parte da nossa vida e faz bem.”

Créditos

Imagem principal: Creative Commons

fechar