por Diogo Rodriguez

Sidão Tenucci desbrava o mundo literário com uma mistura de autobiografia e ficção

Sidão Tenucci é uma lenda no meio do surf brasileiro por ser surfista, fundador da marca de surfwear Op e do circuito profissional no País. Desbravador de picos, agora ele enfrenta uma outra onda, fora da sua área habitual. Nesse fim de semana, é convidado da OFF Flip, evento paralelo à Festa Literária Internacional de Paraty.

Isso tudo porque neste ano lançou o livro O Surfista Peregrino, ficção misturada com realidade que tem como fio condutor o surf. Esta é sua primeira aventura do tipo. Começou como autobiografia e acabou se tornando um romance com tsunamis e viagens pelo mundo.

Jornalista de formação e fã de Dostoievski, Herman Hesse e Gabriel Garcia Marquez, Sidão conversou com a Trip por telefone a caminho de Paraty e contou como surgiu a ideia do personagem Surfista Peregrino.

 

Como surgiu o livro?
Escrevi alguns capítulos do livro no site da Waves. O editor tinha me pedido para escrever uma autobiografia, mas por algum motivo baixou o santo do personagen Surfista Peregrino. É baseado em coisas que aconteceram comigo, outras não. Tive mais liberdade de escrever coisas que vivenciei e extrapolar para a ficção também. Durou três anos no Waves. O pessoal que lia dizia que era muito mais literário do que escrita de internet. E realmente nasceu assim, mais literário, mais descritivo e longo. Falei, "pô, o livro está praticamente pronto". Fiz alguns capítulos a mais para completar e resolvi fazer livro físico mesmo.

Você já tinha escrito ficção?
Não. Sempre escrevi, desde moleque. Meu primeiro livro se chama Alma Aquática, de poesia, com o Klaus Mitteldorf e com David Carson. Demoramos doze anos para fazer, é um livro elaborado, com fotos caríssimas. A idéia desse segundo é apreender toda as sensações que eu tive pelos 50 países que visitei surfando, para que eu mesmo pudesse lembrar como foi. Foi legal pra caramba. Liguei para o Gabriel, o Pensador, ele gostou, escreveu a orelha do livro. O [Marcello] Serpa escreveu um pouco também, o Dandão [Fernando Costa Netto, que já foi repórter da Trip], meu antigos amigos.

Qual história que está no livro e você não fez?
Por exemplo, surfar o tsunami. Essa foi a mais louca do livro porque a escrevi um mês antes do Tsunami na Ásia. Está publicado e datado no Waves, dia 30 de novembro de 2004. O Peregrino estava no Sri Lank e foi para Índia, coincidentemente, na área onde rolou o tsunami. Ele senta na praia e vê o mar recuar. Essa palavra não era usada no nosso vernáculo, e eu usei porque a conhecia do Havaí, lá era um fenômeno recorrente. O Peregrino sentou e pensou cientificamente: "As placas tectônicas estão se chocando no fundo do oceano, abrindo uma fenda. O mar recuou. Quando ele voltar, pode ter um desastre de proporções grandes. Mandei pro Waves e os caras acharam que eu tinha fumado "um". No dia 26 de dezembro, aconteceu o tsunami. O editor do site me ligou e disse: "Tá tendo premonições? Tá louco?".

O peregrino tem muito de você. Tem também de outros surfistas?
Ele é uma entidade idílica do que seria o surfista ideal. E não só surfista, um "achador" porque o "buscador" nunca acha. É um cara que vivencia a história do surf, da evolução espiritual da qual o surf é um instrumento. A mãe do Dandão se amarrou no livro, vê se pode. Setenta e cinco anos, ela estava no hospital, ele deu para ela de presente, ela adorou. Um sobrinho de 14 anos de uma amiga também. Essa coisa de você relatar o teu quintal e poder extrapolar para um público mais abrangente tem tudo a ver.

 

Quais são os seus escritores favoritos?
Tem alguns. O Herman Hesse foi um muito presente na época [em que escreveu o livro]. Dostoievksi marcou de um jeito fundamental. Desde que eu li Os Irmãos Karamazov, fudeu. Gabriel Garcia Marquez, Cem Anos de Solidão, que é um clássico. Pirei no livro, depois de 30 anos. Eu recomendo, se não leu, leia, se leu, releia, porque é uma viagem. Lin Yutang, um chinês de quem eu gosto bastante, o Musashi [de Eiji Yoshikawa], que é muito legal. E tem a ver com o personagem do meu livro, porque é o samurai peregrino.

Você recomenda outro livro que misture literatura com esporte?
Primeiro, dizer que o surf é esporte não soa muito bem para mim. Não sei se existe outro esporte que extrapole para o lifestyle. Você joga vôlei, sai da quadra, acabou. Joga futebol, acabou. O surf é muito próprio. Você vive 24 horas por dia isso na sua vida. Ele permeia tudo. Um livro recente e bacana é o Breath [do australiano Tim Winton]. É ficçao, uma história de surf na Austrália. Ele só foi para o universo do surf mais tarde na vida. Para mim, foi exatamente o contrário.

Sessão de autógrafos de O surfista peregrino, de Sidão Tenucci.
Quando: sexta (6/08), das 16h às 18h
Onde: Restaurante O Café (Largo da Matriz s/n, ao lado da Igreja da Matriz, Centro Histórico, Paraty - RJ)
Quanto: gratuito

fechar