por Luiz Alberto Mendes

 

 

 

Ando muito preocupado em me ultrapassar. Não consigo me conformar com o que vou sendo. É pouco. Busco um passo além e, por conta disso, vivo a me estudar, assim com ao espaço em que me situo. Procuro sempre estratégias de lidar com minhas dificuldades. Pensando nisso, comecei a perceber na cultura social, uma cultura de ansiedade. E essa cultura tem me arrastando a uma insatisfação perene.

Principalmente porque essa cultura busca me identificar com aquilo que procura me induzir a sentir e pensar. Tenta me condicionar a um estado único de consciência com todos. Cityzen. Paradigmas e padrões têm sido promovidos, distorcendo valores, para definir o homem como um ser proprietário. Querem me obrigar a ter para ser e ao fim só conseguem me tornar possuído pelo que julgo possuir. Já não é mais para economizar em meu dinheiro, fruto de meu trabalho. Mas também em minha generosidade e alegria; na minha bondade e amizade. Em troca me é oferecido o que se considera conforto e segurança. Na verdade, me individualiza, torna minha vida vazia e cria um abismo imenso entre eu e os outros. Toma de mim a possibilidade de uma relação substancial com as outras pessoas. Sartre firma que "Quando me encontro com o outro, este me toma o mundo e me converte em objeto".

O dinheiro esvazia todos os possíveis obstáculos. Elimina o risco e a possibilidade de uma luta direta com a vida. Garante uma segurança que empobrece de motivos de viver. Então a ansiedade, a insatisfação e a angústia.   

Não sinto e nem sou o que tenho sido incitados a sentir e ser. Sentir e pensar são movimentos daquilo que sou. Quando sonho com algo que me faça sofrer ou me traga algum prazer, gero sentimentos de sofrimento ou de alegria. Ao acordar, como que pôr encanto, toda aquela agonia ou felicidade desapareceu. O alívio ou a frustração são imediatos. Fica claro, então, que o que sinto, não sou eu. Na verdade, tudo o que sinto é relativo ao meu estado de consciência. Estamos situados na existência. Mas situados acima. Num estado de utilização de nossas capacidades. E não como quer o sistema consumista da cultura social: à mercê de suas instigações behavioristas. De modo algum podemos ser separados do que somos de verdade como a estrutura social busca fazer de nós: seres automatizados, induzidos a produzir e consumir.

A psicologia é ciência cuja finalidade seria pesquisar, conhecer e resolver os problemas da psique humana. Tristemente, foi transformada pelo mercado em instrumento de condicionamento e indução do pensamento. Somos incitados a possuir tudo o que aqueles que manipulam o mercado desejam seja escoado de seus estoques. Sem a menor preocupação do que sejam nossas necessidades reais. Querem nos tornar adquirentes, compradores compulsivos. Buscam nos viciar em seus esquemas, tal qual o cão salivante de Pavlov. Os cursos de técnicas de marketing; as práticas de merchandising e o desenvolvimento das práticas subliminares de propaganda, estão ai para comprovar.

Além de explorar e diminuir, esse esquema de idéias invade nossa psique, fragilizando nosso sistema psicológico. Apoiando nossos preconceitos e recalques, reforçando nossos traumas e frustrações, desenvolvendo hábitos nocivos e condicionamentos neuróticos. Busca nos desviar de nós mesmos. Tenta nos desestruturar e fazer de nós o que não somos realmente.

Não podemos viver anestesiados pôr essa massificação de idéias alienantes. Isso nos torna insensíveis, cegos à rudeza do destino dos outros e surdos aos infortúnios que não são nossos infortúnios. Não devemos nos limitar à vida que nos é dada a conhecer pela via social. Porque então já não seremos mais potentes para lutar pôr uma vida mais digna e condizente com nossa humanidade.

Esta mais do que claro que nossa organização social esta subordinada a valores econômicos. O que é uma ameaça imensurável à qualidade de nossa existência. Não podemos sequer aspirar as recompensas que tal estrutura social nos oferece. Porque nos incapacitaria de considerar a possibilidade de uma vida diferente, mais humana e profunda do que essa a que somos quase que obrigados. Somente em negando essa realidade como única, poderemos construir uma alternativa.

Poderemos então ter a chance de experimentar algo diverso e quem sabe melhor. Algo para além da sabedoria convencional fundamentada pôr uma ideologia tecno-científica. Concebida e alimentada pôr privilegiados que se utilizam dela para atingir lucros questionáveis. Devemos acreditar que é sempre possível alterar.

Temos sido o que não somos. Vivemos mergulhados em véus que nos separam de nossa verdade pessoal. Precisamos trabalhar em busca de nós mesmos. Necessitamos examinar véu a véu, questão a questão, resolvendo um a um, até conseguirmos estar diante de nós mesmos. Inventar um módulo existencial que nos transporte para além do que estamos condicionados.

                                  **

Luiz Mendes

11/08/2014. 

       

fechar