por Luiz Alberto Mendes

A importância das escolhas

Há um determinado momento da vida em que sobreviver é quase tudo. Nossa existência esta ameaçada e queremos unicamente escapar. Já vivi isso trocentas vezes e sobrevivi a todas. Sei hoje que não foi totalmente devido a meu esforço pessoal. Claro, foi importante o esforço, não vou negar. Mas por várias vezes ali, no limite da vida, eu me perguntava: como vou sobreviver? Depois, para o que vou sobreviver? E por fim se valia a pena o esforço de sobreviver. E diante das opções apresentadas, várias vezes optei por desistir de lutar. Deixei o barco correr.

Nossas escolhas ditam a natureza de quem somos e de quem queremos ser. Deve haver algo além do que se vê. O caos que vemos pode ser por conta de nossa perspectiva de visão limitada pelas nossas parcas noções de espaço e de tempo. Só dessa maneira explico. Porque mesmo quando me entreguei, ainda assim, as coisas me foram relativamente favoráveis e estou aqui, quase que milagrosamente, vivo e operante.

Depois de 3 meses e meio sendo barbaramente torturado quase que diariamente no DEIC, abriu-se uma opção de escapar daquilo tudo. Meu parceiro, o Bala, surgiu com a idéia de matar alguém no xadrez. Assim seríamos autuados em flagrante de homicídio e a polícia seria obrigada a nos mandar para a cadeia. Acabaria a tortura. Não haveria liberdade para nós. Pela quantidade de processos que tínhamos, seríamos mandados para a prisão de qualquer jeito mesmo. Mas como assim; matar quem? Apresentou um osso de galinha com a ponta afiadíssima: enfiaria no ouvido do primeiro que dormisse. Pedia minha ajuda, sozinho não tinha segurança.

O raciocínio tinha certa lógica. Eu também estava desesperado, em desequilíbrio mental. Haviam arrancado minhas unhas das mãos e dos pés, estava literalmente quebrado, não aguentava mais. Mas matar e matar quem a gente nem conhecia era demais para mim, rechacei a idéia. Preferi aguentar a tortura. Ainda dava para resistir mais um bocado. Dia seguinte ele encontrou outro preso tão ensandecido quanto ele e à noite, efetivamente, assassinaram o primeiro preso que se atreveu a dormir. Bala nunca mais se recompôs depois de cometer esse crime. Virou um atormentado na prisão; enlouqueceu e se enforcou na cela forte da Penitenciária de Araraquara algum tempo depois.

Acabei sendo beneficiado pela loucura de meu companheiro de processos e com ele fui mandado para a prisão. Por lá vivi (ou sobrevivi) 31 anos e 10 meses. Ainda fiz escolhas muito erradas e paguei bem caro por cada uma delas, mas fui aprendendo com meus erros e fazendo melhores escolhas.

 

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