WILLIAM RODRIGUEZ SCHEPIS, 34 ANOS – SANTOS (SP)

O guardião da praia que largou a capital paulista para fundar o Ecofaxina

por Redação em

WILLIAM RODRIGUEZ SCHEPIS, 34 ANOS – SANTOS (SP)

 

Nome: William Rodriguez Schepis

Idade: 34

Localidade: Santos (SP)

O que você transforma: Consciências

O que mais gosta em sua vida: Minha mãe

Sonho: Um mundo sem plástico na natureza

Contato: ecofaxina@gmail.com

Um pouco ao sul do Rio de Janeiro, William Rodriguez Schepis não nasceu em um lugar propício para alcançar o título de Guardião da Praia. Mas cultivou sua vida nesta direção. Natural da capital paulista, viu no pai um exemplo da vida em contato com a natureza desde pequeno, quando já pegava onda, mergulhava e pescava, ao menos aos finais de semana. Em 2006, beirando os 30 anos e insatisfeito com o trabalho na prefeitura de São Paulo, William largou tudo e decidiu investir na faculdade de biologia marinha na Universidade Santa Cecília (Unisanta), em Santos.

A satisfação de viver próximo ao mar foi logo substituída pela tristeza em ver a quantidade enorme de lixo na praia. “Que tal fazer um campeonato de surfe para os alunos da biologia marinha da Unisanta?°”, pensou. Foi lá com dois amigos e fez. No segundo ano, conheceu um professor de cursinho e ex-vereador ambientalista e decidiu realizar um mutirão de limpeza. Foi este o encontro que mudou a sua vida. O professor, Fabião Nunes, lhe disse que precisava, na verdade, era conhecer o mangue, a verdadeira origem do problema.

Schepis até conhecia o mangue de Bertioga, mas este era intocado. O calendário romano marcava o ano de 2007 quando ele foi levado pela primeira vez às comunidades de palafitas em manguezais na zona noroeste de Santos – localidades conhecidas como Dique da Vila Gilda, Mangue Seco, Butantã e São Manoel, onde vivem sobre as águas, ao todo, cerca de 30 mil pessoas. Trata-se de um grande conglomerado, sem divisão física, com muita sujeira e praticamente nenhum serviço público.

“Quase ninguém tem noção do que realmente acontece ali. Poucos têm a dimensão do problema socioambiental daquela região. Não há coleta de lixo pois o local é considerada área de invasão, e a população sequer entra no senso populacional. Quando eu surfava, eu via o lixo no mar e pensava: isso deve vir de outro lugar, não é possível que seja das areias. Ao chegar pela primeira vez nas palafitas vi que o trabalho seria bem mais complicado do que apenas sensibilização com ação voluntária”, afirma. 

Foi assim que em 2008 o rapaz apaixonado por recifes de corais, e que sonhava em trabalhar com eles, fundou com mais seis amigos da faculdade de biologia marinha o Instituto Ecofaxina, que em cinco anos de vida já realizou 39 ações de limpeza dos mangues, com um total de 25 mil quilos de resíduos sólidos coletados. Para alcançar estes números, já foram cadastrados 836 voluntários, uma média de 22 por evento. Quando a comunidade a ser visitada é mais longe do centro de Santos, a atividade é agendada para os domingos com a parceria da Terracom, empresa de limpeza urbana que cede o transporte. Geralmente, elas acontecem de 1 a 2 vezes por mês, com alimentação e certificado de participação.

Os voluntários, na maioria alunos de escolas e universidades da região, retiram muitos resíduos dos mangues – grande parte já desmatado, outros ainda com vegetação -, com ênfase para os eletrônicos. Schepis explica, no entanto, que isto é muito pouco em comparação ao que é descartado diariamente. Ao mesmo tempo, além da limpeza, há um profundo trabalho de educação ambiental da população, principalmente com as crianças, menos resistentes do que os adultos, durante as ações. E estes resultados são perceptíveis na mudança de comportamento de algumas famílias.

Ao procurar a origem do problema de poluição nos mares e nas praias, William e o Ecofaxina se depararam com uma necessidade mais urgente: a de divulgar a realidade das palafitas para a população santista tomar conhecimento e cobrar a realocação destas pessoas em conjuntos habitacionais.

Enquanto este momento não chega, a ONG escreveu no já longínquo ano de 2009 o projeto “Sistema ambiental de coleta de resíduos”, que consiste na formação de uma frente de trabalho com jovens da região para a realização de limpeza, promoção da recuperação ambiental e geração de renda através dos resíduos que seriam descartados não apenas no mangue, mas em toda a margem estuarina da ilha de São Vicente.

Ele ainda não saiu do papel por falta de financiamento, mas é no que William deposita suas esperanças de, na prática, mudar a realidade das comunidades de palafitas e da qualidade da água e biodiversidade do estuário de Santos.

O mais incrível? O Instituto vive apenas de doações, seja de recursos financeiros ou de materiais, como Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), usados pelos voluntários na limpeza. 

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