Vai fazer o que hoje à noite?
Um novo nome choca o mundo do big surf e desce uma onde de 40 pés em Jaws, à noite
Que tal descer uma onda de 40 pés? Foi o que o australiano Mark Visser fez em janeiro último, entrando pra história como o primeiro homem a surfar Jaws, no Havaí, no breu total
Vinte de janeiro de 2011, duas da manhã. Mark Visser já estava havia 45 minutos no mar, tempo suficiente para os olhos se acostumarem à escuridão completa e começarem a distinguir sombras e formas. Chegava a hora. Um paredão de 40 pés de altura de água erguia-se rápido atrás dele. O jet ski acelerou, Mark entrou na onda – e, 30 s mais tarde, entrava também pra história. Pela primeira vez no mundo, um homem surfava Jaws à noite. “É muito estranho fazer algo que ninguém nunca fez, pois não há nenhuma referência do que pode dar certo ou errado. Por mais que eu houvesse me preparado, na hora simplesmente deixei rolar”, revela o australiano de 28 anos por telefone, diretamente de Brisbane.
Para os menos iniciados no esporte, vale situar: Jaws é uma praia em Maui, no Havaí, famosa e temida por suas ondas que podem chegar ao tamanho de um prédio de quatro andares. E, se à luz do dia domar esses gigantes já é uma tarefa para poucos, imagine fazê-lo no escuro, situação em que a maioria dos mortais mal consegue dar um passo à frente sem titubear. Foi como surfar cego, Mark? “Exatamente”, ele responde, e completa: “Foi a experiência mais assustadora e excitante da minha vida. Tive que aprender a crer no desconhecido, a confiar nos meus sentidos. Eu e a onda viramos um só”.
Mark é maluco, sim, mas não tanto. Com a ajuda de três técnicos (entre eles, Anthony Williams, um dos maiores mergulhadores do mundo), passou dois anos se preparando para o desafio, numa rotina digna de astronauta prestes a embarcar para o espaço. Com o céu já escuro, era levado de helicóptero até alto-mar, tendo de achar o caminho de volta sozinho e nadar horas até chegar à areia. Em outro treinamento, a equipe colocava-o vendado e de cabeça para baixo em uma caverna submarina e Mark, que diz conseguir ficar até 6 min sem respirar debaixo d´água, tinha que encontrar a direção até a superfície.
Blade-runner
O clima de Nasa da operação continuou na confecção da roupa e da prancha utilizadas. Mark dá os detalhes: “A ideia inicial era pôr a luz no capacete, apontando para a frente, mas não funcionou, não dava para ver um palmo do meu nariz. Descobrimos que a luz tinha que ser direcionada para trás, para refletir na própria água. Colocamos então uma na minha roupa e outra na prancha. Infravermelho, que era para não ofuscar minha visão”. O resultado poderia perfeitamente ser uma cena de surf do filme futurista Blade Runner – caso houvesse uma.
A peripécia foi a primeira de outras nove que Mark pretende realizar, todas elas nunca antes feitas. Juntas elas formarão o documentário 9 Lives, com lançamento previsto para o fim deste ano ou início do próximo. Ele não revela de jeito nenhum quais serão as próximas proezas, apenas que, assim como esta, “envolvem surf e tecnologia”. “O objetivo do filme é mostrar que nada é impossível se você treinar da maneira certa. Quero inspirar as pessoas a serem o melhor que elas puderem ser, desde executivos até surfistas”, conta o surfista, cujos ídolos são Michael Jordan e Muhammad Ali e “qualquer outra pessoa que fez mais do que era exigido dela”.
Até muito pouco tempo, Mark Visser era apenas mais um dos inúmeros big riders que há por ai. Mas, desde o feito inédito, ganhou a alcunha de “Night Rider”, e seu nome inundou blogs e revistas de surf mundo afora. O que ele acha da fama recente? Modesto, Mark diz que só foi assistir ao vídeo que o consagrou três dias antes da entrevista: “Vi um pouco na própria câmera depois que saí do mar. Depois esqueci, já mergulhei nos preparativos para a próxima aventura. Não ligo para sucesso, quero apenas fazer as coisas que quero fazer”.