Salve o poeta João de Barros!

por Luiz Alberto Mendes em

Incompletude

 

A gente vive a vida toda pensando e sentindo algo com todas as forças de nosso ser, e, de repente, num piscar de olhos, uma imagem, algumas palavras, e uma poesia vem mudar tudo...

Sempre achei que algo me faltava e vivi todos os meus mais de 60 anos em busca de algo que nunca soube o que fosse e nem a que distância estava de encontrá-lo. Sempre me senti incompleto e achava esse um dos maiores problemas de minha existência. Faltava algo e aquilo me fazia revirar o já revirado em busca de um fio de entendimento no tempo. Tentei de todo jeito. Procurei nas religiões, nas várias teologias; católica, protestante; nas visões de mundo de vários filósofos; correntes filosóficas; espiritualismo; filosofia oriental; ocultismo; teosofia... Devorei livros, devassei bibliotecas, "fucei" para todo lado atrás de algo que devia estar mas não estava e nada me explicava.

Sempre senti que algo faltava, mas ao ler um poema de Manoel de Barros afirmando que: "A maior riqueza do homem é sua incompletude", percebi que quando a razão não atinge, a poesia acerta em cheio. Acho que só então entendi e comecei a mudar de idéia. É aquela velha história difícil de entender: a vida é tanto o caminho quanto a caminhada. Caminhar é preciso, viver não é preciso, parodiando o poeta português. A incompletude nos move, exige de nós renovações, largos questionamentos e busca de novos horizontes. Podemos, por ainda estarmos incompletos, sonhar com um amor que dará maior sentido à nossa vida; com um novo trabalho que nos dê melhores condições de viver; uma vida mais justa; uma humanidade mais generosa e um novo sonho...

Caso não fôssemos incompletos, não sonharíamos, não procuraríamos nada ou faríamos qualquer coisa significativa. Estaríamos fechados,  encerrados e... completos! Completude agora me sabe a sinônimo de imobilidade, estagnação e paralisia mental. Estou muito bem com esse enorme, infinito espaço que há entre mim e o que me completaria. Começo até a querer pluralizar e ampliar esses espaços e torcer por ser incompleto até o fim de meus dias.

Salve João de Barros, grandioso poeta da existência!

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Luiz Mendes

12/08/2014.

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