Álbum de viagem
Ronaldo Lemos passou três intensos meses na China e descobriu um país tão diverso quanto complexo. Aqui, ele divide um pouco sobre a sua experiência e os lugares que visitou
Nanquim – Razão e fé
A cidade já foi a capital da China, antes dessa posição ser transferida para Pequim. É onde passado e presente convivem o tempo todo. Essa foto foi tirada no Grande Templo Bao’em, que é, ao mesmo tempo, um museu e um local sagrado de peregrinação budista. Nunca tinha visto uma instituição que concilia, na maior harmonia, razão e fé. Essas aparentes contradições são características na China. Um país socialista, mas que aplica o capitalismo de forma mais profunda e competitiva que o Brasil. Um lugar de uma modernidade impressionante, mas com um lastro profundo na história.
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Pequim – Lost in Translation
Fui cortar o cabelo e fazer a barba em Pequim, depois de muitas semanas sem tempo para fazer isso. Como era esperado, o barbeiro não falava uma palavra em inglês e eu tive de me virar em mandarim para explicar o que queria – o resultado você confere na foto. O estilo Kim Jong-un não era exatamente o que eu queria, mas o corte foi feito com tanta dedicação e esmero, que saí satisfeito. O curioso é que, depois de fazer minha barba, ele me agradeceu muito por ter lhe dado essa tarefa. Foi a primeira vez que teve a chance de cortar uma barba do tamanho da minha, já que a maioria dos chineses não tem têm muitos pelos no rosto.
Dengfeng – Berço do Kung fu
Depois de terminar as filmagens do Expresso futuro, fui para o interior do país, mais precisamente, para a cidade de Dengfeng, o berço do tai chi chuan e do kung fu na China. Essa foto foi tirada no templo Shaolin, onde nasceu a mais conhecida arte marcial chinesa. A experiência de estudar kung fu diretamente da fonte, na famosa escola Tagou, foi transformadora. Nunca tinha visto uma experiência de disciplina, dedicação e, por que não dizer, sofrimento, tão grande. A foto, na qual uso o uniforme da escola, ilustra um momento desse breve período em que fui um dos 10 mil alunos do lugar.
Qingdao – Fábrica de Trem-Bala
A principal fábrica do trem-bala chinês fica em Qingdao, que já foi uma área de colonização alemã e é famosa, até hoje, pela fabricação de boas cervejas. O trem-bala é o maior símbolo da modernização do país. Há 11 anos, na Olimpíada de Pequim, a China tinha apenas 100 quilômetros de linha. Hoje são 29 mil. O meio de transporte viaja a 350 km/h e integra regiões bem distantes. Há muita gente que trabalha em Xangai, por exemplo, e mora a 400 quilômetros da cidade – um trajeto que é feito em cerca de uma hora no trem-bala. Se tivéssemos uma rede desta no Brasil, levaríamos apenas 1h30 para ir do Rio a São Paulo e um pouco mais de cinco horas no trajeto entre a capital paulista e Salvador.
Hangzhou – A casa do Alibaba
A cidade é considerada o “céu na terra” por causa de sua beleza. E, de fato, o Lago Oeste, onde essa foto foi tirada, é realmente espetacular. A cidade também é sede do grupo Alibaba, empresa que vende mercadorias chinesas para o mundo todo e uma das mais valiosas do planeta, avaliada em cerca de US$ 400 bilhões. Seu fundador, o empresário Jack Ma, costumava ir todos os dias ao Lago Oeste para puxar papo com os turistas estrangeiros e treinar o seu inglês. Deu certo. Hoje não só ele domina o idioma, como criou uma das maiores plataformas comerciais da história.
Xangai – Inspiração para outras metrópoles
A torre Pérola Oriental [foto] é um dos grandes símbolos de Xangai. A cidade de 24 milhões de habitantes se destaca das outras pelo planejamento urbano. Há vários viadutos para pedestres, por exemplo, que podem circular tranquilamente nos elevados enquanto os carros passam lá embaixo. A área em torno do rio Huangpu, que corta a cidade, também merece destaque: é uma das mais agradáveis do planeta, com uma andabilidade espetacular. A China tem 1,4 bilhão de habitantes e, por causa disso, teve de se preparar como nenhum outro país para o fenômeno da hiperpopulação. Várias dessas soluções são interessantes para inspirar outras metrópoles globais.
Shenzhen – mobilidade é coisa séria
Shenzhen era só uma vila de pescadores há 30 anos e hoje é uma cidade de 12 milhões de habitantes, pontuada por inúmeros arranha- céus. Seu metrô é maior que o de São Paulo e o do Rio somados, o que deixa os visitantes brasileiros suspirando. Até cidades consideradas pobres na China têm sistemas de metrô maiores que o de metrópoles brasileiras. Transporte público e mobilidade são tratados como coisa séria no país. Peguei vários ônibus urbanos e a tarifa sempre ficava em torno de 30 centavos de real. Ah, e idosos e estudantes não pagam.
Créditos
Imagem principal: Arquivo pessoal