Walk the talk

"Não se trata apenas de respeitar o diferente, mas de conviver e conhecer o mais intensa e profundamente possível o que não nos representa"

por Paulo Lima em

Por um lado, para nós esta é uma edição com grande ineditismo. É a primeira vez que a Trip mergulha de cabeça na China. Claro que, ao longo dessas décadas, estivemos muitas vezes daquele lado do globo, especulando sobre a vida numa das mais impressionantes e misteriosas nações do mundo, mas nunca com tempo e dedicação de tanta gente para, de fato, tentarmos um retrato com mais contornos e cores.

Se regularmos o foco de outra posição, porém, não é nada muito diferente daquilo que fazemos desde os nossos primeiros dias de vida: observar, com interesse genuíno, aquilo que é intrinsecamente diferente de nós. Talvez esse exercício nunca tenha sido tão necessário no Brasil e no mundo. Um olhar desarmado para quem carrega outras referências, tentar enxergar, sem preconceitos e medos, formas de pensar e de viver, numa primeira análise, diametralmente opostas às que nos foram apresentadas desde o berço. Essa pode ser a única saída para nos afastarmos da intolerância e do ódio que insistem em nos rodear.

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Assim, de guarda baixa e olhos e ouvidos aguçados, nos unimos a um pequeno exército de pessoas interessadas em deixar a intermediação duvidosa de lado e ir sem escalas à fonte, atrás de toda a pluralidade contida na nação mais populosa do planeta. Fomos conhecer e aprender sobre as raízes, os valores, os problemas, as soluções, as angústias, as alegrias, as diferenças e principalmente as semelhanças que afloram entre as fronteiras de quase 10 milhões de quilômetros quadrados e que se refletem na geografia de desertos, florestas e altas montanhas.

Como mais de 1,3 bilhão de pessoas convivem com um governo autoritário e opressor, que impõe sua ideologia e persegue opositores, mas alcança índices de crescimento econômico indescritíveis e grau de evolução tecnológica sem precedentes? Um país de contradições: costumes que podem ser entendidos como extremamente arcaicos sob a óptica ocidental lado a lado com outros que chocariam o mais iconoclasta europeu ou americano; graves índices de poluição ambiental com soluções extremamente modernas para problemas do gênero, como o redesenho das principais matrizes energéticas, algo que nenhuma outra nação conseguiu resolver na mesma razão de agilidade e eficácia.

Aquilo que gostamos de dizer por aqui: não se trata apenas de respeitar o diferente, mas de conviver e conhecer o mais intensa e profundamente possível o que não nos representa, porque é exatamente aí que encontramos nossas melhores definições.

Créditos

Imagem principal: Pedro Arieta

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