O FUTURO DO NEGÓCIO DA MÚSICA
Confira texto que fiz para o blog do Guilherme Werneck no site do Estadão.
O tripé formado por casas de shows e clubes, artistas criativos e divulgação via internet garante uma cadeia econômica independente que gera empregos e faz o músico viver da sua arte, o que no passado recente era exclusividade dos queridinhos das gravadoras.
O fenômeno acontece no mundo todo em cidades cosmopolitas e é reflexo da nova ordem musical, pós decadência do mercado fonográfico. Todas as noites novos talentos despontam e formam público pela noite de São Paulo, em clubes de Lower East Side, em Nova York, Shoreditch, em Londres, ou no Mitte, em Berlim.
Diante do atual cenário é comum ouvir queixas de representantes de gravadoras e empresários vinculados a eles, insistindo que o mercado musical está parado, sem criatividade, demonstrando desconhecimento e certo pouco caso sobre o que acontece nas noites das grande cidades.
Existem diferentes olhares para o processo cultural. O olhar da indústria fonográfica é aquele de cima pra baixo, que se acostumou a fazer grandes números, amparado por uma indústria que monopolizava produção e distribuição de conteúdo, vendia discos, comprava as mídias, fazia o sucesso acontecer.
As bandas que formam seu público e vivem de música, cantando suas próprias composições para o universo de fãs formados pelo MySpace e pelo Facebook, e movimentos musicais de descentralização e ocupação de novos espaços têm outro olhar sobre o processo cultural: aquele de baixo pra cima, que percebe a vitalidade e a capilaridade de um novo modelo, de uma nova cadeia produtiva.
Por outro lado, o movimento político da música foi revitalizado por novos atores que, entendendo a brecha da fragilidade do mercado, iniciaram a discussão sobre que políticas públicas queremos para a arte mais popular do Brasil. Entre os mais ativos estão o Circuito Fora do Eixo, que estimula o investimento público nas localidades distantes de São Paulo e Rio de Janeiro e a ABRAFIN, entidade que reúne os festivais de música independente do país. Novas inicitivas como as CASAS ASSOCIADAS - reunião de casas de pequeno e médio porte de todo país que pretente criar um circuito nacional de circulação da nova música – prometem agitar ainda mais o poder público, de olho no suporte para todo esse universo.
Hoje em dia, a FUNARTE, o Ministério da Cultura e empresas como a Petrobrás já estão totalmente inseridos nesse contexto e uma grande movimentação que une entidades e setor público já deu origem a Rede Música Brasil, espécie de fórum permanente para discussão sobre projetos estruturantes para a música.
O futuro da música no Brasil passa pela compreesão desse novo modelo “de baixo para cima e capilar” que cresce a cada dia nos centros urbanos e que cria verdadeiras micro economias capazes de sustentar as cadeias produtivas da música. Passa também pela capacidade de organização do setor para pleitear o investimento público que fomente o setor.
Além disso, o negócio da música também está inserido em uma visão mais abrangente do tipo de desenvolvimento que queremos para o país. Tanto as experiências privadas que ativam o mercado musical como a necessidade de um olhar diferente para as políticas públicas de estímulo ao setor, podem estar inseridos no amplo debate sobre a Economia Criativia: como a música, como uma das expressões mais claras da criatividade, pode ser um dos eixos de desenvolvimento econômico, transformação urbana e inclusão social. Para tanto, é fundamental que esse negócio da música seja mapeado e calculado, para entendermos o quanto ele poderá se expandir e participar com força da economia do país.
Considerando que o Brasil é talvez o país mais musical do mundo, pode-se imaginar o futuro de possibilidades que temos pela frente se tivermos a cabeça aberta para esse tipo de visão de que nossa economia também pode ser baseada na criatividade.