Luiz Amorim, o Amante dos Livros
O Amante dos Livros
Fui contratado para falar em um Sarau Cultural em Brasília. Essas eram todas as informações que eu possuía. Meti as caras. Daria o melhor de mim, estava confiante. Do aeroporto segui direto para o hotel. No caminho, me ligaram da TV Senado. Queriam entrevista, aproveitando a oportunidade. Ficou certo que me pegariam no hotel.
Já no aeroporto gostei muito da decoração. Jardins com espelhos d’água sempre me impressionaram. Só deu tempo de tomar banho e o pessoal da TV Senado já estava me procurando. Passamos pela Explanada dos Ministérios. Tudo parecia mais acanhado que o imaginado a partir das fotos e da TV. Esperava algo grandioso e era só grande. Fui sendo conduzido, penetrando ao fundo no prédio do Congresso (a TV Senado é lá dentro). Entrevistado, consegui colocar algumas coisas interessantes. Nem sempre consigo. Quase sempre saio frustrado das entrevistas.
Francisca, a contratante, veio me buscar no hotel. No percurso foi informando. Tudo havia começado com Luiz Amorim. Trabalhava guardando carros em frente ao açougue. Entrou como ajudante e, após anos de trabalho e aprendizado, acabou por adquirir o açougue.
Luiz aprendeu a ler adulto. Acabou por se apaixonar pela palavra e casou-se com livros. Começou distribuindo livros aos clientes. Em seguida montou biblioteca dentro do próprio açougue. A inspeção sanitária quis fechar. O povo de Brasília comprou a briga e o açougue empresta livros até hoje. Tanto que o nome é Açougue Cultural T-bone (www.t-bone.com.br).
Foi o Luiz também quem teve a idéia de montar um Sarau Cultural na larga calçada do açougue. Ainda hoje o Sarau (onde falei) toda quinta traz música, poesia e um escritor de outro Estado para conversar. O homem é um produtor cultural e tem muitos projetos em andamento.
Um dos projetos é o das mini-bibliotecas nos pontos de ônibus. Uma grande sacada. Muita gente lê dentro de ônibus. É uma nobre maneira de aproveitar o tempo. As pessoas se servem dos livros, lêem e devolvem depois. Devolvem mesmo e até doam outros. Tornam-se conscientes da importância do projeto. Luiz falou em cerca de 200 mil livros colocados em circulação por esse projeto. É uma grande realização cultural em um país de não leitores como o nosso.
Falei um pouco com as pessoas acomodadas em cadeiras de plástico. O calor humano do povo ali presente era contagiante. Cheguei a me empolgar em determinados momentos. Gostei de conhecer Brasília. Não tem aquela pompa que a imaginação da gente carrega. Ainda são seres humanos por lá. Mas gostei particularmente de conhecer Luiz Amorim, o amante dos livros. Uma alma nobre.
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Luiz Mendes
25/10/2010.