Uma vida em comum
Sou alguém da Trip, esse é meu pertencimento. Caso eu não seja encontrado em lugar nenhum, nesta revista saberão de mim
Eu tenho muito a celebrar nesses anos todos que enraízam a revista Trip na cultura paulistana. Mesmo que eu quisesse fingir uma modéstia que, evidentemente, não tenho, este não é o lugar. Eu colaboro com a revista. Recentemente, fiz uma seleção de textos dos 16 anos de crônicas que publiquei em minha coluna na revista, e estou montando um livro que será publicado pela editora Pentalux.
Precisei rever e revisar centenas de artigos. Foi trabalhoso, mas tive a oportunidade de fazer uma retrospectiva do conjunto de minha produção e uma coisa ficou clara: dei o melhor de mim. É o meu sentimento ao reler; escrevi com amor, com todo o capricho que era capaz naquele momento. Ainda hoje, porém, quando chega o e-mail do editor dando o tema do mês, forma-se uma pressão aqui dentro e eu tremo.
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Depois de 16 anos trabalhando como escritor, escrevendo tudo que se possa imaginar, tenho livros autobiográficos, romances, livros de contos, de artigos, peça de teatro, roteiro de cinema, projetos educativos, e vai sair agora esse de crônicas. Pois é, mas ainda tremo na base quando vou escrever para a revista. Vivo grudado aqui no computador, nestes livros e cadernos, escrevendo, revisando, mergulhado em textos por cerca de dez a 12 horas por dia. Almoço, é claro, tomo café de litro, mas só saio de casa a trabalho ou para ir ao hospital. Mesmo assim, escrever este texto da Trip é difícil, extremamente difícil.
É preciso sinceridade, como agora. O publisher é sujeito da minha máxima consideração, acreditou e investiu em mim durante dois anos antes de eu sair da prisão. Foi me conhecer e oferecer a coluna. Tudo o que escrevo aqui é caprichado. Leio, releio e só solto ao editor quando estou satisfeito. Gosto da revista, leio todas de cabo a rabo. O Paulo me passou a ideia de que eu também era importante nas premiações e no crescimento da publicação. Sou alguém da Trip, esse é meu pertencimento. Caso eu não seja encontrado em lugar nenhum, nesta revista saberão de mim. E quase não vou até lá, na editora.
Minha casa, minha vida
No ano retrasado, fui homenageado com o prêmio Trip Transformadores por meu trabalho. Foi ótimo! Fiquei muito feliz e incentivado, principalmente por conta da unanimidade na votação.
Aprendi muito. Entrevistas loucas, perguntas pertinentes. Já entrevistei pela revista, escrevi longas matérias, fiz viagens incríveis, tive e tenho uma vida boa na revista. No entanto, não sei se soube aproveitar bem, nem se no momento estou escrevendo algo relevante ou um monte de bobagens. O fato é que a Trip está em minha vida como se eu fizesse parte dela. Quem me conhece sabe que a revista é minha casa – isso que é legal, ela foi e é casa de muita gente boa, um lugar onde muitos começaram de verdade. Meu filho passou praticamente todo o tempo da faculdade trabalhando na área de TI da revista. Hoje ele é programador de computadores e ganha quatro vezes mais do que eu.
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Lembro-me da época em que a redação ficava na rua Lisboa. Era um casarão enorme, adorava estar ali, no meio das meninas da produção. Cheguei a exagerar, incomodava, minha energia era excessiva. Estava louco de liberdade, mas meu texto agradava; para escrever, aquela era a energia ideal. Claro que hoje escrevo de uma forma diferente da que escrevia no meu começo, imagino que melhor. Mas quero sempre mais. Busco ainda a comunicação mais clara e simples e não apenas o texto bonito, como agora estou procurando arrancar intimidades da minha relação com a revista. Para mim, tudo é muito pessoal.
Confio no Paulo, sei que ele é o timoneiro certo para navegar nesses mares procelosos e nos conduzirá, na revista, pelos futuros que vierem. E tem o Trip TV, que aponta para o futuro. É possível fazer uma televisão inteligente, surpreendente e ainda por cima fantástica? Com jornalistas verdadeiros, e não apenas porta-vozes do patrão? Gente que não se rende à ameaça e não se vende? Foram 32 anos que precisam continuar dourados.